O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Violência

Redes sociais são ponto de apoio para vítimas de relacionamentos abusivos

Pessoas demonstraram apoio umas às outras e expuseram diversos casos de agressão

Postado em 15 de abril de 2017 por Renato
Redes sociais são ponto de apoio para vítimas de relacionamentos abusivos
Pessoas demonstraram apoio umas às outras e expuseram diversos casos de agressão

“Quantas vezes me vi no banheiro da casa dele, toda
encolhida, sentindo a saliva quente dele no meu corpo enquanto ele gritava?
‘Pare de chorar como um neném. Você é louca. Ninguém mais te aguentaria.’
Quantas vezes fiquei tremendo ali no chão, contando as respirações, quase
sufocando num ataque de pânico causado por um desses acessos de loucura? Mas
ele nunca me bateu”. O relato, que faz parte de artigo escrito
pela advogada Reut Amit, mostra que relacionamentos abusivos não são tão fáceis
de serem identificados. Como descreve Reut, não é apenas quando se é espancada
que se está em um relacionamento abusivo.

A internet têm se tornado um espaço importante tanto como
apoio quanto como fonte de informações a vítimas de relacionamento abusivo.
Comunidades, redes de discussão e mesmo grandes campanhas online têm ganhado
cada vez mais espaço.

Para citar exemplos, nas últimas semanas, duas grandes
campanhas, que surgiram a partir de situações de abuso, ganharam destaque nas
redes sociai:  #EuViviUmRelacionamentoAbusivo e “Mexeu com uma,
mexeu com todas” e ficaram entre os tópicos mais comentados na web.

Milhares de mulheres demonstraram apoio umas às outras e
expuseram diversos casos de agressão. Os relatos evidenciam que falta apoio às
vítimas e mostram a dificuldade em, muitas vezes, reconhecer-se como vítima de
um relacionamento abusivo. Outras campanhas já fizeram eco na internet
discutindo o mesmo tema, entre elas #EleNãoTeBate,
mas e #MeuAmigoSecreto. 

Para as vítimas, a internet é um espaço importante tanto no
processo de obter informação e identificar um relacionamento abusivo, quanto no
apoio. A estudante Kaline Oliveira, 31 anos, foi uma das mulheres que, pelo
Twitter, assumiu nesta semana que viveu um relacionamento abusivo. “Já fazem
dois anos, desde o fim do meu namoro, e aprendi a detectar, pelo menos eu acho,
alguns traços de homens abusivos. Não vou dizer que estou totalmente de boa
para um próximo relacionamento, porque as marcas ficam, mas acho que fiquei
mais esperta”, diz.

Para ela, a rede social é de extrema importância “porque não
nos sentimos sós, nos mostra o que é certo e errado em diversos aspectos e nos
encoraja a tomar uma atitude pelo bem da nossa vida. Porque é isso que é ser
mulher nos dias de hoje, é uma luta contínua pelo direito de viver,
infelizmente”.

Como muitas vítimas, Kaline não reconhecia que estava em uma
relação abusiva. “Acreditava que era o jeito dele, ‘diferente’ de se importar,
mesmo com tantas pessoas ao meu redor, me mostrando o contrário”, conta. “Eram
brigas intermináveis, por ciúmes, por coisas mínimas, sabe? Se a gente estava
numa festa e eu involuntariamente olhava pro lado, já escutava um ‘tá olhando
para quem?’, se eu era simpática, ou sorria para algum amigo dele ouvia ‘gostou
dele? quer ficar com ele?'” Segundo ela, levou mais de um ano para se ver
livre da relação e, hoje, estar mais confortável para falar sobre o abuso.

A artista visual Brenda Rios, 18 anos, também teve um
relacionamento abusivo e o relatou no Twitter na última terça-feira (11). “Acho
que em nenhum lugar você se sente à vontade e mais segura para contar sobre
isso, talvez a internet traga uma abertura maior e um sigilo”, diz. ”Eu venho
de um período de aceitação do que aconteceu e que é necessário agora expor
minha história. Mas, no fundo, claro que eu, como outras mulheres, tenho medo
do que as pessoas vão achar, de ser julgada e muitas vezes de ser condenada”.

