Em noite pop, Pabllo Vittar resgata hits e intensidade feminina
Além da drag, Carne Doce, Javiera Mena e Ava Rocha foram destaques do segundo dia. Apresentações foram marcadas pela variedade e força artística
Guilherme Araujo*
Com Pabllo Vittar como headliner
e atrações bem distribuídas no palco, a noite de sábado do Festival Bananada rendeu
momentos de energia e ode feminina. Os atrasos, relativamente menores do que no
dia anterior, não prejudicaram as apresentações, que seguiram seu curso normal.
Além de Pabllo e convidadas, a carioca Ava Rocha, a primeira
a subir ao Palco Red Bull Music, foi recebida por um público ainda morno.
Diferente da proposta apresentada da última vez em que esteve em Goiânia, na
abertura do Goiânia Mostra Curtas, em setembro de 2017, Ava estava acompanhada
de banda – aspecto que fez com que suas canções crescessem.
Vestindo um cocar confeccionado com facas – uma das marcas
registradas da turnê do disco Ava Patrya Yndia Yracema – e trajando uma saia
bufante, aliada a uma blusa estampada com a bandeira do Pará, a artista
promoveu uma atmosfera sensorial que deixou até os aparentes desinteressados
arrepiados.
No repertório, os sucessos foram cantados
pouco a pouco, até que se formasse um uníssono. Assumindo uma pegada política,
ao mesclar canções tradicionais da região Norte do país, como , Ava tocou em
pontos como a demarcação de terras e a liberação da maconha. “Sou eu quem mando
na fogueira do Diabo”, cantou.
Dona de poses exuberantes, que
refletiram uma sensibilidade ímpar, Ava saiu, ovacionada e descrevendo um
prazer inenarrável, para dar espaço pouco menos de 1h depois à chilena Javiera
Mena. Pela primeira vez no país, a cantora pop transformou o festival em uma
pista de dança futurista, aura que caracteriza o lançamento mais recente da
artista, Espejo (2018).
Com pouca interação e saudações
contidas, Javiera chamou a atenção pelo look, uma mistura de peças ornadas em
glitter e pedras. No entanto, embora as canções fossem dançantes, a ausência de
movimento fez com que a artista parecesse não dominar o palco.
Enquanto o Palco Chilli Beans recebia
o agitado grupo baiano ATOXAA, considerado um dos pontos altos da noite com seu
aparato de refrãos chiclete, um pequeno público já se aglomerava na grade do
palco Red Bull Music, espaço que recebeu a maior parte das atrações do sábado.
Apresentados por Roberta Martinelli, uma exuberante Salma Jô
e sua trupe subiram ao palco do Bananada para concretizar aquele que quiçá foi
um dos momentos mais enérgicos dos três dias de festa. Na estrada há cerca de
dois anos com o disco Princesa,
eleito pela revista Rolling Stone como um dos melhores de 2016, o quinteto de
Goiânia se prepara para o lançamento do sucessor, ainda sem título.
Além dos clássicos, entre as canções que devem integrar o
novo registro, o grupo tocou “Comida Amarga”, “Golpista” e “Brincadeira”, esta
última produzida em parceria com Dinho, da banda Boogarins, que toca na tarde
deste domingo (13). Nos agradecimentos, Salma elogiou vozes que segundo ela “fazem
muito mais” em cena. Citou a goiana Bruna Mendez, o grupo Tuyo e a amiga
Juliana Strassacapa, da banda Francisco, el Hombre, que assistia ao show dos
bastidores.
Em show mais contido que o da última edição, ficou claro que
o grupo vive um momento de transição, deixando a intensidade de Princesa para dar
lugar à vibe soturna e introspectiva que o novo trabalho deve assumir.
“Vai passar mal”
O momento foi completamente dela:
de peruca cor de rosa, Pabllo Vittar seguiu o mesmo roteiro de sua última
passagem pela capital, em setembro de 2017 no Festival Vaca Amarela, embora sem
problemas técnicos e com um domínio de palco absoluto. Sem dificuldade alguma,
a hitmaker levou a maior parte do público que lotou a área externa do Shopping
Passeio das Águas ao delírio. Emplacando sucessos sucessivamente, entre canções
suas e parcerias com artistas como Diplo, Alice Caymmi e Anitta, Pabllo dedicou,
emocionada, a apresentação ao amigo Matheus, morto por homofobia neste sábado
(12) no Rio de Janeiro.
Após sair de cena para uma troca
de figurino, a drag maranhense trouxe para o palco uma série de participações:
além da cantora Aretuzza Lovi, que enfrentou problemas técnicos na mesa de som
no fim de sua colaboração, a angolana Titica, considerada rainha do kuduro,
também cantou. Juntas, ambas promoveram uma ponte entre a música pop do Brasil
e da África mostrando uma nova parceria, um remix inédito da faixa “Come e
Baza”.
Para encerrar, Pabllo convidou o
ex-banda Uó, Matheus Carilho, para entoar o hit Vai Passar Mal, faixa que dá
titulo ao álbum e turnê da artista. Entre coreografias agitadas e o famoso “carão”,
Pabllo saiu ovacionada – algo que não configura novidade alguma dentro de suas
possibilidades múltiplas como artista.
* O repórter esteve no evento a convite do festival