Se você pensar em dupla sertaneja, certamente virá à sua cabeça a imagem de dois homens. Isso porque a música sertaneja brasileira sempre teve mais espaço para vozes masculinas, especialmente das duplas. Apesar do sucesso de cantoras como Irmãs Galvão, Roberta Miranda e Paula Fernandes, a presença feminina no estilo sempre se deu de forma mais pontual. Mas, nos últimos tempos, algo mudou. Marília Mendonça, Simone & Simaria e Maiara & Maraísa estão no topo das músicas mais executadas, há meses, e outros nomes estão despontanto. 

Um movimento dominado por mulheres começou a ocupar o cenário nacional e tem chamado a atenção por cantar sobre temas que não eram comuns serem cantados por elas. Traduzindo: agora, as mulheres são sujeitos, no sertanejo, e não mais apenas objetos. “Antigamente, o lugar da mulher era ficar em casa, lavando roupa, sofrendo, enquanto o homem ia cantar sobre isso. Agora, ela está no palco fazendo igual”, diz Karen, da dupla com May, duas paulistas que vieram para Goiânia para conquistar um lugar ao sol, no mercado da música sertaneja. A dupla se apresenta, amanhã (10), em uma casa de shows da cidade.

 O exemplo de May & Karen ilustram bem o chamado ‘feminejo’, mistura de sertanejo com feminismo. Naturais de São Paulo, capital, as meninas iniciaram a carreira em dupla em 2013. “Nós participamos de um programa de calouros e ficamos amigas. Começamos a cantar de brincadeira,  nas festas de amigos, mas as pessoas diziam que nossas vozes casavam muito. E, em um dia, conhecemos o Fernando Gabriel, nosso atual empresário, e ele deu a ideia: ‘Vamos parar de brincar e fazer isso de verdade? Vamos ganhar dinheiro?’. E estamos juntas desde então”, contam, as duas, que costumam uma completar as frases da outra.

Mãe da Yasmin de 4 anos, May começou a cantar com 6. Aos 10 anos, passou pelo programa de calouros Código da Fama e, aos 14, começou a cantar profissionalmente. Com 16 anos, May participou de outro concurso de calouros e, logo em seguida, seguiu carreira em bandas de baile, onde obteve grande experiência com o repertório diversificado variando entre os ritmos de MPB até o rock, passando por pop, internacional e outros. Cursou um ano de teatro na escola de atores Wolf Maya.

A cantora, de 22 anos, conta que já enfrentou o machismo de namorados que não entendiam que ela é uma mulher independente, que batalha em sua carreira. “Já teve homem grilado porque eu queria pagar a conta, vê se pode!”, diz. Com a dupla, também já ouviu de donos de casas de shows que “mulher não tocava lá, pois não dava público”. A quantidade de fã-clubes espalhados pelo Brasil, os shows lotados e as redes sociais da dupla, com milhares de seguidores,  parecem não concordar. “Desse público, a maioria absoluta é de mulheres. Elas adoram as músicas e as mensagens que a gente passa”, conta Karen, que também tem uma história parecida de enfrentamento ao machismo, como mulher e como artista.

Karen começou a cantar com 6 anos. Aos 8, montou uma banda com seu irmão mais velho, e começaram a carreira na música. Foi também aos 8 anos que Karen começou a se tornar musicista ao tocar piano, violão, guitarra e contrabaixo. Com 10 anos, assinou um contrato de um ano com o SBT, e permaneceu esse tempo como uma das crianças do programa Pequenos Brilhantes, que era apresentado por Moacir Franco, onde os pequenos cantores se apresentavam ao lado dos grandes da época. 

Os irmãos cantaram, durante 10 anos, nas ruas de São Paulo, em praças públicas e em alguns barzinhos da cidade. O repertório da banda era diversificado, ia do MPB ao pop rock, passando pelo sertanejo e forró. Cinco anos após o começo, Karen gravou 2 DVDs independentes com seu irmão. Aos 18 anos, encerrou essa parceria e, então, deu início à escola de teatro Macunaíma, em São Paulo e, aos 19, começou a faculdade de Direito – formou-se em 2013 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ela conta que teve de ouvir do pai e de ex-namorados que, por ser mulher, ela não deveria persistir nessa coisa de ser artista. 

Dentre os vários planos da nova parceria, está a gravação do primeiro DVD da carreira de May e Karen. No momento, a dupla está focada em escolher o repertório para o trabalho que começa a ser gravado no próximo mês. A dupla também gravou o clipe Coração de Osso com a participação de Naiara Azevedo.

Com direção de Caverna Filmes, o vídeo chegou, em seu primeiro mês, em mais de dois milhões de visualizações no Youtube. Em Goiânia, elas começam a trilhar um caminho aberto por outras cantoras e duplas. Se depender dessa geração, as mulheres terão tanto espaço quanto os homens e, quem sabe, daqui a uns anos, não precisem reforçar que trata-se de uma dupla ‘de mulheres’. A música falará mais alto.

SERVIÇO
Show com a dupla May & Karen 
Participação de Naiara Azevedo e João Neto & Frederico
Quando: 10 de novembro (quinta-feira)
Onde: Santafé Hall (Avenida 136, nº 222, Setor Marista – Goiânia). Horário: 22h10
Ingressos: A partir de R$ 40 (www.santafehall.com.br)