Lentes piratas que prejudicam
Dois terços dos óculos de sol comercializados em Goiânia são vendidos em estabelecimentos ilegais. Especialistas alertam para riscos à saúde dos olhos
Wilton Morais*
Em Goiânia a temperatura máxima para hoje é de 37ºC, conforme o portal climatológico, Clima Tempo. A incidência dos raios solares tem colaborado para uma maior procura aos óculos de sol. Dessa forma, dois terços dos consumidores mantém a preferência pelo produto pirateado.
A vendedora de óculos Ana Santana, nunca utilizou óculos piratas. E assegura que sempre teve consciências dos riscos a saúde. “Quando saio para a rua, tiro o de grau tradicional e coloco o de sol. Evito a poeira, a poluição e os raios solares com ele”, disse Ana. “Com a minha família não é diferente. Nunca deixei que utilizassem óculos piratas”, complementou Ana.
De acordo com a gerente de ótica, Maura Ferreira, com 35 anos neste mercado, em períodos de maior calor as vendas de óculos aumentam em até 20%. “Mesmo estando sem dinheiro, com a crise, há procura. Utilizar os óculos piratas é loucura, realmente faz muito mal para a saúde, gera cansaço e outras coisas. Não combate os raios ultravioletas”.
Maura assegura que é possível encontrar óculos de qualidade e com preços acessíveis. “As vendas aumentam em setembro e outubro, por conta do calor. Essa semana mesmo eu realizei uma venda para um casal, que nunca utilizou óculos. Mas devido a uma viagem, resolveram comprar os óculos para garantir a proteção dos olhos”, contou.
Em outra loja popular visitada pelo O Hoje, o gerente explicou que neste ano as vendas de óculos de sol cresceram em toda franquia. “Esse mercado teve acréscimo de 15. Não foram apenas os óculos de sol, mas os multifocais também”.
Na terceira loja visitada pela reportagem, a vendedora Márcia de Almeida também apontou crescimento nas vendas. “Realmente foi melhor que o ano anterior. Vendemos muito em meses de férias. Mas, realmente, os óculos piratas atrapalham as vendas e prejudicam a saúde”, disse. Na loja de Márcia, assim como na loja da gerente Maura, os óculos variam no preço, entre o mais barato de R$ 150 até R$ 650.
72% dos óculos vendidos na Capital são piratas
De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Material Óptico, Joias, Relógios, Cine-Foto e Bijuterias de Goiás (Sindióptica), 72% dos óculos de sol comercializados, em Goiânia, são vendidos em estabelecimentos ilegais. O número representa 2/3 das vendas na cidade.
Para o sindicato, o número é preocupante. Além de proporcionar riscos a saúde como a aparição de pterígio – formação carnosa que avança sobre a córnea e até o surgimento de cataratas. De acordo com o médico aftalmologista Leonardo Mariano Reis, o uso de lentes de origem duvidosa e sem qualidade oferece graves danos aos olhos e até pode causar cegueira.
Os efeitos da prática do uso inadequado também são afetados pela luz solar por meio dos raios ultravioletas. Além disso, o uso inadequado colabora para a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), causadora de uma mancha que pode tornar em cegueira. “Ao aportar lentes de origem duvidosa e sem qualidade, o paciente pode trazer danos aos olhos, como aumento de radiação”, explica o médico.
Leonardo Reis também sugere que o material da lente deve ser considerado para o uso de criança e esportistas, pelos riscos que oferecem. “Policarbonato e trivex são mais seguros, em caso de quebra, do que lentes de cristal”, exemplifica.
Além dos inúmeros problemas da pirataria, o uso de materiais duvidosos podem conter substancias cancerígenas. O que se faz necessária a aquisição em locais conhecidos, onde se possam saber as procedências do produto. Esses materiais também podem ser responsáveis por queimar a pele do consumidor e até deformar o rosto do usuário. De acordo com Leandro Rosa, a queimadura pode acontecer em temperatura de 40ºC.
Os critérios de conformidade são estabelecidos pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) que exige que os produtos sejam certificados conforme as normas do INMETRO e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). (Wilton Morais é integrante do programa de estágio do Jornal O Hoje, sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)