Cuidados com a saúde bucal devolvem autoestima a idosos
Com autoestima renovada e saída da reclusão social, muitos pacientes idosos começam a namorar e até se casam
Da redação
O número de idosos no Brasil chega atualmente a 23,5 milhões de cidadãos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2011, número que deve chegar a 66,5 milhões em 2050. Apesar do aumento na expectativa de vida, a saúde do idoso em geral ainda precisa de atenção. Neste cenário, a saúde bucal é ainda mais deixada de lado. Segundo levantamento de 2010, feito pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP/Unicamp), 47% dos idosos entrevistados haviam perdido todos os dentes, quase 51% apresentavam alguma perda dentária, e apenas 2% apresentavam todos os dentes saudáveis na boca (sem cáries ou restaurações).
Segundo a odontóloga e proprietária da clínica Esculpere, Daniele Poiatti, a dinâmica dos idosos, hoje, na sociedade, é bem diferente de algumas décadas atrás. Com a evolução da medicina na prevenção das doenças, em paralelo ao nível de conscientização da população, houve melhorias na qualidade de vida e participação do idoso na sociedade de forma geral. “Isso aumenta também seu padrão e exigência e vaidade consigo mesmo. Recebo no consultório desde aposentados com salário mínimo até empresários, e noto que a maior dificuldade desse público tão especial em relação à sua saúde bucal é o uso de dentaduras”, afirma Daniele.
As principais queixas dos pacientes é a frustração em relação à perda dos dentes, o que causa grande constrangimento social e baixa autoestima, ainda pior devido à instabilidade das próteses removíveis (dentaduras) quando o apoio ósseo que as sustenta já é pequeno e ineficaz. “Com esses problemas, eles optam por uma alimentação restrita ficando impossibilitados de consumir alguns dos seus alimentos prediletos, como churrasco e alimentos crocantes, que exigem um bom potencial mastigatório que, quando reduzido, acarreta complicações gástricas como refluxo e má digestão. O paladar também fica diminuído, pois as próteses totais bloqueiam o palato e limitam a degustação. Em alguns casos, as próteses são também muito desconfortáveis”, conta a odontóloga.
Tudo isso reflete em um processo de reclusão social. O idoso, mesmo com vigor e saúde plena, se limita a estar na reclusão de seu lar e com seus familiares, abrindo mão de uma vida social com amigos e parentes por medo de a dentadura se movimentar durante um almoço, carteado ou até em um baile. Porém, ao final do tratamento desses pacientes, que muitas vezes estavam desesperançosos e desanimados, a odontóloga afirma que surge neles uma nova expectativa sobre a vida. Voltam a sonhar, relatam que se sentem mais à vontade para o convívio social, com conforto e liberdade para se alimentar, sorrir, e alguns viúvos ficam com vontade de ter novamente um companheiro.
“Lembro-me de um paciente com mais de 50 anos, casado há mais de 20 anos e que a esposa descobriu seu uso de dentadura ainda no início do casamento. Ele viveu muitos anos com vergonha da esposa, sem autoestima para a vida a dois e com medo dos implantes dentários ou de buscar ajuda e não ter solução. Hoje ele sorri, mastiga de tudo e leva uma vida mais feliz. Uma outra paciente fez implantes e viajou, conheceu uma pessoa e se casou aos 65 anos de idade”, conta Daniele.
Doenças e complicações
A saúde bucal não influencia apenas na autoestima e no conforto na hora de sorrir e comer, mas também pode estar ligada a outras doenças, sendo as mais comuns: diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e osteoporose. Essas doenças e ou complicações podem afetar direta ou indiretamente o quadro de saúde bucal. Em todos os casos, os pacientes precisam estar com quadros controlados para passar por intervenções cirúrgicas bucais a fim de evitar intercorrências.
“Nos pacientes com diabetes, pesquisas sugerem que há uma prevalência aumentada de doenças gengivais como gengivite (estágio inicial da doença) e periodontite (estágio mais avançado da doença gengival), porque eles são mais suscetíveis às infecções bacterianas e têm uma diminuição na capacidade de combater as bactérias que invadem os tecidos gengivais. A relação entre essas doenças pode ser uma via de mão dupla: as pessoas com diabetes são propensas a doenças gengivais e estas doenças podem afetar o controle glicêmico no sangue e contribuir para a progressão do diabetes. O diabético tem mais potencial para desenvolver a doença gengival avançada e perder os dentes quando comparado a um indivíduo não diabético”, afirma.
A oteosporose também é uma doença comum no idoso que compromete a densidade óssea e, por isso, pode ser contraindicação para tratamentos com implantes dentários que dependem de uma boa qualidade óssea para fixação. “No entanto o especialista em Implantodontia pode solicitar um exame para confirmar a densidade óssea e fazer a indicação com cautela e planejamento preciso com implantes de maior potencial de osseointegração através da cirurgia guiada”, finaliza Daniele.