Caio Marx

Um dos maiores problemas de viver em uma capital é a questão do barulho. Por mais que as pessoas se acostumem, o barulho sempre acaba atrapalhando o sono ou a concentração enquanto alguém tenta trabalhar. Um recente estudo do Instituto de Saúde Pública de Ontário, no Canadá, revelou que quem passa a vida perto de avenidas movimentadas tem 7% a 11% mais chances de desenvolver demência ao final da vida.

Os casos de demência podem ser atribuídos à proximidade da moradia de uma via movimentada. A pesquisa analisou 6,6 milhões de pessoas de 20 a 85 anos, a partir de seus CEPs. Como resultado da pesquisa, as pessoas que moravam a 50 metros de grandes avenidas ficavam mais suscetíveis a doenças do que quem morava a pelo menos 300 metros. Os cientistas acreditam que o motivo está na poluição do ar e no barulho.

Pesquisas realizadas anteriormente já sugeriam que o barulho do tráfego poderia levar à degeneração neuronal. Um dos estudos mostrava inclusive que viver próximo a uma estrada reduzia a chamada matéria branca no cérebro e a capacidade cognitiva. O novo levantamento é o primeiro a investigar a ligação entre a proximidade de tráfego intenso e o surgimento de doenças neurodegenerativas.

Ônibus transitando diurnamente, frenagens bruscas, buzinaços e escapamentos abertos de motocicletas são estressantes para moradores das principais avenidas da capital goiana. Para o aposentado pela Marinha, Lindomar Alves, de 66 anos, morador da Avenida 90 em Goiânia, a perturbação sonora gerada pelo tráfego intenso de veículos é estressante. “Nós que moramos em frente à Avenida 90 conseguimos dormir somente até as 5h, após esse horário o barulho dos veículos, dos pedestres, dos comércios próximos são intensos e não conseguimos mais dormir com tranqüilidade”, ressalta Lindomar. 

Moradores destacam vantagens  

Se por um lado moradores de áreas movimentadas se sentem perturbados com o barulho intenso, há quem também viva em locais com alta circulação de pessoas e veículos e se sinta aconchegado. Para a funcionária pública Rosane Oliveira, de 46 anos, moradora a seis anos do Setor Central, o grande movimento traz uma sensação de segurança.

“As pessoas que moram nas proximidades de uma avenida movimentada dificilmente serão assaltadas”. Segundo ela, quem opta pela companhia de bares, lojas de conveniência, padarias e farmácias, tem uma sensação de segurança propiciada pelo vaivém de pessoas uma compensação pelo barulho ao qual se acostumaram a conviver.

Segundo o Cardiologista Glauber dos Santos, todo ambiente estressante é prejudicial à saúde. Em pessoas com algum tipo de tendência a problema de saúde, entre eles a hipertensão, a situação pode até mesmo desdobrar em agravamento ou surgimento de doença, como estresse profundo e contínuo. “As pessoas que vivem em um local tranquilo e depois se mudam para uma região agitada podem sofrer com problemas de saúde, porém, ao passar do tempo, o corpo se acostuma com o barulho e muitas vezes as pessoas nem escutam mais”, afirma o cardiologista.