Crescimento de Goiânia pode agravar falta de água
Goiânia é considerada a 12° cidade mais populosa do Brasil enquanto 66% das estações fluviais são insatisfatórias

Marcus Vinícius Beck*
Goiânia é a 12° cidade mais populosa do Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com aproximadamente 1,4 milhões de pessoas. Todas essas pessoas – sobretudo as que vivem em lugares periféricos – sofrem com problemas oriundos da seca. Tornou-se comum setores como o Crimeia Leste, na região norte da Capital, ficar sem água durante o período da tarde.
Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) afirmaram, em estudo, que 66% das estações fluviais de Goiás são consideradas insatisfatórias, o que corresponde a mais da metade dos rios encontrados no Estado. “Não sabemos o quanto de água temos atualmente, como poderemos ofertar mais para novos produtores, de modo que não falte água para produtores rurais”, explica o geógrafo Márcio Zancopé, que é professor do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA) da UFG.
A geógrafa Andréia Cristina Tavares, que mora na Vila Jaraguá, próximo ao Parque Agropecuário, relata que a falta de água na região é constante. Segundo ela, a crise hídrica está relacionada ao desmatamento, que pode se agravar se não for feito nada para conscientizar a população sobre os problemas que são gerados pela economia capitalista. “Uma das razões para perda de vazão dos rios estará no desmatamento das áreas do Cerrado”, afirma a estudiosa.
O geógrafo Márcio Zancopé explica que o agronegócio demanda volumes elevados de água, uma vez que para se produzir 1kg de carne são necessários 15 mil litros de água. Ele diz ainda que a agricultura brasileira é responsável por 75% do consumo do recurso somente no Brasil. Do ponto de vista demográfico, o crescimento humano eleva o consumo de água, mas pode ser arriscado em estações em que a seca diminui o nível dos rios.
“Há algumas formas de se evitar a falta de água. Primeiramente, deve-se aplicar a legislação de proteção aos manancias como o Código Florestal, por exemplo”, esclarece Zancopé, dizendo que algumas providências têm de ser tomadas nos centros urbanos, cuja densidade demográfica é elevada. “Nas cidades, além de recuperar as matas em torno dos mananciais, aumentar a área permeável da superfície do solo urbano, arborização urbana, de modo a água das chuvas possam infiltrar no solo, reabastecendo os aquíferos freáticos ao invés de se perder pelas enxurradas”, finaliza.
A reportagem entrou em contato com Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima) para obter esclarecimentos sobre a gestão da água no Estado de Goiás e no munícipio de Goiânia, mas não houve resposta.
Serra da Mesa
Considerados um dos maiores da América Latina, o reservatório de Serra da Mesa chegou a um nível baixo, registrando 9% de sua capacidade total. O nível da atual água está a 35 metros abaixo da cota mínima que a represa comporta, o que equivale a um prédio de 14 andares. Se o problema atual for comparado com os 20 anos do reservatório, são 26 metros abaixo do que se tinha regularmente.
Recentemente, uma ponte que liga os municípios de Uruaçu e Niquelândia, no norte do Estado, que ficou coberta pelas águas por muito tempo, voltou a aparecer na paisagem. Em seus melhores dias, o lago Serra da Mesa, que possui seu curso principal formado pelo Rio Tocantins, chegou a guardar o equivalente a 55,4 bilhões de metros cúbicos de água. No entanto, a escassez da chuva na região, que chega a quatro meses, levou a lembrança para a memória dos moradores e pescadores do local.
Agronegócio
A produção de carne, que além de influir sobre a água, também pode prejudicar o clima. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Comércio (FAO, na sigla em inglês), 30% das emissões de gases-estufa provêm da atividade agrícola. Estima-se, por exemplo, que o aumento de metano e CO2 na atmosfera atingirá regiões do planeta cuja densidade demográfica é alta. (Marcus Vinícius Beck é integrante do programa de estágio do Jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)