Medo de enchentes e desabamentos tiram o sono de moradores
Deslizamento, alagamentos de pontos críticos de enchentes são frequentes em Goiânia
Felipe André*
Época de chuva começa a preocupar moradores de Goiânia com possíveis enchentes e desabamentos. Até o último ano a Capital registrava a existência de 18 áreas de risco, na última semana esse número saltou para 21. Casas próximas a córregos são classificadas como de alto risco pela Defesa Civil Municipal que iniciou as investigações. Esperada para novembro, as chuvas se anteciparam e em outubro já ficaram acima da média esperada.
“No mês de outubro choveu acima da média, enquanto em alguns lugares falavam em 155 e outros 170, choveu quase 200 milímetros. Nós estamos acompanhando, fizemos um trabalho antes do período chuvoso, nas áreas manjadas por córregos intensificamos se na barreira de contenção tem rachaduras, se houve algum tipo de infiltração. No tempo da chuva intensificamos mais ainda para evitar um desastre maior. Na área do residencial São José está tendo trincas e rachaduras. Fazemos um relatório que é enviado para a secretaria de infraestrutura pública e tentamos um reparo imediato”, informou o Coordenador da Defesa Civil Municipal, Francisco do Carmo Vieira.
A moradora da região, Luzia Faustino Ramos de Freitas que há 15 anos é vive no Setor São José se mostra preocupada com a época de chuva. Ela sabe bem o estrago que o Córrego Cascavel pode causar quando “cresce” com a chuva. Em uma enchente que aconteceu há alguns anos, Luzia e sua família tiveram a casa inundada. Na cozinha até hoje há marcas que chegam a 80 cm de altura. Além disso, a casa com uma grande área na frente servia como oficina e nove carros de clientes foram inundados, além de cinco da família.
“Nós reivindicamos para a prefeitura, mas não somos atendidos. Pedimos para a imprensa, mas nossos pedidos nunca vão ao ar, eles [imprensa] vem, mas só coloca aquilo que querem depois dizem que está tudo sobre controle, só para eles. Até que eu desisti [de chamar] porque não esta resolvendo nada. A Defesa Civil sempre esta por aqui, mas eles não têm muito o que fazer, quem pode fazer é a prefeitura, a Seinfra [Secretaria de Infraestrutura]”, revelou Luzia Faustino.
Justamente com essa preocupação, a Defesa Civil orienta os residentes para que em caso de alagamento devam procurar um abrigo com familiares ou amigos, se não for possível eles são levados para um abrigo provisório.
“Muitos já conhecem a situação, mas orientamos aos moradores para eles verificarem o nível do córrego, se estiver perto da margem e com risco de transbordar, precisam procurar um local seguro, parente ou amigo que tenha casa em local mais alto ou então acionar a Defesa Civil para ser encaminhado para um abrigo provisório. Notificamos os vigilantes da saúde junto à Secretaria Municipal de Saúde para que entrem com cobertura vacinal e evitar casos de hepatite, dengue ou até mesmo leptospirose”, completou o Coordenador da Defesa Civil.
A moradora se mostrou revoltada com a situação de seu bairro. Por estar em próximo de Campinas, o bairro mais antigo da Capital goiana. A rua alagada e o mau cheiro são constantes na porta de Luzia, que desistiu de limpar a rua, só o faz quando tem a ajuda de vizinhos.
“Tinha que tirar essa água que vem da Avenida São Clemente que desce tudo para cá, tem rua aqui que não tem asfalto, a terra vem tudo para cá. Para você ver, um setor dentro do bairro de Campinas tem rua sem asfalto até hoje. Convivo com um mau cheiro o tempo todo, já não tenho condições de limpar a rua sozinha, às vezes junto com alguns vizinhos”, expôs Luzia Faustino.
Ao ser perguntada sobre o sentimento em toda essa situação, foi bem enfática ao responder que nessa situação ela pode “só aceitar”. “Não tem sentimento. Não tem o que sentir nada não, só aceitar. Você pede, pede e pede e até agora não aconteceu nada. Não tem jeito, é aqui que eu tenho para morar, porque se eu tivesse outro lugar não ficava aqui. Depois que eu vim para cá, já tive problemas respiratórios, fico doente o tempo todo. Desde a enchente tem esse estresse todo, não pode ter nada”, disse Luzia.
