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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Cidades

Goiás perde 30% da água potável

Região acaba de sair de uma das maiores estiagens deste século e ainda enfrenta problemas na preservação ambiental e contaminação dos recursos hídricos

Postado em 8 de junho de 2018 por Sheyla Sousa
Goiás perde 30% da água potável
Região acaba de sair de uma das maiores estiagens deste século e ainda enfrenta problemas na preservação ambiental e contaminação dos recursos hídricos

Gabriel Araújo*

O estado de Goiás desperdiçou 30% de toda água faturada em 2016 somente durante a distribuição. Dados do Instituto Trata Brasil divulgados esta semana constataram que o Estado foi o segundo que menos desperdiçou no país, ficando atrás somente do Tocantins. A Saneago informou que, somente no ano de 2017, ocorreram cerca de 455 mil vazamento nos mais de 29 mil quilômetros de redes de água. Segundo o órgão, os índices de perda de água no Estado diminuíram em relação ao ano de 2016, passando de 30% para 28% do total da rede. 

De acordo com Édison Carlos, presidente do Instituto, o índice de perdas na distribuição de água no país em 2016 é o maior em cinco anos de pesquisa. “Não esperávamos que tivesse aumentado o desperdício no país inteiro. Tem fatores isolados, como a redução do consumo nos anos anteriores e fatores climáticos, mas tem também uma falta de crônica de investimento. É uma perda histórica”, contou.

Segundo o estudo, as perdas comerciais em todo o país chegam à casa dos R$ 10 bilhões por conta do desperdício e são causadas, principalmente, por vazamentos nas redes de distribuição, erros de leitura de hidrômetros, roubos e fraudes. “A perda é a água que não precisaria ser retirada da natureza. Poderia também usar essa água para agricultura, comércio e outros setores, mas tem que usar para abastecimento humano para compensar a ineficiência da distribuição”, lembrou.

Um dos parceiros no estudo, o pesquisador Pedro Scazufca, lembrou que os números não mostram uma boa expectativa. “Esperamos que os números se mantenham nesta base de 36, 37 e 38. A gente sabe que o problema se dá em diversos âmbitos e que o investimento é necessário. O objetivo é você conseguir ter uma melhor gestão no sistema e acabar poupando recurso e arrecadando mais, o que cria um ciclo positivo de mais investimentos das empresas”, contou.

Rompimentos

No início do último março, uma adutora da Saneago se rompeu e causou falhas no abastecimento em 183 bairros da Capital e Região Metropolitana. Na época, a Companhia Saneamento de Goiás S.A. (Saneago) afirmou que existia a possibilidade de a causa está na falta de fornecimento de energia, que sobrecarregou a adutora e causou o rompimento.

Rompimentos não são incomuns na região, cerca de cerca de 15 dias antes, outra adutora se rompeu e fez uma parte da Marginal Botafogo ceder no trecho sentido Setor Centro, entre a Avenida Independência e a Rua 301, próximo ao cruzamento da rua que liga a marginal à Bernardo Sayão.

A via precisou ser parcialmente fechada para que equipes da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra) e Saneago realizassem os reparos. De acordo com o secretário de Infraestrutura, Francisco Ivo, ao iniciar a recuperação do trecho, se notou que o rompimento de uma tubulação causou mais estragos do que o previsto. Parte da via ficou interditada devido à erosão causada pelo rompimento da tubulação, foi preciso reconstruir a barreira de concreto entre o córrego e a via.

Nascentes

Na Grande Goiânia, a maior parte dos bairros é abastecida com água que vem do rio Meia Ponte e do ribeirão João Leite, o que faz estes fluxos d’água responsáveis pela garantia de qualidade e quantidade ideal no abastecimento da sociedade, mas muitas das nascentes estão morrendo. Estudo de pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostra que apenas uma de nove nascentes em Aparecida de Goiânia está com água em boa qualidade.

Wesley da Silva Belizário, mestre em geografia, analisou a qualidade e quantidade de água que estava fluindo nas nascentes e, para o pesquisador, foi preciso observar lixo, odor e a cor da água para entender o que estava ocorrendo nas nascentes. “São áreas próximas à ruas e avenidas de circulação e sem proteção. Algumas delas tem em suas proximidades áreas de depósito de entulho, lixo domiciliar e lançamento de esgoto e efluentes industriais”, afirmou o pesquisador.

