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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
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Futuro

200 mil goianos farão Enem

Na reta final para o Exame, estudantes de todo o país se preparam para não fazer feio investindo na calma para conseguir vaga na universidade

Postado em 4 de novembro de 2017 por Sheyla Sousa
200 mil goianos farão Enem
Na reta final para o Exame

Guilherme Araujo*

É às que 7h da manhã que Anna Raphaella Matos, 18 anos, dá início a sua maratona de estudos. Faltando apenas algumas horas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ela conta que viveu até o ano passado com os avós em Anicuns, município do interior a 80 km da Capital. Ainda no 3º ano, resolveu se mudar para Goiânia em função do sonho de ingressar na faculdade de Medicina. “Toda a minha família apóia integralmente. Até o momento estou bastante tranquila e espero permanecer assim”, brinca.

Em janeiro deste ano, assim que terminou o ensino médio, chegou a conseguir ótimas colocações em duas das principais universidades do Estado. Anna foi aprovada em 5º lugar em Farmácia na Universidade Estadual de Goiás (UEG) e em 3º lugar para Biomedicina na Universidade Federal de Goiás (UFG). Todavia, sentiu que não era o momento. “Medicina é de fato o que eu amo. Tento não pensar em possibilidades de não aprovação e estou com um sentimento positivo”.

Há 12 anos na profissão, Victor Hugo Barbosa leciona História em um colégio particular de Goiânia. Neste fase, segundo ele, o clima é de expectativa geral. “Agora se vive o momento de maior tensão, então buscamos passar aos candidatos não só conteúdo, mas também equilíbrio emocional. É muito importante tranqüilizá-los, acalmá-los”.

O conteúdo, para o professor, deve ser revisto a longo prazo. “Aconselho na véspera da prova, que o aluno procure descansar física e psicologicamente. Não adianta se matar de estudar, ler, resolver listas”. Quanto às questões de História que podem cair, Victor Hugo é enfático e ressalta que dominar temas como Revolução Russa, Era Vargas e escravidão no Brasil é de suma importância.

Para ele, a receita de sucesso residiria em 3 “C’s”. “É preciso Conteúdo, adquirido ao longo do ano; Concentração, para a realização da prova; e claro, Calma, para que não haja o famoso ‘branco’ ou mesmo um bloqueio de raciocínio”. Anna Raphaella endossa esse discurso e diz que buscou desacelerar desde a última semana. “Continuo estudando, mas de uma forma mais relaxada. Minha rotina de estudos geralmente compreende 14h do meu dia, então agora tenho somente lido, uma atividade que já faço por prazer – e que de uma maneira ou de outra, posso relacionar com a prova de Redação”.

Sob este mesmo viés é que o estudante paraense Gabriel Gomes Macedo tem se desligado dos estudos nos dias que antecedem as provas: “Tenho passado o tempo com a minha namorada e colocado as séries em dia. Meu objetivo é conseguir uma vaga em Direito na Universidade Federal de Goiás (UFG)”.

Estrutura

A nova configuração do Enem continua seguindo parte do padrão estabelecido ao longo dos seus 18 anos de realização, mas prepara nesta edição uma série de mudanças às quais vale a pena estar atento. Em um formato inédito, os testes que antes eram aplicados em dois dias consecutivos agora acontecem com o intervalo de um fim de semana. Fruto de uma escolha do público, feita por meio de uma consulta pública promovida pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP), a mudança agradou principalmente a quem precisa se deslocar em grandes distâncias e a estudantes sabatistas – que não precisarão de esquemas especiais para realizar as provas.

O valor da inscrição também passou ileso, sem alterações, custando aos interessados R$ 87,54 – cerca de R$ 3 mais barato do que a edição passada. Por medida de segurança, os cadernos de prova passarão a ser personalizados, com nome e número de inscrição dispostos na capa. Virão juntamente os cartões de resposta encartados na prova, mas ainda manterão o formato em quatro cadernos de cores diferentes. Dividida entre exatas e humanas, a estratégia para resolução das provas também muda. No primeiro domingo, serão realizadas as provas de Redação, Linguagens e Ciências Humanas, contabilizando 5h30 de duração. Já no segundo, acontecem as provas de Matemática e Ciências da Natureza, com 1h a menos de duração. 

Controvérsia

Alguns pontos específicos provocaram polêmica. A partir de agora o Enem não emite mais certificados de conclusão do ensino médio – um fato refletido no número de inscrições – o menor desde 2013. Outro aspecto criticado foi a extinção da regra prevista no edital do exame que diz que quem desrespeitar os direitos humanos na prova de redação pode receber nota 0. A decisão, solicitada a pedido da Associação Escola Sem Partido, argumenta que a regra seria uma “punição no expressar de opinião”. Ainda de acordo com a associação, “Ninguém é obrigado a dizer o que não pensa para poder ter acesso às universidades”. Mas a regra pode mudar ainda durante o fim de semana, a medida será apreciada pela presidente do Superior Tribunal Federal, a ministra Cármen Lúcia. 

O MEC disse em nota que todos os seus atos dialogam com o respeito irrestrito aos direitos humanos e, por meio da Cartilha do Participante, uma espécie de documento que esclarece e expõe critérios de correção da prova de redação, o desrespeito à regra ainda continua com plena autoridade para zerar a prova de Redação. Ideias e ações como tortura, mutilação, execução sumária e “justiça com as próprias mãos” não são bem-vindas. Incitação a violência e discursos carregados de ódio por questões raciais, étnicas, de gênero, credo ou origem também são passíveis de nota 0.

Há quem faça suas apostas quanto ao tema da Redação. A professora de Redação e Língua Portuguesa Mágda Silva conta que reuniu para as turmas de terceira série em que dá aulas, em um colégio da rede estadual, 15 prováveis temas. Para ela, as apostas ficam em pautas como homofobia, questões de mobilidade urbana, fake news e bullying.

No entanto, Mágda ainda acredita que haja grande chance de surpresa no momento da revelação. “Podemos listar uma infinidade de assuntos e sermos surpreendidos, como aconteceu com uma grande quantidade de pessoas nas duas últimas edições”, relembra.  Entre as curiosidades, o número de inscritos que optaram por usas nome social se manteve na média. Em 2016, 408 pessoas solicitaram o uso – em 2017, apenas 350 pessoas solicitaram. 

*Guilherme Araújo é integrante do programa de estágio do jornal O Hoje. (Foto: Wesley Costa)

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