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quarta-feira, 28 de agosto de 2024
Arte

Projeto interartístico leva para as ruas dramatizações de conflitos sociais

Artistas goianos de todas as vertentes se uniram para realizar intervenções nas ruas da Capital

Postado em 11 de janeiro de 2017 por Sheyla Sousa
Projeto interartístico leva para as ruas dramatizações de conflitos sociais
Artistas goianos de todas as vertentes se uniram para realizar intervenções nas ruas da Capital

Natália Moura

A discussão sobre o que é, e o que não é arte é antiga. Talvez a ideia mais aceita, hoje em dia, seja de que existam ‘as’ artes. No início, elas eram aceitas como apenas 6. Música, Artes Cênicas, Pintura, Escultura, Arquitetura e Literatura foram alcançadas pelo Cinema – a conhecida Sétima Arte – após um bom tempo. Depois, em forma de manifesto, outras foram inseridas ao conjunto: Fotografia, História em Quadrinhos, Jogos de Vídeo e Arte Digital completam as 11 artes. Quando pensamos em cada uma delas, assim como em sua classificação, elas estão separadas. Pensamos na Música sozinha. No Teatro e na Dança separados, ou pelo menos, não necessariamente juntos. Esse desmembramento da arte, ou das artes, é reflexo do nosso mundo – e de nós mesmos -, onde o isolamento das coisas é tão comum.

‘Esse Tal’

Na contramão do nosso isolamento surgiu em Goiânia, no ano de 2014, um projeto interartístico chamado Esse Tal. A bailarina Vanessa Voskelis e o músico Adriel Vinícius depois de um ‘insight’ resolveram unir suas artes e fazer… arte. O nome veio da música homônima de Transcendente Missão (2014), primeiro álbum solo de Adriel, que também é compositor. No início, as apresentações eram feitas apenas pelo casal que, com o tempo, percebeu que Esse Tal ia além da união da dança dela e da música dele. Por isso, os dois decidiram incorporar outras artes ao projeto como o teatro, a performance e, até mesmo, a pintura. 

“Quando eu vivia tentando sair

Da ignorância na qual eu cresci

Eu nem sabia que ela serve

Pra me proteger”

Assim surgiu um novo braço do projeto o Esse Tal Convida. Nele vários artistas goianos de todas as vertentes se uniram e começaram a fazer intervenções nas ruas da Capital. “Hoje eu chamo o Esse Tal de companhia, mesmo sendo uma companhia de duas pessoas fixas e de outras pessoas transeuntes”, afirma Adriel que também comenta que o projeto sempre está em interação com outras pessoas. No processo de criação de uma nova performance, a companhia utiliza dois critérios fundamentais: compor algo que toque a eles mesmo e que, ao mesmo tempo, faça uma ponte com quem os observa. 

“Vi depois de um tempo sendo infeliz

Que a ciência que eu tanto quis

Me fez deixar rir a vida e não a querer viver”

Esse processo de criação é normalmente concebido em conjunto. Ele se baseia na junção da música e da dança. O intuito do Esse Tal é a aproximação de todos os públicos, inclusive os que, ‘erroneamente’, possam enxergar a dança como algo restrito a um grupo específico. 

“Não levo mais jeito pra ser esse tal

Que sempre teme algo surreal

E se baseia a ser levado a conhecer”

Esse “corpo que questiona” tem tudo a ver com a companhia. Quando eles estão em cena, a dramatização feita se baseia sempre em conflitos sociais. “É uma arte bem marxista, não porque a gente quis que fosse”, conta a bailarina ao se lembrar das apresentações já feitas pelo Esse Tal. Segundo ela, eles sempre acabam questionando as classes, os preconceitos e as segregações em suas criações. A última apresentação do grupo, Cale-se, foi feita como uma intervenção no Centro de Goiânia. Em conjunto com dois bailarinos e um artista plástico, a performance se tratava do momento político atual do Brasil e do mundo, que vai do ato de ‘se calar’ até o Cálice de Chico Buarque. 

“Vi que sendo simples serei mais feliz

Já que a volúpia simplesmente quis

A tantos tolos revela seu doce

Que é o surpreender”

Mas segundo eles, a apresentação que mais marcou os dois foi A Dor de Ana. No drama é contada a história de uma mãe nordestina, que perde seu filho para a seca do nordeste do Brasil. A apresentação foi levada ao Teatro Sesi, Teatro Sesc, Basileu França, Sarais e para cidades no entorno de Brasília. Adriel lançou seu segundo álbum solo Prazer, Meu Nome é Via-Láctea ano passado. Por enquanto, os dois ainda estão reverberando o Cale-se, e enquanto isso, seguem com seus projetos pessoais. Adriel faz show no formato “quanto vale o show?” no próximo domingo (15), no Evoé Café com Livros.

“Silêncio” 

*Os versos em itálico são da música Esse Tal de autoria do músico Adriel Vinícius, presente em seu álbum “Transcendente Missão (2014)”. 

* Edição realizada às 13h 31min para acréscimo de informações e esclarecimento. Pedimos desculpas ao projeto “Esse Tal”, a Vanessa Voskelis e ao Adriel Vinícius, pelos erros na hora da decupagem da entrevista. Afirmamos que o Jornal O Hoje, e o caderno de cultura e variedades do mesmo, o Essência, não quer limitar a arte de maneira alguma e se passamos esta impressão pedimos desculpas mais uma vez. 

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