Entre o ciclo, efemeridade e finitude
Mostra, na Vila Cultural Cora Coralina, explora conceito de origem e destruição
GUSTAVO MOTTA*
A Vila Cultural Cora Coralina recebe, neste sábado (16) às 19h, a mostra Mirante, criação visual da artista Kássia Borges. A realizadora visual começou a trabalhar o conceito de ‘origem’, que ao mesmo tempo provoca surgimentos e destruição. As produções apelam a padrões ritualísticos, trabalham o sagrado e profano, e contam com a curadoria de Vinícius Figueiredo.
“Trabalhar com a Kássia foi um grande desafio, porque seu trabalho envolve uma pesquisa com o mito da origem indígena, a ancestralidade e opressão da mulher”, aponta Vinícius. A artista lecionou como professora de artes na Universidade Federal de Goiás (UFG), e teve Vinícius como aluno. “Nesse sentido, a exposição mostra o retorno de um ex-aluno como curador da mostra de sua professora”, pontua o curador.
Exposição
Mirante apresenta obras de diversas linguagens, que exploram superfícies bidimensionais e espaços em três dimensões. Elementos como argila e cerâmica compõem a maioria das obras. As criações de Kássia Borges abordam o ciclo de gestação, origem e finitude, e o uso do barro serve de alegoria ao início, destruição e recriação de todas as coisas.
“Nós fomos feitos do barro, e ao pó voltaremos um dia”, conta a artista. O trabalho também aborda conceitos femininos – como a violência de gênero e o papel sagrado da mulher na criação. “Todos os trabalhos evocam à genitália feminina como agente da vida e do início das coisas”, reforça. Kássia acredita que vivemos um momento ideal para se discutir violência de gênero, feminismo e o espaço da mulher na sociedade.
“Quem comparecer à exposição vai começar a pensar um pouco sobre a efemeridade das coisas”, pontua. Os temas da mostra abordam questões pensadas pela artista, desde 1980, quando começou a atuar nas artes. “Eu não enxergo a arte como mera decoração”, conta. Kássia acredita que o espaço deve ser usado pelo artista para transmitir ideias e olhares.
Artista
KássiaValéria de Oliveira Borges tem origem indígena, e se inspirou no mito karajá sobre a origem para compor a obra. A artista trabalha com arte contemporânea, e já trabalhou com artistas conceituados como o alemão Joseph Beuys, um dos mais influentes artistas europeus do século passado. Kássia Borges também tem passagem pelas Bienais de São Paulo e do Mercosul, que acontece em Porto Alegre.
A mostra Mirante compõe parte do acervo criado pela artista, cujo trabalho integra acervos em museus nacionais e internacionais. Em 2007, Kássia participou de duas exposições na França e lançou o livro Origine, lançado em francês. Na publicação, a autora remodela o mito karajá da criação, com a origem da mulher condicionando o surgimento do homem, e a união de ambos constituindo os outros seres vivos.
*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov
SERVIÇO
Exposição ‘Mirante’
Quando: de 16/12 a 31/1/2018 – de segundas às sextas-feiras
Onde: Vila Cultural Cora Coralina (Rua 3, s/nº, Centro, Goiânia)
Horários: 19h (abertura); demais dias: das 9h às 17h30
Entrada gratuita