Especulação imobiliária gera trânsito caótico na zona norte
Região sofre com aumento de construção de imóveis sem planejamento
Marcus Vinícius Beck
Andréia Cristina Tavares, de 44 anos, suspirou ao abrir a porta de sua casa, na Vila Jaraguá, na zona norte de Goiânia. “Quando vim morar aqui não havia tanto prédio na região”, afirma ela, que é professora de Geografia, natural do Paraná e mora há sete anos na capital. Andréia ficou surpresa quando as construtoras começaram a erguer desenfreadamente prédios pelo bairro. Carros, que antes eram moderados pelas ruas da Vila Jaraguá, agora se tornaram “comuns e corriqueiros”.
Goiânia respira com ajuda de aparelho, e é vítima de uma enfermidade que compromete a maioria das grandes cidades brasileiras, a especulação imobiliária. Ao andar pelas ruas da Nova Vila e Vila Jaraguá, próximos à Sociedade Goiana de Pecuária e Agronegócio (SGPA), o que se vê são inúmeros edifícios sendo construídos do dia para noite. Sem dúvida, as construções não contribuem para o bem-estar da população, uma vez que os moradores têm de viver entre barulhos de automóveis, longos engarrafamentos antes de sair de casa para encarar a labuta diária e roubos e furtos que acometem a região.
O especialista em trânsito, Antenor Pinheiro, afirma que é necessário um planejamento para se ocupar o espaço urbano, de modo a organizar a forma com que é distribuído o fluxo de carros na região norte. “Houve um crescimento muito forte que acabou prejudicando fortemente o fluxo viário da região norte”, declara Antenor, dizendo que historicamente não há planejamento do espaço urbano em Goiânia. “O loteamento é liberado, mas não há sequer alguma garantia para o propósito de loteamento”, completa.
Andréia reclama que o bairro se tornou perigoso nos últimos tempos. “Hoje, não dá para sair nas ruas, a gente tem medo de ser assaltada”, diz ela, que já foi roubada nas proximidades de uma escola, perto de sua casa. Depois do susto, ela pensa duas vezes antes de ir comprar pão no mercado. “Peço para o meu marido me levar, porque todo dia ouço que alguém foi roubado. Outro dia, um rapaz chegou a ser espancado por ladrões às 22h”, relata. Fã de caminhada, a professora prefere ficar em casa a se arriscar pelo bairro.
Procurada pela reportagem, a construtora Yes, responsável pelas obras dos principais edifícios da Nova Vila e Vila Jaraguá não respondeu até o fechamento desta edição.
Formação da região norte
Formada por operários, a Nova Vila fica ao lado da Marginal Botafogo, na zona norte da capital. Ao contrário da região Sul da cidade, que é sumariamente formada por gente com poder aquisito maior, e possui desaceleração imobiliária, na região norte não há algum planejamento em trânsito. “Um planejamento adequado à região já atenuaria os problemas enfrentados pela população”, diz Antenor.
No extremo norte, o Setor Goiânia II é conhecido por conjuntos habitacionais que incharam a região. É comum se ver filas de carros em horários de pico tumultuando o tráfego na região e deixando motoristas estressados com a mão na buzina.
Com prédios sendo erguidos do dia para a noite, a condição de vida na região norte mudou drasticamente. O advogado e professor universitário, Luiz Claudio Mediale, diz que o Plano Diretor, que é uma espécie de estatuto das cidades, estabelece desaceleração da região norte, especialmente da Nova Vila. Mas ele declara que não há alguma construção que infringa o Plano. “É necessário que a sociedade civil, como a OAB, levem informações à sociedade”, completa.
Além do trânsito, o barulho
Perturbação. Certamente, essa é uma das palavras mais usadas por moradores da região norte de Goiânia. A professora Andréia Cristina Tavares diz que a tradicional Pecuária incomoda. “Até hoje não compreendo como uma cidade de um milhão de habitantes têm uma festa do porte da Pecuária praticamente no centro”, queixa-se a professora.
Durante os oito dias de festa, a Pecuária importuna vários moradores da região. Próximo ao parque, por exemplo, funciona uma maternidade. E, não muito longe dali, pessoas se recuperam no Centro de Reabilitação e Readaptação (CRER). Mas o som corre madrugada à dentro e, aparentemente, ninguém quer mudar o parque da região. “É um absurdo. Eu fico pensando como o que pode uma cidade deste tamanho ter um parque de exposições agropecuário em pleno centro”, reclama ela.
A reportagem entrou em contato com a Sociedade Goiana de Pecuária e Agronegócio, mas não obteve respostas até o fechamento desta edição.