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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Denúncia

Grafites de Marielle e Maria da Penha são alvo de vândalos no Rio

A ação foi flagrada por câmeras e ocorreu em 10 de dezembro, data em que é celebrado o Dia dos Direitos Humanos, pauta da vereadora e da ativista que dá nome à lei contra a violência doméstica

Postado em 19 de dezembro de 2018 por Katrine Fernandes
Grafites de Marielle e Maria da Penha são alvo de vândalos no Rio
A ação foi flagrada por câmeras e ocorreu em 10 de dezembro

Dois grafites da vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL) e um da ativista Maria da Penha foram alvo de vandalismo no Rio de Janeiro. Um dos grafites de Marielle havia sido pintado com a técnica stencil pela ativista Malala Yousafzai, em sua passagem pelo Brasil, em julho. O stencil consiste no uso de uma forma com o traçado do desenho a ser pintado.

Internacionalmente conhecida, a grafiteira Panmela Castro é quem assina os trabalhos que foram alvo dos ataques. Nos stencils de Marielle e Maria da Penha, o vândalo cobriu seus rostos com tinta preta. A ação foi flagrada por câmeras e ocorreu em 10 de dezembro, data em que é celebrado o Dia dos Direitos Humanos, pauta da vereadora e da ativista que dá nome à lei contra a violência doméstica.

Depois que o caso foi denunciado ontem na imprensa, um segundo grafite de Marielle foi atacado por um vândalo nesta madrugada. No ataque, tinta branca e dourada foi usada para cobrir os olhos e a boca da vereadora. O painel foi pintado em novembro por Panmela, em um ato que contou com a presença da viúva de Marielle, Mônica Benício. 

Enquanto busca orientação jurídica para denunciar os ataques à polícia, a grafiteira esteve nesta quarta – feira (19) no local das pinturas para restaurar o segundo grafite atacado. Durante cerca de 15 minutos, ela recuperou os traços de Marielle sob o sol forte do Rio de Janeiro.

“Não vou parar meu trabalho. Eles serão refeitos nem que seja mil vezes, nem que eu durma aqui na frente igual a uma coruja”, disse Panmela que, apesar da coragem, teme que as agressões se tornem mais violentas. “Vi que o caso é sério depois que amanheceu o segundo pichado hoje. Senti um pouco de medo, porque não sei onde isso pode parar.”

O grafite de Marielle que foi pintado pela ativista paquistanesa deve ser refeito por Mônica Benício, novamente com a técnica de stencil. A intenção de Panmela é fazer a restauração ainda este ano e distribuir formas para que outras mulheres grafiteiras multipliquem o trabalho. 

A homenagem a Marielle também tem um significado pessoal para Panmela. No ano passado, a vereadora ajudou a grafiteira a formalizar uma denúncia contra um ex-namorado que vinha atacando seus trabalhos há cerca de dez anos. “Ele não deixava eu ficar com outras grafiteiras, falava que meu grafite era ruim. Depois que terminei com ele, minha carreira disparou.”

Panmela conta que ele, que também é grafiteiro, costumava pichar xingamentos em seus grafites. Um dia, ao ser desafiado por ela, registrou seu nome no ataque. Mesmo com essa prova, a grafiteira teve dificuldade de registrar o caso.

“Marielle teve que me ajudar porque os policiais riam da minha cara. Conseguimos denunciar com base em um artigo da Lei Maria da Penha porque ele estava me perturbando. Eu queria denunciar por violência patrimonial, mas o policial não deixou”, conta ela, que explica que, nesse tipo de caso, os agentes costumam questionar que grafites são feitos em muros e locais públicos. “O grafite é meu patrimônio, é meu trabalho. Como uma empresa vai contratar alguém que tem os grafites apagados?”

O reconhecimento internacional de Panmela foi o que atraiu Malala a visitar os painéis de grafite que a artista mantém na Favela Tavares Bastos, na zona sul do Rio. No local, a Rede Nami, fundada pela grafiteira, usa a técnica de pintura como forma de educação e conscientização de meninas e mulheres no projeto Afrografiteiras.

Panmela já coloriu paredes em diferentes cidades do mundo, como Berlim, Toronto e Joanesburgo. Sua trajetória na arte remonta a 2008, quando criou o projeto “Grafiteiras pela Lei Maria da Penha”, que promove oficinas em escolas públicas. No projeto AfroGrafiteiras, a cada ano, uma turma de mulheres participa de um curso de oito meses. Chegando em sua quarta edição, a iniciativa já soma mais de 100 beneficiadas. (Agência Brasil)

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