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quinta-feira, 28 de novembro de 2024
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Irreverência

“Eu gosto de provocar positivamente”

Consagrada humorista Cida Mendes sobe ao palco mais uma vez em Goiânia

Postado em 10 de novembro de 2016 por Redação
“Eu gosto de provocar positivamente”
Consagrada humorista Cida Mendes sobe ao palco mais uma vez em Goiânia

Natália Moura 

A personagem de humor Concessa – interpretada pela atriz Cida Mendes – faz parte do imaginário de muitos brasileiros. A típica mulher do interior criada por Cida, há 18 anos, consegue alegrar a plateia sem utilizar uma comédia batida e preconceituosa. Concessa, na verdade, tem muito a ver com a vida da  própria humorista, natural de Pará de Minas (MG). Cida, depois do enorme sucesso de Concessa – em redes de televisão e no teatro –, fez a viagem de volta ao interior. Em Paracatu (MG), onde vive agora, comanda seu próprio restaurante de comida típica às margens da rodovia. Ela só sai de casa para cumprir os compromissos, a agenda de espetáculos e gravações. 

Em seu mais novo espetáculo, Concessa em Defeito Estufa, que estreia hoje (10) em Goiânia, a personagem agora está com pouco mais de 50 anos de idade e sofre com a passagem do tempo. O efeito estufa surge como metáfora à menopausa da personagem que, cansada da cidade grande, da violência e do consumismo exagerado, volta a morar no interior. O inconveniente mal- estar que aflige as mulheres de sua idade vem acrescido dos problemas dos filhos já adultos: desemprego, separação, dificuldades de toda ordem e a preocupação com os netos. No palco, Concessa já falou sobre a família, os filhos e o marido.  Também discutiu temas polêmicos como gravidez na adolescência, primeiro emprego, estudos, amigos e o namoro dos filhos. 

A personagem já conquistou plateias no País inteiro e até no exterior – Concessa já esteve até na Alemanha.  Com humor simplório, Cida consegue, em sua personagem, resgatar valores, e envolve o espectador em reminiscências, emocionando principalmente as pessoas que têm suas raízes fincadas no interior. Tudo isso livre de preconceitos: Concessa não agride o público, nem se utiliza de linguagem chula para falar o que quer para pessoas de todas as idades, raças, religiões e culturas. O primeiro espetáculo de Cida Mendes, nomeado Concessa Tecendo Prosa, estreou no Zabriskie Teatro, em Goiânia, em 1997.
 
Cida atuou com sua personagem nos programas Turma do Didi, Escolinha do Barulho, Programa do Gugu e muitos outros. Participou de filmes ao lado de atores consagrados em A Enxada, O Tronco e Uma Vida em Segredo – filmados em Goiás. O sucesso da personagem no teatro garantiu à atriz o primeiro lugar no Prêmio Nacional Multishow de Humor, turnês em várias cidades e lugar na televisão. A atriz mineira Cida Mendes retorna a Goiânia no palco do Teatro Sesi, com o espetáculo Concessa em Defeito Estufa, às 19h desta quinta-feira (10). O texto é escrito por ela mesma e dirigido e produzido por Consuelo Ulhoa. Confira, abaixo, uma entrevista que o Essência fez com Cida.

SERVIÇO
‘Concessa em Defeito Estufa’, com Cida Mendes
Quando: Hoje (10 de novembro)
Horário:  19h
Onde: Teatro Sesi (Setor Santa Genoveva – Goiânia)
Entrada: Doação de 2 kg de alimentos ou 
de um livro literário

Entrevista CIDA MENDES
Sobre o que se trata o espetáculo Concessa em Defeito Estufa? Como é o diálogo entre os problemas ambientais (efeito estufa) e os da personagem?
A Concessa está voltando para o interior, porque, no espetáculo anterior, ela vinha para a cidade grande – esse movimento que a gente faz: vem para a cidade, para o filho estudar, consumir. Ela está com quase 60 anos e está na menopausa, que é o ‘defeito estufa’ dela. Ela chega como se fosse numa palestra e fala sobre os problemas dela, das mulheres e do planeta. E compara: ‘É um buraco na minha camada de hormônio’. Ela está de volta ao interior, está cansada de consumir, sentindo um vazio. E volta em busca de uma vida mais próspera. 

O público já conhece Concessa há 18 anos. Como foi o processo de amadurecimento dessa personagem e como isso pode ser visto no seu novo espetáculo Concessa em Defeito Estufa?
Ela é o meu clown (“palhaço”). Quando eu a criei, fiz um trabalho de palhaço com ela, essa coisa de se liberar, de rir dos próprios erros. E eu deixei o tempo agir na Concessa como agia em mim como mulher. No primeiro espetáculo, ela falava do nascimento dos filhos. No segundo, da preocupação dela com esses filhos. Agora, a menopausa, o ninho vazio. Acho que o próximo espetáculo deve ser infantil, com a Concessa contando história para os netos. Quando ela estreou, eu pensei em colocar um nariz, mas eu cheguei à conclusão de que o nariz vermelho dela são os bobes. Nem todo clown precisa de nariz. Chaplin não tinha, nem Mazaroppi.

Nos palcos e nas telinhas, vemos com frequência estereótipos de caipiras que, muitas vezes, são preconceituosos. Como você consegue fazer uma personagem de humor do interior – como a Concessa – sem cair nos clichês e em um discurso preconceituoso? 
O que a gente vê é um humor chapado,  mesmo, resvalando no preconceito. Quando a Concessa foi surgindo, eu sempre falava que  ‘ela tem que ser humana’. Eu acho que é a afetividade que caminha junto com o humor. E o resultado é uma personagem fofa. Eu sou meio Poliana, sempre fui. E, com a personagem, eu fui com essa pegada. Ela não tem dente podre, é toda combinadinha, mais vaidosa que eu. Já que é para fazer rir, vamos fazer de uma maneira que valha a pena.

O espetáculo fala sobre os problemas que as mulheres enfrentam. Como você dialoga com elas?
Uma amiga minha, de muitos anos, foi com a família a Belo Horizonte e, em seguida, foram comer aquela tradicional pizza de depois do teatro. Ela me contou que eles fizeram uma terapia familiar na pizzaria. Que as filhas e o marido compreenderam o que ela passava na menopausa. A peça provoca, eu gosto de provocar positivamente. O intuito é fazer com que as mulheres se sintam no meio do caminho, não no fim. Que elas se sintam melhores, mais alegres, em uma fase da vida em que as pessoas só veem coisas tristes. Eu quero que as mulheres saiam se sentindo umas gostosas. E tem a ginecologista, Doutora Lídia, que eu pesquisei para a parte fisiológica da coisa para não falar nenhuma bobagem. 

E o aspecto ecológico da peça?
A personagem dá uns puxões de orelha. Ela fala: ‘Vocês falam em Mãe Natureza, mas como vocês tratam essa mãe? Fala que é mãe, mas joga lixo nela, explora e não dá nada em troca’.

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