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terça-feira, 26 de novembro de 2024
RETROSPECTIVA

Os melhores álbuns nacionais de 2016

No ano em que bons
lançamentos de rap e vozes femininas se destacaram, o melhor disco é de um artista morto em 2003

Postado em 20 de dezembro de 2016 por Sheyla Sousa
Os melhores álbuns nacionais de 2016
No ano em que bons

JUNIOR BUENO

Sabotage, Sabotage As  voltas que a vida dá: o melhor álbum de 2016 vem de um cara que foi morto em 2003, aos 30 anos: Mauro Mateus dos Santos, vulgo Sabotage.  Nos meses que antecederam a sua morte, o músico vinha compondo novas músicas para um novo disco que acabou nunca sendo lançado. Recentemente, porém, essas letras acabaram sendo resgatadas para finalmente ser construído o último álbum do rapper, uma espécie de ‘despedida oficial’. O disco é uma verdadeira joia, um adeus à altura de um artista que viveu uma vida breve, mas completa. As letras podem ter sido escritas e gravadas há mais de dez anos, mas (infelizmente) ainda soam atuais. A consciência social e honestidade do rapper aliados à ótimas batidas feitas com cuidado por grandes nomes nacionais fazem desse um dos discos mais icônicos dos últimos anos.

Princesa, Carne Doce: Bate aquele orgulhinho dessa banda de Goiânia –a capital mais prolífica do indie nacional. Em Princesa, o Carne Doce ressurge mais suave e autoconsciente, mas ainda capaz de incomodar como em Artemísia, que aborda a discussão sobre aborto com versos de emocionar. “Eu estava pensando a respeito da ideia do ‘meu corpo minhas regras’ e eu comecei a divagar sobre o que é considerado um egoísmo absoluto, por um lado, e um direito absoluto por outro”, explicou ao Essência Salma Jô, principal letrista da banda sobre a música, uma das melhores do ano.

Tropix, Céu: Inspirado em estética sonora vintage, mas distante do saudosismo, Tropix garante o lugar de Céu entre as grandes cantoras da música brasileira em todos os tempos. O reggae e o trip-hop do início da carreira de Céu aqui dão lugar a canções dançantes e altamente viciantes como O Perfume do Invisível e Varanda Suspensa. Com uma carreira coesa e sempre coerente, o mundo musical da artista sai do lugar a cada passo que ela dá. Em Tropix, a caravana da sereia se ambientou no universo artificial da noite sem perda da naturalidade de Céu.

Duas Cidades, BaianaSystem: Você pode nunca ter ouvido falar do BaianaSystem, mas a banda é um fenômeno. Pouco a pouco, eles arrastam multidões cada vez maiores ao redor do país. Multidões que cantam todas as músicas, dançam e reagem de um jeito inacreditável. Duas Cidades tem tamanha leveza e é tão festivo que chega a camuflar o conteúdo ricamente social e cultural ao longo de suas 12 faixas. A banda vem na missão de observar e se meter nos dois pólos das desiguais metrópoles brasileiras –Cidade Alta e Cidade Baixa em sua Salvador, o morro e a orla no Rio de Janeiro e por aí vai –ao misturar sons propriamente de massa (sobretudo o axé) àqueles importados (como aquilo que é chamado de Indie alimentado principalmente pelo Reggae e Dub). O resultado é de um aspecto dançante que sabe contagiar qualquer um sem perder o conteúdo.

Orgunga, Rico Dalasam : Se tem alguém que ousa na música brasileira, esse alguém é Rico Dalasan. Em Orgunga, seu primeiro álbum de estúdio, o rapper trafega pelos temas característicos do hip-hop, mas também abraça sua identidade de forma ousada, sendo um dos pioneiros do queer rap no Brasil, o que já havia feito em singles lançados avulsamente desde 2014. 

Boogie Naipe, Mano Brown: Os rappers também amam. No primeiro disco solo de Brown, estamos diante de uma expressão romântica de um homem de quem estamos acostumados a ouvir petardos contra o sistema.Agora ele passa a cantar o que diz o seu coração em canções repaginadas com o soul-funk-disco dos anos 1970 e 80, com a produção luxuosa de Leon Ware, famoso por seu trabalho com gigantes como Marvin Gaye e Michael Jackson. 

Mahmundi, Mahmundi: É sempre gratificante ser presenteado nos dias de hoje com um disco de música pop doce, delicado, simples, envolvente, marcante.Depois de anos e anos de espera, Mahmundi finalmente lançou seu álbum homônimo de estreia, uma verdadeira pérola do pop alternativo tão quente e interessante quanto a sua bela capa. Os timbres oitentinhas dão as caras, agora refinados por arranjos mais cuidadosos e melhor executados que nos EPs que conhecíamos até aqui. A música Hit ganhou ainda um dos clips mais deliciosos do ano.

Remonta, Liniker e os Caramelows: “Liniker só nos deixa uma saída: implodirmos todos os gêneros.” Assim o cantor de gênero neutro é saudado por Julio Maria, do jornal Estado de São Paulo. Não é pra menos: suas letras sensíveis sobre amar e ser incluído vêm embaladas em uma voz dessas que só se ouvem de tempos em tempos. O álbum é a estreia de Liniker e sua banda, Caramelows em um álbum cheio, que diz muito a que vem.

Soltasbruxa, Francisco, El Hombre: O recém-lançado álbum da banda de Campinas (SP) é uma crítica ácida e, ao mesmo tempo, doce, com alvos que vão do machismo ao político-pesadelo Jair Bolsonaro. Com produção bem executada, tirando de cada instrumento a potência devida para que este grito seja escutado, a base instrumental mantém sólida as influências latinas do grupo, passeando por gêneros como a música folclórica mexicana, axé, marchas e outros.

Gatos e Ratos, Odair José: Quem não está conectado em música é capaz de imaginar que Odair José é um nome do passado. Só que não. Depois de um disco roqueiro, Dia 16, em 2014, ele reafirma o gênero com Gatos e Ratos, um álbum conceitual de protesto que merece um ouvido mais atento. Ele é o cara!

 

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