A relação de Brenda durou seis meses. “O relacionamento
abusivo, normalmente começa muito velado, como se os abusos que acontecem
fossem apenas preocupações e carinho que a outra pessoa tem por você. É tão
enraizado na nossa sociedade, de que o ciúmes e a preocupação extrema é algo
bom, que essa pessoa apenas se preocupa e te ama, acho que nos sentimos dramáticas
e loucas de achar que isso é algo ruim”.

Brenda relata que o parceiro, entre outras situações de
abuso, queria controlar o que fazia sempre e demandava muita atenção
argumentando que se o amava devia fazer tudo com ele. Ele a fazia se sentir constantemente
culpada. “Tudo que está nas redes sociais ganha mais visibilidade”, diz. “Falar
sobre abusos é extremamente importante para as mulheres não deixarem passar por
essas situações e cortar pela raiz o crescimento da violência contra a mulher.
Acho que traz mais coragem e força para elas entenderem que não é um cuidado, o
que acontece é um abuso sim”.

Rede de apoio

Para a cofundadora do coletivo Mete a Colher, Renata
Albertim, um relacionamento abusivo é todo e qualquer relacionamento que deixa
a mulher em situação de inferioridade ou humilhação, seja por tom agressivo na
fala ou nos gestos. “É toda a relação em que a mulher se sente de alguma forma
inferior, abalada psicologicamente, com medo da relação”.

O coletivo, que surgiu nas redes sociais, tem como principal
missão enfrentar a violência doméstica e ajudar mulheres a entender, evitar e
se livrar de relacionamentos abusivos. “A internet contribui demais, está
aumentando o alcance da informação, que antes ficava em pequenos grupos de
pessoas que trabalhavam com isso”, diz Renata. Ela acrescenta: “Elas se sentem
muito mais seguras para falar na internet, sentem-se mais fortalecidas. Sentem
que não estão sozinhas”. 

O nome do coletivo vai contra o ditado “Em briga de marido e
mulher, não se mete a colher”, por acreditar que é responsabilidade também de
quem está em volta informar e ajudar as vítimas de relacionamentos abusivos.

Outro exemplo de apoio online é o projeto Morrer de
Amor – Apoio Emocional, criado pela ilustradora Lorena Kaz, após viver um
relacionamento abusivo. Ela começou fazendo histórias em quadrinho para tratar
de questões sociais e relacionamentos. Com o lançamento de um livro, fez a
página para divulgá-lo. A intenção era ter um espaço de identificação para
mulheres – e também homens – vítimas de relacionamentos abusivos: uma espécie
de terapia em grupo, como define.

“Para a vítima conseguir sair é importante perceber que tem
alguma coisa errada. Depois, precisa ter coragem de pedir ajuda e de mudar. A
internet é importante nesse processo, a vítima consegue perceber que tem algo
errado vendo outros relatos, se identificando”.

Segundo Lorena, nas comunidades online, as vítimas recebem
apoio inclusive fora da rede.  “Tem muita gente te apoiando e te
encorajando, até mesmo em coisas reais. Tem gente que diz que precisa de um
lugar para dormir e outras pessoas oferecem a própria casa”.

Denúncias

Um dos principais canais de apoio às vítimas é o Ligue 180,
ligação que pode ser feita gratuitamente, de qualquer lugar do país. De acordo
com os últimos dados, divulgados este ano, o Ligue 180 registrou um aumento no
número de denúncias em todo o país de 51% em 2016 em relação a 2015. Foram
cerca de 1,3 milhões, mais de 3 mil atendimentos por dia. Metade dessas
denúncias são de violência física, 31% de violência psicológica e 5% de
violência sexual.

Em 65% dos casos, a violência foi praticada por homens
contra as companheiras. E em 38%, o relacionamento entre a vítima e o agressor
tem mais de 10 anos de duração.

O Ligue 180 foi criado pela então Secretaria de Políticas
para as Mulheres da Presidência da República, em 2005, para servir de canal
direto de orientação sobre direitos e serviços públicos para a população
feminina em todo o país. Hoje a secretaria foi integrada ao Ministério da
Justiça.

Também está disponível uma lista, por estado, da rede
de atendimento em cada cidade. (Agência Brasil) 

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.
Veja também