A preservação das nascentes é a grande preocupação no momento, já que a água é considerada um recurso de alto valor econômico e social. “As nascentes são as responsáveis pelos fluxos superficiais, são elas que dão origem aos córregos, rios e bacias em geral. Preservá-las e conservá-las é, portanto, o grande desafio e no espaço urbano esse desafio se torna ainda maior, tendo em vista a forma como esse espaço tem sido apropriado e produzido, bem como a maneira como a natureza tem sido manuseada e atingida”, concluiu.

Falta de água

Goiânia e toda a Região Metropolitana corre risco de sofrer com a escassez de água. De acordo com estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG), os principais rios e o lençol freático estão chegando a um ponto crítico de desgaste, o que eleva o risco de colapso no abastecimento hídrico.

Os pesquisadores afirmaram que o crescimento desordenado e a falta de preocupação com o desenvolvimento dos municípios coloca em risco todo o abastecimento. O relatório ainda lembra a falta de informações, para a população, sobre a captação e a qualidade da água. “Constatamos ainda uma ausência de preocupação com futuros mananciais nos planos diretores municipais”, acrescentam os coordenadores do estudo, profa. Karla Emmanuela e prof. Mauício Sales.

Conforme informado por eles, o crescimento urbano e o desmatamento são os principais responsáveis pelo aumento nos riscos, já que a malha urbana afeta a permeabilidade do solo e dificulta a absorção de água na região. 

O relatório informa que 75% da Região Metropolitana de Goiânia é constituídas de pastagem, lavouras e áreas construídas, além das Áreas de Proteção Permanente (APP) não estarem completamente protegidas. “Há pouca representatividade de Unidades de Conservação em escala metropolitana e se verifica degradação elevada nas áreas de proteção permanente (APP) dos cursos de água”, contataram os pesquisadores.

Segundo o estudo, a melhor opção para na busca de uma recuperação de capacidade de produção de água é a gestão compartilhada entre todos os órgãos públicos da Grande Goiânia, a população e o setor produtivo. “Não é possível garantir água para todos se não repensarmos nosso modelo de ocupação urbana e se não protegermos os mananciais. Não há outro caminho”, afirmaram.

O território referente a esta região é banhado pelas sub-bacias do Rio Turvo, do Rio dos Bois, do Rio Meia Ponte e do Rio Corumbá. 

O uso de agrotóxicos é fundamental na queda da qualidade da água 

Em um estudo realizado em 2011, o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) afirmou que os resíduos de agrotóxicos são a segunda principal fonte de contaminação das águas brasileiras, atrás apenas do esgoto sanitário. Se levarmos em consideração a afirmação das Organização das Nações Unidas (ONU) de que a agricultura é o setor que mais consome água doce no Brasil, com cerca de 70% de toda água consumida, a utilização de agrotóxicos pode se tornar uma dos maiores problemas ambientais do país.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicaram, em 2016, diretrizes para o combate ao uso de agrotóxicos no mundo. De acordo com as organizações, é preciso localizar os responsáveis pela maior parte das intoxicações humanas no mundo e, em muitos casos, retirar o produto do mercado de forma gradual. Além disso, e ainda mais importante, é preciso uma ação global unificada, onde os países devam atualizar resoluções sobre o controle e fiscalização destes venenos.

Na mesma época, a FAO também lançou um conjunto de ferramentas para o Registro de Praguicidas para ajudar os países a realizar avaliações de perigos e riscos, em seus processos nacionais de aprovação de praguicidas. A organização afirmou ainda que essas ferramentas poderiam ser utilizadas para reavaliar produtos já aprovados, mas que são considerados muito perigosos.

Uso de Coco

Na busca por retirar resíduos tóxicos da água, uma pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG) descobriu que a casca de coco verde tem a capacidade de absorver o agrotóxico parationa matílica durante o processo de filtragem. 

De acordo com a responsável pelo estudo, Josiane Moreira Cardoso, as legislações atuais não são suficientes para impedir o uso indiscriminado de agrotóxicos no país, o que responde por grande parte dos casos de contaminação da água. “A maioria dos agrotóxicos são altamente tóxicos, mesmo em baixas concentrações. Em relação à parationa metílica não é diferente e por ser um produto solúvel em água, só pode ser identificado através de técnicas específicas. Existem legislações que regulamentam o uso e o descarte dos agrotóxicos, porém, essas normas são amplamente desrespeitadas”, contou.

Segundo o estudo, o processo de absorção do agrotóxico começa com o contato da água com a fibra de coco, que passam por um processo de 30 minutos em uma mesa agitadora. “O aproveitamento desse material vegetal como adsorvente alternativo poderia ajudar a minimizar o acúmulo de resíduos no ambiente”, completou. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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