Morrem mais duas crianças vítimas da tragédia em Janaúba
Polícia Civil afirma que crime foi premeditado. No total, oito pessoas morreram em consequência da calamidade
Victor Lisita*
O
número de vítimas mortas na tragédia em Janaúba, no norte de Minas Gerais, chegou
a oito. A fatalidade foi provocada pelo vigia Damião Soares dos Santos, que
ateou fogo em várias crianças, funcionários e ao próprio corpo. No início da
tarde desta sexta-feira (6), autoridades confirmaram a morte de mais duas
crianças, ambas com 4 anos de idade e do sexo feminino.
Uma
das meninas, que teve 80% do corpo atingido pelas chamas, havia sido reanimada
após sucessivas manobras de reanimação cardiopulmonar, porém, no início da
tarde de hoje, ela faleceu no Hospital Santa Clara. A professora Helley Abreu
Batista, de 43, também morreu devido às queimaduras.
Premeditado
Os
primeiros levantamentos da Polícia Civil (PC) para tentar desvendar o ataque
contra a creche Gente Inocente mostram que o crime foi premeditado. Galões de
combustíveis foram encontrados na casa de Damião, de 50 anos. Segundo a
corporação, o vigia era portador de doenças mentais e obcecado por crianças.
Ele também pode ter escolhido a data, pois seu pai havia morrido há exatos três
anos. O homem teria avisado aos familiares que presentearia a todos com sua
morte em breve.
A
tragédia aconteceu no meio da festa de dia das crianças, antecipada por conta
do feriado na semana que vem. Testemunhas relataram à PC que, com uma mochila
nas costas e um pote azul nas mãos, o vigia entrou no salão, fechou a porta e
atraiu a atenção dos pequenos ao dizer que daria picolé a eles. No momento do
atentado, apenas as crianças do berçário não participavam da festa.
O
delegado Renato Nunes Henriques, chefe do Departamento da Polícia Civil de
Montes Claros, informou que Damião fabricava picolé em casa. Ele usava etanol
como insumo na produção e guardava em sua residência. Misturado com água, o álcool
se mantém em uma temperatura mais baixa.
Comoção
No
Twitter, a hashtag com o nome da cidade alcançou rapidamente a liderança como a
mais postada no Brasil. No mundo, a palavra estava em quinto como a mais
utilizada. Várias mensagens foram publicadas por internautas que prestaram
solidariedade aos familiares e se mostraram estarrecidos com o que ocorreu na
cidade.
Os
corpos das vitimas começaram a ser velados em casa, na noite de quinta-feira (5).
Os enterros ocorrem separadamente no cemitério da cidade. O João XXIII já
recebeu, até o fim da manhã desta sexta, 13 pessoas que foram queimadas na
tragédia. Desse número, três foram transferidas numa situação um pouco melhor
para o Hospital Odilon Behrens, na Região Noroeste, para abrir leitos para os
casos mais graves.
Ajuda
A
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) colocou à disposição do
Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, doações de pele para
apoiar no tratamento das vítimas. O presidente da SBCP, Luciano Chaves, informou
que já fez contato com o Banco de Peles da Santa Casa de Misericórdia de Porto
Alegre (RS), que disponibilizou todo o estoque para atender as crianças que
precisarem.
Daqui
de Goiânia, a vereadora Dra. Cristina Lopes, que também é sócia fundadora da
Sociedade Brasileira de Queimaduras, entrou em contato com o João XXIII para
oferecer a ajuda que for necessária para tratar das vítimas. “Nós sabemos da
dificuldade em qualquer local do interior para cuidar de pacientes queimados,
ainda mais com a gravidade desse caso. Eles estão muito abalados com essa
catástrofe”.
“Queimaduras
como a da menina de 4 anos que faleceu hoje são muito complicadas. Crianças são
muito instáveis, elas correm, se debatem, além de não terem um sistema
imunológico para lidar com um trauma dessa natureza”, explica a vereadora. Na
conversa com o Hospital de Pronto-Socorro, Dra. Cristina foi informada que é um
milagre algumas vítimas estarem vivas devido ao quadro de queimaduras.
“Peço oração para a família dessas pessoas. É um momento em que o Brasil precisa se voltar para consolar essas pessoas”, encerra a vereadora. O João XXIII está recebendo medicamentos, como dipirona e soro, além de luvas e outros materiais necessários para manter o tratamento das pessoas que estão lá.
*Victor Lisita é integrante do programa de estágio do jornal O Hoje, sob a supervisão de Naiara Gonçalves.
Com informações do jornal Estado de Minas. (Foto: Reprodução)