Terapia com movimentos do cavalo ajudam pacientes
Equoterapia utiliza o cavalo para ajudar no movimento dos pacientes
Isabela Martins
A modalidade terapêutica utiliza o cavalo para ajudar nos movimentos dos pacientes. Só no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), que oferece essa terapia há 12 anos, mais de oito mil pessoas já foram atendidas, e atualmente são 200 pacientes recebendo o tratamento.
A escolha do cavalo para a terapia se deve ao fato dos movimentos realizados pelo animal serem mais parecidos com o dos seres humanos. Outro aspecto para a escolha se deve ao fato do animal ser livre de preconceitos e aceitar facilmente o praticante.
A equoterapia trabalha todos os movimentos do praticante. Segundo a Diretora Multiprofissional de Reabilitação do Crer, Sônia Helena, a resposta na melhora na condição do paciente, muitas vezes é mais rápida do que no tratamento da fisioterapia. “A equoterapia melhora aspectos sociais, o equilíbrio, a autoestima, confiança e segurança dos pacientes, porque ele começa a enxergar o mundo de cima”.
O protocolo da unidade é crianças a partir de três anos e o tratamento dura um ano. A atividade é contraindicada para pacientes psiquiátricos graves e pacientes com crises convulsivas de difícil controle ou que apresente algum tipo de alergia ao animal.
A prática da modalidade se torna emocionante para o praticante e para os profissionais. “Tive um paciente autista com cerca de 1,80 metros. Quando ele chegava o animal ajoelhava para ele. Era emocionante ver aquilo”, comentou Sônia.
Espera
Apesar de a unidade ter recebido mais de 8 mil praticantes nos últimos 12 anos, segundo a diretora, esse número poderia ser maior caso a quantidade de profissionais que atendem na área fosse superior. “A gente tem uma fila de espera de quase 200 praticantes, poderia ser maior o número de pessoas que recebem o tratamento caso houvesse mais profissionais. Outro fator é que o animal precisa do seu tempo”. A equipe de equoterapia do Crer é formada por oito terapeutas, auxiliares de terapia e dois tratadores. Além disso, são 12 cavalos auxiliando no tratamento.
Aristheu Xavier acompanha o filho na equoterapia. Durante meia hora, Aristheu Filho, de 10 anos, faz tratamento na cavalaria da Polícia Militar, espaço onde os pacientes do Crer realizam a atividade. Aos dois anos de idade, o pequeno Aristheu teve uma regressão no comportamento, ao procurarem um médico foram encaminhados para o Crer. “Ele desenvolveu muito. Desde que começou a equoterapia o desenvolvimento dele foi avançado, ninguém percebe que ele é especial”.
O pai conta que as mudanças no comportamento do filho foram imediatas. “Antigamente ele era agressivo, depois que passou a fazer a equoterapia acabou isso. Ele é calmo, interagi com todo mundo coisa que ele não fazia antes. Está sendo importante até para a gente mesmo, devido a melhora que ele teve em tudo”, comentou
Terapia que acalma
A jornalista Carla Lacerda já conhecia a equoterapia por trabalhos que havia feito com crianças especiais. Quando o filho João Lucas tinha dois anos foi diagnosticado com autismo. Das várias terapias recomendadas, a equoterapia era uma delas. “O neurologista quando faz o diagnostico encaminha para o tratamento que precisa ser multiprofissional, e a equoterapia foi uma dessas indicadas. Ele fez musicoterapia e terapiaocupacional até conseguir a ‘equo’ no Crer, ano passado”.
Quando iniciou o tratamento, João Lucas, de 6 anos, tinha receio do cavalo, mas após o primeiro contato com animal isso mudou. “No começo ele tinha medo, mas ele nunca tinha visto ou andado a cavalo. Na segunda sessão já correu para subir no animal”, contou.
João faz a equoterapia uma vez por semana durante meia hora, e a mãe nota a importância do tratamento na vida do filho. “Ele fica mais calmo, mais organizado sensorialmente. A criança com autismo tem os sentidos mais aguçados, e às vezes eles se desorganizam sensorialmente. Então andar a cavalo dá esse equilíbrio e essa organização”. Outro benefício que ela percebe é na interação social do filho. “Quando essas crianças interagem com os animais, isso vai acabar facilitando a interação social com outra crianças, vai ajudar na questão da afetividade e segurança”.
