Astro do Sonic Youth, Lee Ranaldo faz show experimental no CCUFG
Apresentação aconteceu na noite desta terça-feira (8), na segunda noite do Festival Bananada. Artista segue em turnê pelo país promovendo disco Electric Trim
Guilherme Araujo
A crueza da Nova York dos anos 1980, que tanto serviu de
influência para artistas como Robert Mapplethorpe e Jean Michel Baquiat, é algo
que não se pode tocar, mas se pode sentir. Em sua primeira vez em Goiânia, o
guitarrista Lee Ranaldo, ex-Sonic Youth, tocou na noite desta terça-feira (8)
para uma platéia lotada no Teatro Centro Cultural UFG.
A apresentação, um poema visual, faz parte dos showcases de
abertura da vigésima edição do Festival Bananada, que acontece ao longo desta
semana em diferentes pontos da capital.
À primeira vista, Lee Ranaldo tem olhos que refletem um tipo
de doçura que contrasta com o universo que o moldou de forma unânime um dos
guitarristas mais experientes do rock. A postura calma e tranqüila não durou
muito, porquê assim que as luzes foram apagadas e foi ouvido o som icônico da guitarra,
houve uma conversão instantânea. Parecia querer provar de uma vez por todas,
mesmo indiretamente, que o rock definitivamente não morreu.
Diferente da proposta acústica apresentada no dia anterior,
em que tocou canções de seu último trabalho solo, o elogiado Electric Trim, o que se viu ontem foi
uma escola de experimentação, algo bastante característico da primeira parte da
obra do Sonic Youth, grupo nova-iorquino de rock alternativo que ajudou a
fundar ao lado de Kim Gordon e Thurston Moore.
Com atraso de cerca de 30 minutos, a apresentação começou
com Lee surgindo pelo lado esquerdo do palco, com duas baquetas nos bolsos e
uma guitarra multicolor nos braços – não precisava de muito mais. Com duração
de 1h10, a espécie de instalação ao vivo contou com projeções de jovens
dançando frenéticamente em uma Nova York agitada, árvores e poemas visuais que,
a todo momento, mesclavam-se com a sombra do músico em constante movimento.
Diante de um deleite em relação aos elementos responsáveis
pela peculiaridade de seu processo criativo, o uso de celulares durante a
apresentação, algo que não raro incomoda a artistas das mais variadas esferas,
não foi um problema. O músico utilizou o próprio iPhone para projetar uma
sirene, enquanto poemas curtos soavam pelos autofalantes.
Nesse sacrifício musical, ora psicodélico, ora rudimentar, Lee
Ranaldo procurou sons pelas paredes e açoitou seguidas vezes a guitarra, como
se a estivesse emulando para extrair novos experimentos. Pendido por uma corda
no teto, o instrumento girou pelo palco e flutuou sem pressa, talvez uma analogia
à sensação de transe provocada, quebrada pelos aplausos ao fim da apresentação.
Publicação
Entre anotações típicas de um diário de estrada com poemas, cartas, letras e divagações, Lee Ranaldo também assina o livro JRNLS 80s, em que narra os primeiros anos do Sonic Youth. Às vezes mais direto, às vezes mais experimental (como um disco da banda), o livro abre portas para conhecer outras facetas do artista e alguns aspectos da sua vida pessoal.
Em parceria com a editora Terreno Estranho e a produtora Desmonta, o artista participa de um bate-papo, seguido por uma sessão de autógrafos na tarde desta quarta-feira (9) no Eleonora Hsiung Ateliê, no Setor Marista, a partir das 16h. O evento tem entrada franca.