Espetáculo ‘Maurice’ estréia em Goiânia nesta quinta
A peça, baseada no romance do inglês E. M. Foster, trata do sentimento entre dois homens
Júnior Bueno
Escrito pelo romancista inglês E. M. Forster a partir de
1913, mas apenas publicada postumamente em língua inglesa em 1971, o livro Maurice
é a história da lenta auto-descoberta e aceitação da sexualidade por um jovem
aristocrata inglês. O personagem-título é um alter ego de Forster, é um jovem burguês
que se apaixona pelo colega Clive Durham, com que vive uma história de amor
clandestina já que ser gay na Inglaterra era crime até 1967. Clive acredita
que, enquanto o sentimento que os une não se concretizar no plano físico,
permanecerá puro. Maurice, no entanto, não se sente da mesma forma e acumula
anos de frustração por não poder consumar seu amor.
A
história entre Maurice e Clive sai das páginas do livro para os palcos de
Goiânia por meio da montagem do diretor Altair de Sousa. Maurice é uma peça
teatral que está em cartaz amanhã e depois (1º e 2 de dezembro) no Centro
Cultural da UFG. Segundo o diretor, a peça é fruto de uma pesquisa sobre o
livro. “A gente leu o livro e estudou bastante sobre a época e o contexto em
que ele foi escrito. Foi uma pesquisa de um ano e ao final, o Andreane Lima, que
é ator, protagonista da peça, fez uma dramaturgia, em parte adaptando a
história e em parte trabalhando com o resultado da pesquisa”, explica Altair.
Os
atores da peça construíram diários para definir quais seriam as características
de cada um, e isso foi incorporado ao texto. “Tem muito da obra, mas essa
pesquisa foi muito importante para a construção a que a gente chegou”, diz o
diretor. No elenco, além de Andreane Lima, no papel de Maurice, Esley Zambel
faz Clive, seu amado e os atores Victor Melo, Isabela Naves e Gabriela Lima se
revezam em vários personagens.
O tema
da homofobia permeia o espetáculo. Altair conta que há um momento em que várias
personalidades que sofreram perseguição por sua orientação sexual são
homenageadas. De Leonardo da Vincci a Harvey Milk, são muitas as vítimas do
ódio ao longo da história e que são citados no palco. Incluíndo Oscar Wilde,
que chegou a ser preso na Inglaterra por ser gay e que cunhou a expressão “o
amor que não ousa dizer seu nome”, para designar os desejos que lhe eram
negados.
O
diretor ressalta que apesar de ser um livro que retrata o começo do século 20
na Inglaterra, seu teor reflete muito o Brasil de 2016. “A gente tem o intuito
de instigar a reflexão, sem levantar bandeira, mas ressaltando o romance. É
importante que se respeite o amor. Não é um texto de militância, mas um romance
entre duas pessoas”.
Maurice
chega a Goiânia após uma trajetória bem sucedida pelos Festivais de Teatro de
Anápolis e o FIT na Bahia. Neste último, a peça ganhou os principais prêmios,
como, melhor ator, melhor espetáculo, melhor iluminação, melhor figurino,
melhor cenário e melhor direção. A temporada no Centro Cultural UFG é curta, de
apenas dois dias, mas Altair acredita que é um espetáculo importante pela escassez
de peças sobre o tema.
“Nós contamos com o apoio da UFG agora, mas normalmente, há
uma falta de patrocínio a Maurice por causa do tema”. Ele diz que pensa em
inscrever o espetáculo em editais que contemplem especificamente o tema da
diversidade. “Nós já inscrevemos muitas peças antes, todas passam, menos
Maurice”, ele relata.
Serviço
Espetáculo Maurice
Data: 01 e 02 de Dezembro
Local: Centro Cultural UFG (Avenida Universitária, Praça
Universitária)
Horário: 20h.
Ingressos: R$ 20
Foto: divulgação