Goiânia desenvolve soluções para construir prédios mais altos
Palco de edifícios cada vez mais altos, capital tem sido também protagonista de desenvolvimento de soluções de engenharia
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Da Redação
Um novo projeto foi concebido com o propósito de se tornar o mais alto edifício residencial do Centro-Oeste. Com 175,09 metros de altura e 52 pavimentos, será um marco na paisagem de Goiânia quando for inaugurado em setembro de 2019. Para chegar até lá, a construção exige esforço, criatividade e tecnologia.
De acordo com o engenheiro residente da obra, Hugo Alexandre, na época dos estudos do empreendimento, em 2015, foi determinado pelo cálculo estrutural do projeto que o concreto a ser utilizado na superestrutura da torre precisaria ter módulo de elasticidade superior aos concretos convencionalmente utilizados em Goiás.
“Os estudos revelaram a necessidade de utilizar um concreto com módulo de elasticidade superior a 36 gigapascal (GPa), um valor muito alto para a época – até então, os melhores resultados obtidos na região estavam em torno de 32 GPa”, diz o engenheiro. Ele explica que, quanto mais rígido é o concreto, menores são as chances de acontecerem patologias e vícios no processo de movimentação e acomodação da estrutura.
O módulo de elasticidade maior passou a ser indispensável para garantir a qualidade e a segurança da obra. Mas não seria tão simples obtê-lo. O concreto é uma mistura de cimento, agregados com areia e brita, água e aditivos. Geralmente, os agregados são extraídos próximos do empreendimento, se tiverem de ser transportados de longe, o valor do frete poderá impactar no custo final da obra.
“O grande problema era que, pela composição mineralógica das rochas próximas à capital goiana, a brita não possuía as configurações necessárias para se chegar ao resultado esperado no módulo de elasticidade. Se tivessem de ser adquiridos de outra região, o preço final do concreto aumentaria muito, gerando um enorme impacto no custo da obra”, explica Hugo Alexandre.
Outra necessidade do empreendimento era chegar a um concreto com maior fluidez do que o convencional para que fosse possível bombeá-lo até os andares mais altos durante a obra. “O problema é que o aumento da fluidez demanda maior teor de argamassa no traço, este aumento do teor de argamassa tende a uma maior deformação do concreto e redução do valor do módulo de elasticidade”, observa.
Marcelo Cândido de Paula engenheiro especializado em materiais, com 20 anos de experiência, foi responsável pela consultoria para se chegar a uma solução para a situação diagnosticada, ele conta que está foi a primeira obra de Goiânia a precisar de um módulo de elasticidade assim, o que exigiu o investimento em pesquisa para desenvolver a composição do concreto ideal feito a partir dos agregados da região.
14 meses
No total, foram dedicados 14 meses de estudo e muitos testes para, finalmente, chegar à melhor composição. O especialista testou diferentes materiais e conseguiu, com os agregados da região, alcançar os 36 GPa e resistência característica do concreto à compressão (fck) superior a 50 MPa. Foram utilizadas areia natural, areia artificial e britas de 9,6mm e de 19mm, além de aditivos especiais.
Outra inovação foi o uso de quatro aditivos – o plastificante retardador de pega, o superplastificante, o moderador de viscosidade e um inibidor de hidratação do cimento – além de 12% de sílica ativa. Juntos, estes ingredientes possibilitaram a redução aproximada de 30% do consumo de cimento por metro cúbico de concreto.
O menor concentração de cimento possibilitou o controle do aumento da temperatura, que é decorrente do processo de hidratação do cimento e que costuma ser ainda maior na execução de blocos de fundação robustos como os do Kingdom.
Com isso, poupou-se, também, com o uso de dezenas de toneladas de gelo que seriam necessárias para o pré-esfriamento do concreto. “Convencionalmente, estes aditivos têm outra finalidade, mas acabaram ajudando nos resultados”, disse o especialista. Ele acrescenta que os aditivos também ajudaram a manter a mistura mais fluída necessária para seu transporte vertical.
O engenheiro Hugo Alexandre acrescenta que a adição da sílica também proporcionou que o concreto ficasse muito mais nobre porque ela influencia diretamente no ganho de resistência, durabilidade e no combate preventivo da Reação Álcalis-Agregado (RAA) – que, compromete a estrutura de concreto quando ocorre em uma obra.
Além da eficiência, o concreto desenvolvido não gerou aumento de custo do material “Se não tivéssemos conseguido, teríamos que trazer material de regiões mais distantes, o que poderia ter inviabilizado o custo da obra”, arremata Hugo Alexandre. O novo concreto de alto desempenho passou a integrar o portfólio da Votorantim em Goiás, por meio da empresa Engemix, compartilhando assim os resultados com todo o mercado.