Especialista aponta transporte público como solução do trânsito
Professor da UFG aponta ainda que o uso de transporte não motorizado contribui também para desafogar congestionamento
Eduardo Marques*
Quem dirige em Goiânia, seja carro, ônibus ou motocicleta, tem a sensação de que a cidade está no limite. São engarrafamentos, acidentes, trânsito caótico durante quase todo o dia. Nos horários de pico (manhã e fim de tarde) a situação piora. O aumento da motorização privada é um fenômeno mundial e reflete um modo de vida que privilegia o veículo motorizado de uso particular em detrimento de outras opções, como o transporte coletivo e os meios não-motorizados de deslocamento.
Professor adjunto e vice-coordenador do curso de graduação em Engenharia de Transportes da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutor em Transportes pela Universidade de Brasília (UnB), Willer Carvalho destaca uma série de fatores que, somados, culminam nesse quadro. A facilidade de aquisição de um automóvel, associado ao baixo investimento em transporte público coletivo e a baixa diversidade de modos de transporte alternativos para o deslocamento da população estimulam a utilização da motorização privada.
“Outro aspecto importante para ser observado é o modelo de desenvolvimento das nossas cidades, onde não há um bom planejamento do uso e ocupação do solo, fazendo com que ocorra um crescimento desordenado do espaço urbano, com presença de grandes vazios, fazendo com que cada vez mais se tenha necessidade de longos deslocamentos da população, elevando os custos tanto do deslocamento com veículos individuais como do transporte coletivo”, diz.
Para mudar a situação, Willer sugere o investimento tanto em transporte público coletivo como em transporte não motorizado. O professor acredita que deve haver um processo de conscientização da população dos benefícios do uso do transporte coletivo e dos modos de transporte não motorizados para a cidade. Outras medidas sugeridas por ele são a restrição ao uso do carro individual, como a criação de zonas livres de carro, regiões com controle de acesso aos veículos motorizados, criação de políticas de estacionamentos, priorização viária para o transporte público, dentre outras.
Mobilidade
Um dos maiores desafios das cidades hoje é a mobilidade. Percorrer pequenas distâncias tem se tornado um desafio cada vez maior para quem mora em cidades grandes. Foi promulgada em 2012 a Lei 12.587, que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana e determina, como regra geral, que os Municípios com mais de 20 mil habitantes elaborem o Plano de Mobilidade Urbana, levando em conta as disposições do Plano Diretor.
Goiânia chegou a licitar e contratar o seu Plano de Mobilidade, mas foi interrompido e dispensado. O contrato previa, como manda a Lei, fazer um planejamento integrado para todos os moldes como transporte coletivo, transporte de cargas, automotivo e para bicicletas, priorizando sempre os pedestres. À época, ele foi rescindido por questões de dificuldades financeiras.
Senado Federal
Durante uma audiência pública no Senado Federal, a professora Gabriela Tenório, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) ressaltou que o desafio da mobilidade urbana é adequar as cidades ao crescimento populacional. “A cidade vai crescendo e se espalhando no território, o que dificulta seu funcionamento. Uma cidade mais densa, mais compacta, é o mais desejado”, disse.
Além do problema de deslocamento, equipamentos públicos como praças e serviços são mais escassos nas áreas periféricas, o que impacta a qualidade de vida dessas pessoas, destacou o professor do Instituto de Ciência Política da UnB Lúcio Rennó. Na avaliação dele, o caminho para melhorar a vida nas metrópoles é desconcentrar as oportunidades de emprego e ao mesmo tempo estimular parcerias entre municípios para solução de problemas comuns:
“Há pouca colaboração e cooperação entre governos estaduais e municipais, entre municípios e a União para solução desses problemas. É preciso pensar como podemos estimular essa cooperação, mas tendo claras as dificuldades”, assinalou.
Já o professor Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, acredita que os governos precisam ouvir mais a população. Ele afirmou que o Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 2001), que estabeleceu parâmetros para o planejamento dos municípios, prevê a participação da sociedade civil nas decisões sobre a urbanização, mas que na prática isso pouco avançou:
“Temos um Estatuto da Cidade que é falacioso. Ele fala de participação popular, mas só fala. Não tem como operacionalizar essa participação popular. Temos que ter lei dizendo como isso deve ser feito”, defendeu.
Desabafos
Inconformado com a irresponsabilidade de alguns motoristas, o representante comercial, João Carlos, desabafa sobre o trânsito na Capital. “Horrível. Vários motoristas irresponsáveis, que mexem em celular, fumam e ficam parecendo cobra no meio da rua”, disse.
A jornalista, Thais Camargo Vaz, também reclama dos motoristas goianienses. “Péssimo. Ao invés de direção defensiva aqui temos a direção ofensiva. BR 153 em horário de pico é impossível de percorrer”, ressalta. A publicitária, Flávia Maria Veríssimo, afirma que em Goiânia falta estudo de trânsito.
“O trânsito de Goiânia falta a famosa engenharia de trânsito, falta estrutura adequada para que os motoristas possam ter mais segurança. Muitos dos acidentes que acontecem, são colocados na conta do motorista, mas na verdade é da falta de engenharia. Falta de segurança, falta de sinalização, falta de investimento nos asfaltos”.
Uma das alternativas adotadas pela Prefeitura de Goiânia para solucionar o congestionamento do trânsito foi a criação da “zona 40” – ruas do setor Central, cuja velocidade máxima é de 40Km/h. E quem elogia esse medida é o advogado Liorcino Mendes. Para ele, é uma alternativa para pedestres e ciclistas andarem com segurança. “Reduziu mortes e acidentes constantes, especialmente envolvendo idosos, pessoas com deficiência e crianças. Estão no caminho das cidades civilizadas”, pondera.
*(Eduardo Marques é integrante do programa de estágio do jornal O Hoje sob a supervisão de Naiara Gonçalves)*