Tom Jobim faria 90 anos amanhã; relembre a trajetória do maestro
Na semana de aniversário de Tom Jobim, O Hoje relembra a sua trajetória, dedicada à musica
brasileira, que ele ajudou a tornar
eterna em todo o mundo
Júnior Bueno
Tom Jobim foi e continua sendo a epítome da cultura brasileira no Brasil e no exterior. O compositor, cantor, violonista e pianista era brasileiro até no nome: nasceu Anônio Carlos Brasileiro Jobim – em 25 de janeiro de 1927. Foi também um dos principais responsáveis pela internacionalização da bossa nova, estilo e movimento musical com influências jazzísticas, iniciado por volta de 1958 no Rio de Janeiro, que introduziu invenções melódicas e harmônicas no samba.
Tom nasceu no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, mudando-se logo com a família para Ipanema. Aprendeu a tocar violão e piano, tendo tido aulas, entre outros, com o professor alemão Koellreuter, introdutor da técnica dodecafônica no Brasil. Pensou em trabalhar como arquiteto e chegou a se empregar em um escritório, mas logo desistiu, e resolveu ser pianista. Tocava em bares e inferninhos em Copacabana, no início dos anos 50, até que, em 1952, foi contratado como arranjador pela gravadora Continental.
Além dos arranjos, também tinha a função de transcrever para a pauta as melodias de compositores que não dominavam a escrita musical. Por essa época, começou a escrever suas primeiras composições. A primeira música gravada foi Incerteza, por Mauricy Moura. Tereza da Praia, parceria com Billy Blanco, gravada por Lúcio Alves e Dick Farney pela Continental em 1954, foi o primeiro sucesso. Depois disso, participou de gravações e compôs, com Billy Blanco, a Sinfonia do Rio de Janeiro – além de outras parcerias como Dolores Duran (Se É por Falta de Adeus e Por Causa de Você).
Em 1956, musicou a peça Orfeu da Conceição, com Vinicius de Moraes, que se tornou um de seus parceiros mais constantes. Dessa peça, fez bastante sucesso a música Se Todos Fossem Iguais a Você. Tom Jobim fez parte do núcleo embrionário da nossa nova. O disco Canção do Amor Demais (1958), de composições de Tom e Vinicius cantadas por Elizeth Cardoso e acompanhadas pelo violão de João Gilberto e orquestra, é considerado um marco inaugural da bossa nova pela originalidade das orquestrações, harmonias e melodias. Inclui, entre outras, Canção do Amor Demais, Chega de Saudade e Eu Não Existo sem Você.
A concretização da bossa nova como estilo musical veio, logo em seguida, com o 78 rotações Chega de Saudade, interpretado por João Gilberto, lançado em 1958. Tom foi um dos destaques do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova York, em 1962. No ano seguinte, compôs, com Vinicius, um de seus maiores sucessos e possivelmente a música brasileira mais executada no exterior: Garota de Ipanema. Nos anos de 1962 e 1963, a quantidade de ‘clássicos’ produzidos por Tom é impressionante: Samba do Avião, Só Danço Samba, Ela É Carioca, O Morro Não Tem Vez e Inútil Paisagem.
Nos Estados Unidos gravou discos, participou de shows e fundou sua própria editora, a Corcovado Music. O sucesso de suas músicas fora do Brasil o fez voltar aos EUA, em 1967, para gravar com um dos grandes mitos americanos, Frank Sinatra. O disco Francis Albert Sinatra e Antônio Carlos Jobim incluiu versões em inglês de músicas de Tom (The Girl From Ipanema, How Insensitive, Dindi, Quiet Night of Quiet Stars) e composições americanas como I Concentrate On You, de Cole Porter.
No fim dos anos 60, depois de lançar o disco Wave, participou de festivais no Brasil, ganhando inclusive o primeiro lugar no III Festival Internacional da Canção da TV Globo com Sabiá, parceria com Chico Buarque, interpretado por Cynara e Cybele, do Quarteto em Cy. Sabiá conquistou o júri, mas não o público, que vaiou ostensivamente a música diante dos constrangidos compositores. Tom Jobim prosseguiu gravando e compondo músicas vocais e instrumentais de rara inspiração, juntando harmonias do jazz e elementos tipicamente brasileiros, fruto de suas pesquisas sobre a cultura brasileira. Também nessa época, gravou discos com outros artistas, casos de Elis e Tom, Miúcha e Tom Jobim e Edu e Tom.
Passarim, de 1987, é a obra de um compositor já consagrado, que pode desenvolver seu trabalho sem qualquer receio, acompanhado por uma banda grande, a Nova Banda. É difícil escolher os mais significativos entre os mais de 50 discos de que participou como intérprete ou arranjador. Todos eles têm algo de inovador, de diferente e especial. Seu último CD, Antônio Brasileiro, foi lançado em 1994, pouco antes da sua morte, em dezembro, nos EUA.
Em 15 de setembro daquele ano, viajou até Nova York para submeter-se a uma angioplastia. Num dos vários exames realizados, os médicos detectaram um tumor maligno em sua bexiga – e a cirurgia foi marcada para 6 de dezembro, no Mount Sinai Medical Center. No dia 8, enquanto convalescia da cirurgia, Tom Jobim teve uma parada cardíaca às 8h. E uma segunda parada, duas horas depois, que foi fatal. Seu corpo desembarcou no Rio de Janeiro, no dia 9, e foi velado no Jardim Botânico; dali, seguiu para o Cemitério de São João Batista – após desfilar em cortejo pela cidade.