De acordo com o relatório de atividades da Defesa Civil referente ao mês de fevereiro deste ano, o órgão atendeu a 55 ocorrências e chegou a interditar um imóvel que apresentava risco de desmoronamento. “Como é época de período chuvoso pode ter temporais atípicos como no começo do ano, em março choveu 64 milímetros em 2 horas e meia de chuva, alagou algumas ruas. Pode acontecer uma chuva atípica, o normal de um dia é de 10 a 20 milímetros, mas se tiver chuva de 60 a 70 em algumas horas, tem risco de alagamento”, encerrou o Coordenador da Defesa Civil Municipal, Francisco do Carmo Vieira.
57 mil pessoas recebem alertas no celular
Cerca de 57 mil pessoas recebem alertas sobre alagamentos, possíveis enchentes e deslizamentos em todo o Estado de Goiás, neste ano. A Defesa Civil Estadual é responsável pelo repasse de informações. Os moradores interessados precisam enviar apenas uma mensagem e passará a receber as notificações – por SMS e não aplicativo – da sua região.
“Temos 57 mil pessoas cadastradas em todo o Estado de Goiás, que aceitaram receber SMS de risco. Para receber o SMS a pessoa só precisa mandar uma mensagem para o número 40199 e enviar o CEP da região que deseja receber as notificações. Ela pode cadastrar quantos CEP’s elas quiserem”, disse o Tenente Valdick, Chefe da Sessão de Prevenção de Desastre da Defesa Civil Estadual.
A cada mensagem enviada para o número 40199 deve constar apenas um código de endereço. O sistema foi implantado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) no último ano em São Paulo, já em Goiás foi estreado no dia 15 de janeiro de 2018 juntamente com Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
As mensagens são enviadas a partir de um sistema próprio da Defesa Civil Nacional. Após passar por dois institutos a informação chega nos estados e a Defesa Civil Estadual compartilha o aviso para as pessoas que estão cadastradas para o local determinado.“A Defesa Civil Estadual é ligada a Nacional, ela tem um sistema próprio de monitoramento e recebe informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Instituto Nacional de Meteorologia (IMNET). Depois eles recebem essas informações tem uma compilação e os alertas com risco de desastre são enviados para as Defesas Estaduais, nós analisamos a situação e a gente faz uma síntese com as informações do Sistema de Meteorologia e Hidrologia do Estado de Goiás (Simehgo), depois disso começamos a enviar os alertas para as regiões com previsões de desastres meteorológicos”, completou o Tenente Valdick.
Mensagens
A quantidade de mensagens enviadas variam conforme a época. Em Goiás, por exemplo, desde setembro deste ano, quando começou a chover com maior regularidade, foram enviados cerca de 50 alertas. “A quantidade [de mensagens] é relativo, depende da previsão meteorológica. De setembro até hoje enviamos cerca de 50 alertas de risco de desastre. Às vezes a previsão é para uma determinada região, por exemplo, hoje podemos enviar para o estado inteiro, mas às vezes é só para a região uma região, isso varia”, encerrou o Tenente Valdick. (Felipe André é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)
Seinfra utiliza tecnologia no combate à erosão
A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra) faz uso da tecnologia no combate da erosão na Vila Maria Luiza, na região leste de Goiânia. A Seinfra atua desde outubro na Rua Uruguai, via que faz a ligação entre o Jardim Novo Mundo e a Vila Maria Luiza. Para isso, a pasta dispõe de um drone para facilitar o trabalho de vistoria em áreas de riscos. A erosão que teve início em 2016 estava avançando e oferecendo riscos aos moradores locais, erodindo o solo e destruindo a vegetação existente. Até agora, a Seinfra contabilizou mais de 600 caminhões produtos (terra e pedras) para combater o processo continuado de erosão.
O secretário Municipal de Infraestrutura, Dolzonan da Cunha Mattos, explica que ainda serão necessárias mais de mil carretas de materiais para a conclusão dos serviços. “Uma obra como essa exige muita determinação. Serão utilizados mais de 12.000 m³ de materiais de aterro. Estamos trabalhando para que os serviços de combate à erosão no local sejam finalizados ainda esse ano”, explicou.
A gestão municipal, segundo Dolzonan, faz uso de tecnologia para realizar o monitoramento das áreas de riscos. “Com a ajuda do drone, são feitas imagens precisas em locais de difícil acesso”, finalizou. Para o engenheiro civil Marcelo Torrúbia, gerente de obras da Seinfra, o uso do equipamento proporciona maior segurança e visibilidade da erosão em cada local existente. “O drone ajuda-nos muito nos locais de difícil acesso. Com o uso dessa tecnologia, podemos ter um diagnóstico mais preciso, o que facilita muito o nosso trabalho”, pontuou. (Prefeitura de Goiânia)