Guerra do Iêmen faz três anos e provoca crise humanitária
O conflito começou no fim de 2014, quando os rebeldes houthis, apoiados pelo Irã, tomaram a capital do Iêmen. ONU afirma que 20 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária emergencial
A Guerra do Iêmen completa três anos nesta segunda-feira
(26), data que marca o início da intervenção da coalizão árabe no país, um
movimento que ampliou o conflito e causou a pior crise humanitária do mundo em
2017, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Os três anos de guerra foram “realmente dolorosos”, avaliou
em entrevista à Agência EFE o subsecretário do Ministério de Relações
Exteriores do governo dos rebeldes houthis, Faisal Amin Abu-Ras. “Todas as partes estão se dando conta que a única solução
[para o conflito] é política”, disse o diplomata.
A guerra começou no fim de 2014, quando os rebeldes houthis,
apoiados pelo Irã, tomaram a capital do Iêmen. Os confrontos se espalharam por
todo o país a partir de 26 de março de 2015, com o início da intervenção
militar da aliança de países árabes sunitas, liderada pela Arábia Saudita. Desde o início da ofensiva, mais de 10 mil pessoas morreram
nas zonas controladas pelos rebeldes. Os dados foram divulgados em janeiro
pelos houthis e não confirmados por outras fontes.
Entre as vítimas, mais de 5 mil seriam crianças. Além disso,
quase todos os menores de idade no país – cerca de 11 milhões – precisam de
ajuda para sobreviver, de acordo com relatório divulgado pelo Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef), também em janeiro deste ano.
A ONU afirma que 20 milhões de pessoas, do total de 26
milhões que vivem no país, precisam de ajuda humanitária emergencial. Ao todo,
7 milhões de iemenitas dependem exclusivamente dos alimentos fornecidos pelas
organizações internacionais para sobreviver. “Tínhamos a esperança de que a guerra terminasse dois ou três
meses depois do início da intervenção. Tínhamos a esperança de voltar para as
casas”, disse o iemenita Saed Zabet Shaya, que fugiu da província de Saada, no
nordeste do país, em abril de 2015.
Desde então, Saed vive com seis familiares em uma pequena
barraca de um acampamento de desalojados, sem atendimento médico ou escola,
criado há 30 quilômetros ao norte de Sana, a capital do Iêmen. “Antes da guerra, eu trabalhava em uma fazenda, mas a guerra
destruiu tudo”, disse Saed.
No mesmo local, o também iemenita Abo Yaher sobrevive com
outros oito parentes e só deseja que a guerra acabe. “Ela destruiu o país.
Todos, inclusive os houthis e a Arábia Saudita, são os responsáveis pela
devastação do Iêmen”, afirmou.
Apesar dos pedidos de paz da população, o diplomata houthi
ressalta que a guerra continuará. No entanto, o representante do grupo diz que
os rebeldes estão dispostos ao diálogo para preservar a dignidade e a honra do
Iêmen. “A resistência do povo iemenita é lendária. Esse povo
aguentou o que ninguém neste mundo pode aguentar. E, apesar do alto custo que
foi pago, continuará aguentando”, disse Abu-Ras.
Para tentar solucionar o conflito, a ONU nomeou em fevereiro
o britânico Martin Griffiths como novo enviado especial do Iêmen. “Pedimos às partes que participem ativamente e aproveitem a
oportunidade da chegada do novo enviado da ONU para avançar no processo de
paz”, disse a embaixadora da União Europeia para o Iêmen, Antonia Calvo Puerta,
sobre a indicação de Griffiths.
Calva Puerta disse que ouviu “palavras encorajadoras” para
solucionar a disputa na reunião, mas pediu que os discursos sejam transformados
em prática nos territórios em conflito.
A grave situação humanitária no país piorou desde novembro,
quando a coalizão árabe decidiu fechar todos os portos e aeroportos do Iêmen em
resposta ao lançamento de um míssil balístico por parte dos houthis contra a
Arábia Saudita.
Além disso, o Iêmen sofre uma grande epidemia de cólera, que
se espalhou nos últimos meses, afetando 1,1 milhão de pessoas. Segundo a ONU,
mais de 2,2 mil pessoas morreram por causa da doença.
A ONU alertou em dezembro que mais de 8 milhões de pessoas no
Iêmen poderiam morrer de fome se não recebessem ajuda urgentemente. Existe um
grande risco de uma crise de fome generalizada nos próximos meses caso a Arábia
Saudita não suspenda o bloqueio.
Fonte: Agência Brasil e Agência EFE. (Foto: Reprodução/AP Photo/Osamah Abdulrhman)