Carla comenta ainda da emoção que a equoterapia causa no filho. “A sensação para ele eu percebo pelos sorrisos e pelo anseio de subir no cavalo assim que animal chega. Às vezes tem outra criança sentada e ele já que ir e subir’. A sensação de ver o filho fazendo a atividade é gratificante. “Quando você vê seu filho bem, automaticamente você fica bem. É um momento prazeroso para ele e para mim. E isso pode ajudá-lo a fazer outras terapias, porque o cavalo vai auxiliá-lo sensorialmente e ele vai chegar mais calmo para fazer outras atividades”.
Terapia no cavalo ajuda a revelar um campeão
Osmary Souza dos Santos, de 30 anos, viu sua vida mudar completamente após sofrer um acidente automobilístico. Ele teve uma lesão medular, o que comprometeu a sensibilidade do corpo e o movimento do tronco e das pernas. Por causa do acidente e da lesão, Osmary ficou paraplégico.
Após o acidente, começou a receber os primeiros tratamentos de fisioterapia em Goiânia, onde morava, mas ao se mudar para Itumbiara, região Sul de Goiás, ficou com medo de não dar continuidade ao tratamento. Um amigo que morava na cidade comentou sobre o Centro de Equoterapia Crescer, localizado no Parque de Exposições do município.
Após descobrir a importância da equoterapia, Osmary procurou o Centro e começou a frequentar as sessões. Os resultados foram logo sendo sentidos. “Hoje considero que evoluí muito, já recuperei sensibilidade e agora consigo ter certo controle do tronco. Não consigo ficar sem frequentar a equoterapia. Tem um ano e meio que venho aqui toda semana. Além do trauma físico, as pessoas acidentadas chegam com traumas psicológicos, mas com a ajuda da equipe de profissionais fica mais fácil superar”.
Uma vez por semana ele frequenta o Centro na atividade que dura 40 minutos em cima da égua Bolinha. O jovem que até então não tinha contato nenhum com cavalo viu sua rotina mudar. “Quando subo no cavalo, me sinto realizado. É um momento especial, onde tenho contato direto com o animal e volto a sentir movimentos. Isso me dá uma alegria”, contou.
Esporte
Mesmo sem conhecimento e tendo medo de praticar esporte por conta da lesão na medula, Osmary se arriscou no Jiu-Jitsu, uma arte marcial que tem como técnica golpes, alavancas e pressões para derrubar o adversário. Após seis meses de treino as medalhas vieram.
Ele se tornou campeão no estado de Goiás, Uberlândia, São Paulo, sendo o último título de campeão mundial em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. “Antes do acidente eu não montava em cavalos, e nem praticava nenhum tipo de esportes. Depois que passei a frequentar a equoterapia, também passei a treinar Jiu-Jitsu. Hoje sou bicampeão brasileiro e bicampeão mundial e recentemente primeiro cadeirante mundial do estado de Goiás a receber prêmios nos Emirados. Eu só tenho a agradecer a toda equipe de profissionais da equoterapia. Jamais teria conseguido isso sozinho”, comentou.
A equipe de profissionais que acompanha Osmary também comemora as vitorias. A fisioterapeuta Marcela Pereira o acompanha desde o inicio do tratamento na unidade. “A equoterapia é um trabalho físico, emocional e intelectual muito importante para todos que praticam. Conseguimos trabalhar na parte física, a correção de postura e na parte emocional, por exemplo, o exercício de dominar o cavalo faz muito bem ao praticante”, conta a fisioterapeuta.
A evolução do paciente na equoterapia depende de cada paciente. Com Osmary a força de vontade e o empenho superaram todas as expectativas da equipe e surpreenderam a fisioterapeuta Marcela Pereira, que lembra que nas primeiras sessões ele não conseguia segurar as rédeas do cavalo.
No centro de equoterapia de Itumbiara a equipe é formada por duas fisioterapeutas, um fonoaudiólogo, uma psicóloga, um profissional de educação física. O paciente pode ser encaminhado para o local pela rede de saúde ou alguma unidade que atenda pessoas com algum tipo de deficiência. A busca pelo tratamento no centro vai desde a correção da fala, postura, crianças encaminhadas por escolas por apresentarem algum distúrbio de aprendizagem e acidentados como é o caso de Osmary.