A autoestima é o que realmente importa
Fotógrafa realiza trabalho voltado para a valorização da diversidade de corpos das mulheres
Elisama Ximenes
A expressão plus size soa para a fotógrafa Hevelyn Gontijo como uma definição. Mas, embora não goste muito do rótulo, acha que ela é importante como uma contraproposta ao padrão de corpo, que monopolizava o mundo da moda até pouco tempo. Hoje, no entanto, mesmo que com algumas lacunas a serem preenchidas, esse mercado ganhou a vertente chamada ‘moda plus size’, que é voltada para pessoas gordas – mulheres ou homens. Ela surge como uma resposta à necessidade de encontrar roupas que lhes coubessem e ficassem bonitas no corpo não magro no mercado. “Espera-se uma modelo com mais curvas e sem um corpo definido com muita academia e dietas”, explica a fotógrafa.
A discussão em torno da aceitação desses corpos com medidas maiores voltou com o Miss Universo, que ocorreu no útimo dia 29 de janeiro. A Miss Canadá, que estava com peso e medidas maiores que as exigidas pelo concurso, foi atacada na internet e chamada de “gorda”. De fato, seu corpo não estava nos padrões tradicionalmente aceitos pelo Miss Universo, mas, se estivesse fora do concurso, seria facilmente classificada como magra. Houve quem dissesse que ela teria sofrido “gordofobia”, que é o preconceito com pessoas gordas. Outras pessoas, no entanto, reivindicavam que ela não era gorda para ter sofrido isso, e que considerá-la gorda é que seria um insulto às pessoas que realmente estão acima do peso. Outras, ainda, reivindicaram a expressão “magrofobia”.
Diante de tamanha polêmica, Hevelyn traz à tona o protagonismo dessas mulheres em suas fotografias. Ela conta que seu trabalho é voltado para aquelas que desejam ter registros fotográficos de seus corpos. “Fotografo mulheres – sejam elas modelos ou não, plus size ou não. O importante é elas estarem à vontade”, relata. O que importa para Hevelyn é a desconstrução de um padrão que diz que quem está acima ou abaixo dos números impostos pode ser alvo de ressacho. “Qualquer pessoa que fugia um pouco do que era imposto pela sociedade como o padrão de beleza ideal sofre ou sofria um tipo de preconceito”, conta a fotógrafa sobre a principal inquietação que a motivou a seguir com o projeto.
O problema, para ela, é tentar achar uma forma que dê conta de todos os tipos de mulheres. “As pessoas são diferentes; não podemos engessar todos em um molde”, opina Hevelyn. Nas lojas de roupa, ela conta que já enfrentou problemas na hora de comprar um biquíni, por exemplo, mesmo medindo 38, na parte de baixo, e vestindo P ou PP na parte de cima. Assim, quando ia comprar a vestimenta, sempre dava problema, porque, ou a parte de baixo ficava pequena demais, ou, a de cima, grande demais. Se com ela era assim, imagina para outras mulheres com diferenças ainda maiores. E, então, viu que o mercado se adaptou. “Alguém teve a sensacional ideia de vendê-los separados”, conta. Ela acredita que é assim que as coisas devem caminhar no mundo da moda. O importante é “poder comprar algo para usar que você se sinta bem, bonita e à vontade”.
Fotos
O processo de fotografar não se resume a, simplesmente, registrar em quadrados e retângulos os corpos. Antes disso, Hevelyn realiza uma reunião com a fotografada para conhecer a modelo. Assim, ela consegue “captar um pouco mais da fotografada e entender o que ela deseja com o ensaio”. Nesse momento de conhecimento, ela busca saber sobre o que a mulher gosta de fazer, preferências musicais e as partes do corpo que mais gosta e que não gosta. “Assim decidimos onde será feito e sempre recomendo alguém para maquiar e produzir a modelo”, relata. Também é desta forma que ela escolhe a música que fará a trilha sonora do trabalho e a melhor locação.
O figurino também é decidido de acordo com as especificidades de cada fotografada. “Tudo depende do teor que ela está procurando”, conta. Dessa maneira, as roupas variam entre roupas comuns, festivas, apenas tecidos, lingeries ou até mesmo nenhum tipo de vestimenta. A edição das fotos, que até pouco tempo era polêmica nas revistas de moda, também ganha novos caminhos com o trabalho de Hevelyn. “A mulher quer se ver linda como ela é, e não mais algo montado e completamente editado. Se necessário, alguns retoques são feitos como suavizar a pele ou levantar um pouco o olhar. Mas tudo depende do que a cliente quer”, relata. Segundo a fotógrafa, a valorização se dá por meio dos ângulos, das poses e da luz.
Para ela, esse tipo de ação, que preza pela diversidade, contribui para a autoestima das mulheres. “Só o fato de a mulher se sentir bem e bonita como ela é já melhora muito a autoestima das outras mulheres ao seu redor”, opina. De acordo com Hevelyn, isso se dá por meio de uma rede, que transforma a autoaceitação em um processo realizado em cadeia, que contagia uma à outra. “Nesse mundo em que vivemos, onde a imagem é uma constante em nossas vidas, essa democracia imagética confirma cada vez mais que não há padrões para serem seguidos. Estamos em uma fase de transição. Agora, a palavra de ordem é se sentir bem como você é”, finaliza.