Coleta seletiva ganha espaço nos edifícios residenciais
Condomínios aliam consciência ambiental à possibilidade de ganhar dinheiro com a venda de materiais recicláveis
MARDEM COSTA JR.
Separar e dar um destino adequado ao lixo está se tornando um hábito cada vez mais freqüente, especialmente nos edifícios residenciais, apesar do Brasil reciclar menos de 3% do material descartável que poderia ser reaproveitado, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP) em 2015. A iniciativa, ao mesmo tempo em que colabora com o meio ambiente ao reduzir a pressão sobre os aterros sanitários e o reuso de componentes em processos industriais, também pode gerar renda aos condomínios com a venda de materiais recicláveis.
De olho nos novos tempos, síndicos e construtoras estão dotando os prédios de uso habitacional com lixeiras e containeres onde o lixo seco (e potencialmente reciclável) – garrafas PETs, papel, caixas de papelão – e outros separados do chamado lixo molhado ou orgânico, como alimentos e dejetos. No caso dos prédios novos, espaços estão sendo concebidos para armazenar o lixo de modo a facilitar a coleta seletiva tanto por parte da prefeitura quanto por associações de recicladores.
É o caso do Residencial Ecovillaggio Jardim Bela Vista, no bairro de mesmo nome em Aparecida de Goiânia. No hall de cada andar, foi planejado o espaço para os quatro recipientes de material reciclável. Além disto, uma sala de 50 metros quadrados no térreo, com entrada independente, foi instalada no térreo para favorecer a logística da coleta seletiva.
“As associações de catadores e o sistema público de coleta não conseguem passar nos bairros todos os dias, por isso é importante que o residencial tenha este espaço para abrigar o material reciclável à espera da coleta”, explica o engenheiro Gustavo Veras, sócio da Loft Construtora, responsável pela construção do edifício. Este e os outros diferenciais de sustentabilidade levou o empreendimento a ser finalista do Prêmio Planeta Casa e a receber a Menção Honrosa Falcão Bauer.
A preocupação ambiental, ao contrário do que se imagina, não está presente apenas em edifícios de médio e alto padrão. A MRV, que possui uma carteira de construções focada no público de baixa renda, fomenta práticas sustentáveis desde o canteiro de obras passando pela entrega das edificações aos moradores.
De acordo com o Gestor Regional de Engenharia da MRV em Goiás, Raphael Paiva, os atuais lançamentos da marca serão entregues com containers para lixo seco (material reaproveitável) e para lixo molhado (orgânico) espalhados pela área comum dos edifícios. Além disso, a construtora entrega a Cartilha Morador Sustentável junto com o Manual do Síndico. “É um trabalho educativo tão importante quanto o equipamentos instalados porque a efetivação da coleta seletiva vai depender da atitude dos moradores”, diz.
Renda
Caso o condomínio tenha interesse, pode ser feita ainda a venda direta dos materiais reciclados. A quantidade separada de cada material é pesada e o valor é mensurado de acordo com cada mercado. O alumínio é o material mais visado, seguido pelas garrafas PET e pelo plástico. O lucro é revertido para melhoramentos estruturais.
Descartes de materiais especiais
Ao mesmo tempo em que alguns materiais ganham a preferência do mercado de reciclagem, outros são considerados “patinhos feios”. Pilhas, baterias e óleos vegetais são solenemente ignorados. A maior parte dos postos de coleta são ligados à iniciativa privada – as baterias de telefone celular, por exemplo, possuem pontos de descarte definidos por força de legislação – e os poucos municipais sofrem com a ação do tempo e do vandalismo.
No caso do óleo vegetal, a Saneamento de Goiás S/A (Saneago) implementou em 2012 o programa “De Olho no Óleo”. A iniciativa bonifica o usuário com R$ 0,50 por litro em forma de crédito na fatura de água e esgoto. Cerca de 700 grandes usuários – bares, restaurantes, hotéis, condomínios – contam com a coleta fixa, dispondo de recipientes com capacidade de 50 litros cedidos pela companhia. Os pequenos usuários podem fazer a entrega em pontos fixados pela estatal de saneamento.
De acordo com gerente de Educação Ambiental e Sustentabilidade da Saneago, Divino Lázaro, a iniciativa traz vantagens tanto para o meio ambiente quanto para a empresa. “Além da preocupação com o meio ambiente ao promover o descarte adequado da substância, a Saneago tem uma vantagem operacional, pois a presença de óleo na tubulação de esgoto gera problemas na rede e na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), gerando um aumento nos custos operacionais na ordem de 50%”, esclarece.