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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Mudança

Sem atingir a meta, desligamento de sinal analógico é adiado

Receio de pessoas das classes mais baixas não terem acesso à nova tecnologia teria pesado na decisão

Postado em 31 de maio de 2017 por Sheyla Sousa
Sem atingir a meta
Receio de pessoas das classes mais baixas não terem acesso à nova tecnologia teria pesado na decisão

Mardem Costa Jr.

O desligamento do sinal analógico de televisão, que deveria ser realizado integralmente hoje, será realizado de forma escalonada até o dia 21 de junho. Inicialmente sairão do ar as repetidoras de canais religiosos e, por último, as emissoras afiliadas às grandes redes de televisão. A informação foi confirmada oficialmente na tarde de ontem (30) pelo presidente do Grupo de Implantação do Processo de Distribuição e Digitalização de TV e RTV (Gired) e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Juarez Quadros, durante reunião de avaliação realizada em Brasília.

Oficialmente, a justificativa é o não alcance da meta de 93% dos domicílios aptos a receber o sinal digital – a última pesquisa feita pelo Ibope Inteligência divulgada ontem (30) apurou média de 89% nos 29 municípios da Grande Goiânia. Todavia o receio das emissoras de perder uma fatia da audiência nas classes C, D e E pesou a favor do adiamento.

De acordo com informações do portal Notícias da TV, a TV Serra Dourada, afiliada ao SBT, teria sido uma das principais vozes favoráveis ao não-desligamento do sinal na data de hoje. A emissora temia perder uma fatia do público das classes mais baixas, onde possui boa parte da audiência cativa, pela falta de conhecimento ou mesmo de preparação para o novo sistema de transmissão. Procurada por O Hoje, a TV Serra Dourada não se posicionou até o fechamento da edição.

A interrupção da transmissão analógica – ou switch off, como é chamada – tem dois objetivos principais: liberar espaço para a implantação da internet banda larga móvel de quarta geração (4G) em 700 MHz e a migração das rádios AM para o dial FM na faixa entre 76,1 a 87,3 MHz. 

Vale lembrar que a primeira data do switch off na capital goiana era 28 de agosto do ano passado. Por ser durante as eleições municipais, houve um acordo para que somente Rio Verde (GO) e Brasília (DF) migrassem de tecnologia ainda em 2016. Ambas as cidades tiveram atrasos na migração.

As telefônicas aguardam a limpeza do espectro de 700 MHz – compreendido entre os canais 52 a 69 – para aprimorar a cobertura de internet banda larga 4G sem a necessidade de construção de sistemas de melhoramento de sinal, como ocorreu com a faixa de 2,5 GHz, atualmente em uso. Goiânia foi considerada, por um levantamento feito por entidades do setor no ano passado, como uma das cidades mais complicadas para a implantação de antenas de celular.

O sinal digital chegou a Goiânia em agosto de 2008, quase um ano após a estreia na capital paulista, em dezembro de 2007. Das geradoras sediadas na capital goiana e em Anápolis, somente a TV Capital não está apta a transmitir em digital. A emissora, ligada à Renovação Carismática Católica, organiza uma campanha nas redes sociais para angariar recursos para a compra dos equipamentos necessários.

Beneficiados vendem Kit digital

De acordo com Rommel Sena, representante da Seja Digital, entidade responsável por operar a digitalização dos canais de televisão, foram distribuídos até ontem mais de 350 mil kits destinados às famílias do Cadastro Único de programas sociais do Governo Federal (CadÚnico) – a base prevista era de 290 mil famílias nas 29 cidades atingidas.

Sena sublinha que muitas famílias atendidas com os kits ainda não fizeram a instalação das antenas e conversores. “Vamos reforçar a campanha nos locais onde percebemos que as pessoas não instalaram o kit para acelerarmos o número de famílias atendidas”, assinala.

O kit digital contém uma antena, um conversor e um controle remoto. Para ter acesso ao mesmo, é preciso realizar um agendamento através do site sejadigital.com.br ou através do telefone 147 e informar o número do Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou o Número de Inscrição Social (NIS) do responsável familiar. O atendimento só é realizado com data e hora marcados.

No entanto, não são incomuns casos de pessoas inscritas no CadÚnico que retiraram o conversor e venderam o aparelho por valores na faixa de R$ 120 a R$ 150 reais. A diarista A.B., 28, admitiu ao O Hoje que retirou o equipamento na sede dos Correios para vendê-lo. “Me ligaram avisando do direito [do conversor] e eu precisava de um dinheiro, retirei [o aparelho] lá e vendi. Valeu a pena, pois precisava pagar umas contas”, confessa. 

Comerciantes relatam pouca procura pelas TVs

Marcus Vinícius Beck

Pouco movimento nas lojas de eletrodomésticos do Setor Central. Um senhor de aproximadamente 42 anos entrou e surpreendeu-se com o preço dos televisores. “Tudo isso?”, perguntou ele, espantado e virando as costas para ir embora. “O preço da loja é muito alto”, explica a vendedora Aiuziane à reportagem do O Hoje.

A equipe do jornal andou por três lojas, no cruzamento entre a Avenida Anhanguera e Rua 24, e contou cerca de 80 pessoas dentro dos estabelecimentos, mas ninguém demonstrou interesse em olhar televisores. “É muito caro e no momento estou sem dinheiro. Vou optar pelo conversor digital mesmo”, assegura uma senhora, que não quis se identificar.

Já Railson Rodrigo, responsável pelo setor de vendas de eletrodomésticos da rede de eletros, afirma que ainda há pessoas atrás de conversores, sobretudo aqueles que não querem se desfazer das televisões antigas, mas no momento a demanda é massivamente por televisores digitais. “Realmente quase ninguém está à procura de conversores. Aqui a maioria dos clientes deseja mesmo verificar preço de TVs já com o sinal digital”, afirma. 

Mas ainda chegam pessoas que não compreendem a diferença entre televisor e conversor. Railson diz que na maioria das vezes tem de explicar para os clientes o que o sinal digital vai cair em desuso hoje. “Depois de conversar sobre o benefício dos televisores, o cliente quase sempre vê que não há proveito no conversor”, relata Railson. 

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