Centenário do fim da Grande Guerra
Neste domingo, guerra que assustou o mundo com números de mortos e avanços tecnológicos completa 100 anos
Guilherme Melo *
Em um ambiente hostil, de destroços e agonia, materializava-se a Primeira Guerra Mundial que, neste domingo (11), completa cem anos do fim. A ‘guerra para acabar com as guerras’ foi um dos conflitos mais violentos do mundo, e selou a vida de muitos homens, que morreram nas trincheiras da Europa.
O Armistício assinado na Villa Giulia, nos arredores de Pádua, foi o único que o Império Austro-Húngaro assinou com a Entente, e pôs um fim à guerra entre a Itália e a Áustria-Hungria durante a Primeira Guerra Mundial, que tinha iniciado para a Itália em 24 de maio de 1915, dez meses depois do início da guerra. As discussões entre o general Viktor Weber von Webenau e Pietro Badoglio, vice-chefe do Estado Maior italiano, duraram dois dias – de 1º a 2 de novembro – sem que chegassem a qualquer acordo.
Depois, no dia 11 de novembro, Weber assumiu pessoalmente a iniciativa, e, para evitar outras mortes e sofrimentos, às 15h20 assinou o armistício assim como tinha sido proposto por Pietro Badoglio.
Um século se passou desde o fim da Primeira Guerra, mas o sentimento da ‘nação em primeiro lugar’ ressurge, novamente, com força em todo o globo. Líderes internacionais voltaram os olhares e os discursos aos conflitos entre 1914 e 1918 para alertar sobre um suposto perigo iminente. No último domingo (4), durante a festa que celebra a campanha da Itália na Primeira Guerra, o presidente Sergio Mattarella afirmou que é preciso “reiterar com força a amizade e a colaboração” e criticou as “bajulações de um nacionalismo agressivo”. “O amor à Prátia não coincide com o extremismo nacionalista”, afirma.
O presidente da França, Emmanuel Macron, reforçou que ‘demônios’ do passado podem ‘ressurgir’. “A paz da Europa é precária e foi construída sobre esses dramas, sobre a Primeira Guerra, que causou 10 milhões de mortes”, lembra. Segundo o historiador Murillo Medeiros, o nacionalismo era muito forte entre o fim do século 19 e o início do 20, apesar de seu recente ressurgimento. “Os matizes nacionalistas eram muito mais fortes, e não havia, até então, os excessos que os nacionalistas mostrariam na Primeira e Segunda Guerras. O nacionalismo está agora dentro de um conjunto de forças que se mostra muito mais como uma concepção de posicionamento político, mas sem a mesma hegemonia”, revela. Para Murillo, essa nova onda do nacionalismo pode ser extremamente positiva para o mundo e para o Brasil.
Como começou a guerra?
A Primeira Guerra Mundial começou na Europa, em 1914, como o desdobramento de profundas rivalidades políticas entre as principais potências industriais do continente, que culminou em uma guerra de grandes proporções.
Desde meados do século 19, havia um quadro de disputas imperialistas pelo controle de colônias na África, na Ásia e na Oceania. As nações europeias buscavam explorar recursos e vender matérias-primas.
A Alemanha despontava como uma grande e influente potência. A França, que já havia entrado em conflito com os alemães, se via progressivamente ameaçada por esse cenário. A tensão se agravou quando a Alemanha estabeleceu uma aliança com a Áustria-Hungria e com a Itália, conhecida como Tríplice Aliança. Esse bloco estabelecia acordos comerciais e financeiros, além de acordos militares.
Com isso, a França passou a estabelecer acordos com o Império Russo. Depois, a Inglaterra se aliou aos dois parceiros, formando a Tríplice Entende. Eles temiam sofrer perdas de território nas colônias e bloqueios econômicos. Mas as tensões entre as alianças e o nacionalismo extremo cresceram a tal ponto que foi rompido o equilíbrio de poder que governava a política internacional, assim dando início a maior guerra vista até então, que durou quatro longos anos.
Indústria e novas tecnologias
Devido à grande demanda de armas exigida no combate, algumas tecnologias foram desenvolvidas no período da Primeira Guerra. Máquinas como aviões, tanques e armas foram aperfeiçoadas. Já no campo da medicina, procedimentos como cirurgias, amputação e a própria anestesia foram criados para o tratamento de feridos.
A Primeira Guerra Mundial foi o primeiro grande conflito de teor tecnológico que a humanidade conhece. Com a modernização militar, os países estrearam métodos inéditos de ataque e defesa como metralhadoras, gás mostarda, aviões com bombas, granadas, tanques e submarinos. O avanço tecnológico fez com que os confrontos fizessem muito mais vítimas fatais em menor tempo. Na primeira fase da guerra, ainda não havia muitos combates. A vitória era decidida pela movimentação efetiva das tropas, que permitia ocupar territórios inimigos antes que houvesse possibilidade de se organizar a defesa. Com a tecnologia, em poucos dias a Alemanha ocupou a Bélgica e parte da França.
*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE
SAIBA MAIS…
Revolução Russa
Esse foi um movimento iniciado na antiga União Soviética em plena Primeira Guerra. Seu governo czarista ( modelo de governo monarca absolutista) era conhecido por sua falta de liberdade, levando à pressão popular de um novo governo. Com essa mudança, a Rússia sai da guerra, em 1917, para viver um regime comunista, desestabilizando a Tríplice Entente.
EUA poderosíssimos
Achou que a Tríplice Entente seria prejudicada? Achou errado. Após a saída da Rússia, os Estados Unidos assumem o lugar preparados para ‘tiro, porrada e bomba’. Mesmo antes de enviar soldados, os Estados Unidos já participavam indiretamente da guerra, enviando armas, medicamentos e outros mimos. Em 1918, o país já está entre as maiores potências mundiais, e permanece até hoje.
Quem pagou a conta?
Finalizado o combate, com a Tríplice Entente vencedora, a Alemanha foi obrigada a assinar o Tratado de Versalhes, citado no início da matéria, com cláusulas financeiras que indenizariam todos os países afetados na guerra. Essa dívida, que se acumulou e recebeu juros após o fim da Segunda Guerra, só terminou de ser paga em 2010.
‘A’ de vingança
É de se esperar que a Alemanha tenha ficado um pouco ‘pist…’ com o Tratado de Versalhes. Isso é refletido 20 anos depois, quando Adolf Hitler dá início a Segunda Guerra. Seu intuito era recuperar os territórios perdidos em 1918, além criar uma ‘nova ordem’ na Europa, baseada na superioridade germânica.
Força feminista
Durante a Primeira Guerra, as mulheres que viviam nos países envolvidos tiveram sua participação no combate. Enquanto os homens deslocavam-se aos campos de batalha, mulheres de toda a Europa começaram a trabalhar fora de casa. Quando a guerra terminou, foi de se esperar que algumas não estavam felizes em voltar à posição de dona do lar. Com isso, inicia-se o movimento feminista francês das sufragistas, que ganha forte influência no continente europeu.