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segunda-feira, 2 de setembro de 2024
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Cidades

Entulhos invadem região do reservatório João Leite

Na Avenida Militar, lixo de toda espécie é observado na via e coloca em risco qualidade da água do reservatório

Postado em 20 de janeiro de 2017 por Sheyla Sousa
Entulhos invadem região do reservatório João Leite
Na Avenida Militar

Renan Castro

Principal garantia de abastecimento de Goiânia e a Região Metropolitana, o Ribeirão João Leite ainda está longe ter sua área totalmente preservada. O Decreto Estadual nº 5.704/2002 criou a Área de Proteção Ambiental (APA) João Leite, abrangendo toda a bacia hidrográfica do Ribeirão, em Goiânia, Terezópolis de Goiás, Goianápolis, Nerópolis, Anápolis, Campo Limpo, Ouro Verde de Goiás e nas águas jurisdicionais. Contudo, o manancial corre risco de degradação a todo o momento.

Em uma das áreas de proteção ambiental, próxima ao reservatório João Leite, em Goiânia, a reportagem de O Hoje avistou uma grande extensão de entulhos de toda espécie. A sujeira começa no final da Avenida Militar, no setor Jardim Guanabara, e continua por mais de dois quilômetros. Nos dois lados da via, é possível observar sofás, vasos sanitários, entulhos de construção, vidros, colchões. É uma infinidade de lixo e, em alguns pontos, o amontoado de sujeira chegar a ficar mais alto do que uma pessoa em pé. O intrigante é que nesta via, já no trecho da zona rural, em vários locais, inúmeras placas da Polícia Militar garantem que a área é monitorada. Não é o que parece. O entulho, em pouco tempo, chegará até o reservatório se continuar no ritmo em que está.

De acordo com o Luziano Carvalho, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (Dema), a vida útil do reservatório é de 25 anos. Ele discorda dessa forma de avaliar a capacidade de abastecimento. “Se ficar medindo em idade não vai ter de onde tirar água daqui uns anos quando Goiânia atingir 3 milhões de habitantes. O que temos de focar é na recuperação de todo o Ribeirão e isso é uma tarefa fácil”, garante.  

Segundo a Dema, cerca de cinco construções próximas ao reservatório João Leite, em Goiânia, foram embargadas pela justiça e estão paralisadas. Isso é um problema para a região já que, conforme Luziano, tudo o que for construído próximo ao João Leite precisa de licença que só é concedida após avaliação dos riscos para o manancial. Ou seja, nenhuma intervenção humana deveria ocorrer se os impactos de qualquer ação são iminentes. 

Em todo o estado, de acordo com Luziano, a Dema recebe 10 ocorrências por dia de degradação do Ribeirão João Leite no período da seca – que vai de maio a setembro. O delegado ressalta que os principais problemas do manancial são fogo e entulho.

A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) informou que a Avenida Militar é um local onde a população descarta, constantemente, lixo e entulho. O órgão afirmou que faz a limpeza, mas em pouco tempo está cheio de lixo novamente. A Comurg garantiu que enviará uma equipe ao local e providenciará a limpeza.

Responsável por fiscalizar questões sobre o reservatório João Leite em Goiânia, a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) informou que não há ninguém para responder sobre o assunto. O órgão justificou que o presidente ainda não foi nomeado e a assessoria de comunicação também não tem funcionários. 

“Conscientização tem que vir de cima”, afirma Dema 

O desperdício de água é um assunto que ainda não é tratado com a devida importância em todo o mundo. E a forma como se busca conscientizar sobre o consumo ocorre de maneira equivocada e genérica. A famosa afirmação científica de que a água potável do planeta irá acabar nunca foi tão verdadeira quanto agora e também tão ignorada. 

O delegado Luziano de Carvalho pondera que a conscientização acerca do Ribeirão João Leite “deve vir de cima”. Ele explica que não basta os órgãos públicos tentarem educar a população e praticarem atitudes erradas. “A dona de casa que toma banho todos os dias, muitas vezes, é educada a gastar pouca água no banho. Então, ela deixa de tomar seu banho direito para evitar o desperdício. Enquanto isso, não muito longe da residência dela, um agricultor gasta milhões de litros de água por dia. Isso está errado. O consumo residencial nem se compara com o que é gasto em indústrias e lavouras”, exemplifica. 

Ao todo, o manancial possui 491 nascentes distribuídas em todos os municípios por onde passa. Luziano garante que deste total, 150 já estão totalmente preservadas e afirma que o produtor rural, em vez de ser o vilão, precisa compreender que as nascentes são um patrimônio natural. 

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