Presidente da SBCPO alerta para o perigo do preenchedor PMMA
Presidente da SBCPO alerta para o perigo do
preenchedor PMMA na região dos olhos
Da Redação*
A polêmica em torno do caso da bancária Lilian Calixto, de 46 anos, que recentemente faleceu após ter passado por procedimento com PMMA no glúteo pelo ‘Doutor Bumbum’, no Rio de Janeiro, levou o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular (SBCPO), doutor Roberto Limongi, a fazer um alerta contra a aplicação desse preenchedor na região dos olhos. “Os preenchedores permanentes, como o PMMA (polimetilmetacrilato), apesar de terem baixo custo, podem levar a complicações severas. Assim, na região periocular, devemos optar por preenchedores do tipo temporários, como o ácido hialurônico”, adverte o oftalmologista.
A fatalidade ocorrida no Rio de Janeiro chamou a atenção do médico goiano, já que o assunto foi tema de um artigo publicado por ele, em outubro de 2015, no Aesthetic Surgery Journal (“Jornal de Cirurgia Estética”) – uma revista bem-conceituada de estética nos Estados Unidos. “Após a publicação desse artigo, eu concedi uma entrevista a um site americano para falar sobre o assunto, e, depois, dei uma aula sobre isso no Congresso Americano. O tema desperta atenção, e, atualmente, por conta do caso da bancária morta no Rio, ele veio mais à tona”, enfatiza o cirurgião plástico ocular ao frisar a importância de alertar a população para os perigos de preenchedores permanentes, como o PMMA, principalmente na face.
O artigo
No artigo Complications and Management of Polymethylmethacrylate (PMMA) Injections to the Midface(“Complicações e Tratamento de Preenchimentos Faciais com PMMA”), publicado por doutor Roberto Limongi, foram identificados 11 casos de complicações de injeções de PMMA no terço médio da face. A idade dos pacientes variou de 36 a 62 anos. Dois deles (18%) eram do sexo masculino e nove (82%) eram do sexo feminino. Os efeitos adversos começaram entre dois e 24 meses após a injeção. Todos os pacientes apresentaram edema, eritema e irregularidade de contorno. Sete (64%) pacientes apresentavam nódulos, quatro (36%) apresentavam alterações cutâneas xantomatosas amarelas, e, dois (18%), mau posicionamento palpebral. A histopatologia demonstrou uma inflamação celular ‘gigante’ em cinco dos seis casos.
A injeção de PMMA no terço médio da face, conforme concluiu doutor Limongi no artigo, pode acarretar graves consequências: “Os pacientes apresentaram inflamação crônica, nódulos fibróticos, amarelecimento da pele e mau posicionamento palpebral. As injeções intralesionais de corticosteroides produziram melhora mínima ou nenhuma melhora; a retirada cirúrgica alcançou resultados favoráveis”, explica o médico.
Malefícios do PMMA à face
Contudo o presidente da SBCPO reafirma que o PMMA não deve ser aplicado no rosto. “A face é uma área que fica exposta ao público o tempo inteiro – em caso de complicação, não há como esconder, ao contrário do bumbum, da mama; no rosto, não há como cobrir, e as complicações ficariam evidentes. Principalmente na região dos olhos, eu chamo atenção para a região periocular (ao redor dos olhos), cuja anatomia é peculiar: a pele é extremamente fina, com quase nenhum tecido subcutâneo, e repousa diretamente sobre os ossos, que estão ao redor dos olhos, então qualquer nodulação, qualquer caroço, qualquer inflamação que haja nessa região ficará muito evidente”, pontua doutor Limongi.
Outra preocupação do oftalmologista é com relação aos olhos: “Como eles estão bem próximos à região das pálpebras, da mesma forma pode haver consequências maléficas por conta do PMMA – inflamação, caroço, nódulo –, que podem afetar de maneira direita ou indireta os olhos, desta forma o PMMA não deve ser aplicado na região periocular”.
Qual seria o preenchimento ideal?
De acordo com doutor Limongi, a técnica de preenchimento facial vem ganhando popularidade, nos últimos anos, devido aos resultados imediatos e à recuperação rápida: “Dentro de poucos minutos, com aplicações realizadas a pessoa pode ter sua aparência melhorada e rejuvenescer muitos anos sem cirurgia”. Entretanto o médico enfatiza os cuidados necessários para tal procedimento: “Esse tipo de aplicação deve, obrigatoriamente, ser feita com acompanhamento de especialistas, pois implica em cuidado minucioso”.
O oftalmologista recomenda, nessa região, o uso de preenchedores absorvíveis, ou seja, temporários: “O ácido hialurônico é o mais indicado. Hoje em dia, há um tipo de enzima (hialuronidase) que dissolve esse ácido hialurônico, então, caso injetado e isso cause alguma reação, alguma deformidade na pálpebra, podemos reverter instantaneamente”.
Para doutor Limongi, o PMMA está “longe” de ser um preenchedor ideal. “Ele é permanente e não está isento de complicações; pelo contrário: há várias publicações científicas, como o meu artigo, mostrando a ocorrência dessas complicações”, alerta o presidente da SBCPO.
Entenda o que é o PMMA
O polimetilmetacrilato (PMMA ) é um tipo de plástico, apresentado em um formato de microesferas, que preenche volumes do tecido e que alteram formas do corpo, procedimento conhecido como ‘bioplastia’. No entanto, segundo doutor Limongi, ele deve ser usado apenas com a prescrição de um especialista e nas quantidades recomendadas por ele.
“O PMMA pode causar uma inflamação, nos dias primeiros dias ou nas primeiras semanas após a aplicação – como nódulos, vermelhidão, reação de corpo estranho –, como também a longo prazo, ou seja, após meses (até anos) após aplicado, a pessoa pode desenvolver uma reação granulomatosa – o organismo passa a reagir a essas microesferas de plástico líquido, o que leva a uma inflação crônica. No caso da região periocular, essa inflamação crônica pode levar a edema, inchaço crônico e bolsas na região inferior dos olhos, vermelhidão e dor. Já tive oportunidade de operar vários pacientes em que eu precisei retirar esses preenchedores das pálpebras. Quando foram retirados esses tecidos, foi percebida uma consistência parecida com goma de marcar. O cheiro – quando é passado o cautério – é como uma borracha queimada: seria esse plástico líquido, o PMMA, ocasionando essa reação crônica, conforme meu trabalho publicado no Aesthetic Surgery Journal”, finaliza doutor Roberto Limongi.