Versão de clássico de Chico Buarque e Paulo Pontes chega a Goiânia
Espetáculo ‘Gota D’Água’ tem três apresentações no Teatro Sesi
SABRINA MOURA*
Em dezembro de 1975, Bibi Ferreira subia ao palco do Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, para apresentar pela primeira vez o espetáculo Gota D’Água – uma transposição da tragédia grega Medeia, de Eurípedes, para a realidade de um conjunto habitacional do subúrbio carioca. O texto com versos de Chico Buarque e Paulo Pontes, que marcou época e se tornou um clássico moderno do teatro brasileiro, ganhou uma nova adaptação, intitulada Gota d’Água [a seco], que chega a Goiânia na sexta-feira (22), no sábado (23) e no domingo (24) no Teatro Sesi.
A releitura inédita do diretor Rafael Gomes, que teve sua estreia em maio de 2016, traz para o palco os atores Laila Garin (Joana) e Alejandro Claveaux (Jasão), que são acompanhados por cinco músicos sob a direção de Pedro Luís. “É muito especial estar no palco com esse espetáculo. Uma obra tão primorosa que realmente emociona é uma grande sorte para nós, artistas. Adoro o texto, as músicas e também Medeia, inspiração de Paulo Pontes e nossa, durante os ensaios”, conta o ator goiano Alejandro Claveaux.
A obra
Chico Buarque e Paulo Pontes começaram a trabalhar no texto original a partir de uma transposição que Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) havia feito para a televisão. A feiticeira Medeia virou Joana, moradora do conjunto habitacional Vila do Meio-Dia, mãe de dois filhos, frutos de seu casamento com Jasão, alguns anos mais novo do que ela. Compositor popular, Jasão é cooptado pelo empresário Creonte, que o ajuda a fazer sucesso, e termina por largar Joana para se casar com a filha do milionário. A trama passional – que culmina na vingança de Joana – tem como pano de fundo as injustiças sociais pelas quais os moradores do local passam, vítimas da exploração de Creonte, todo-poderoso da região.
Alejandro explica como foi o processo de adaptação da peça e no que ela se diferencia da original: “No texto original, são 18 personagens e, na nossa montagem, apenas dois – Jasão e Joana. A peça se concentra na relação amorosa dos dois, e os outros personagens entram na história por meio deles. Também incluímos outras canções de Chico Buarque que nos ajudam a contar essa história. No original, existem quatro músicas, e acrescentamos outras nove”.
Para dar vida ao seu personagem – Jasão –, o ator conta que foi um processo trabalhoso. “Além das inúmeras aulas de canto e música, trabalhei bastante o corpo através de dança, capoeira e exercícios de resistência. A peça é bastante física. Também trabalhamos juntos na criação do espetáculo e desse personagem. Queria que o público torcesse por ele”, revela Alejandro.
Além da política, o espetáculo fala sobre amor, traição, abandono, as diferenças de idade e sobre ambição. Além disso, ele traz desespero da pessoa que perdeu um grande amor e vive uma grande desilusão – aonde o extremo desse ódio e rancor pode chegar.
Para Alejandro, o espetáculo transmite a mensagem da condição humana miserável em que vivemos. “Trata-se de humanos querendo manter seus privilégios e outros humanos se ferrando para sustentar esses privilegiados, segurando a polaridade do mundo, onde uns precisam se ferrar para que outros tenham mais do que precisam. O que é mais forte: um grande amor, ou uma boa posição?”, questiona o artista.
Questionado sobre a importância em se representar a política na vida das pessoas atualmente, Claveaux pontua que “um povo que entende seu passado, sua política, seus representantes e sua condição jamais vai se deixar enganar e ser manipulado. Um povo sem cultura e sem informação vive acreditando em fakenews. É muito mais fácil viver de informação mastigada, mentirosa e jogada facilmente em redes sociais do que realmente pesquisar e tentar se informar sobre a verdade. Hoje, vivemos a cultura da preguiça. É tudo armado pra isso mesmo. Quanto menos informação e cultura, mais fácil manipular as massas, gerando medo e insegurança. Quem ganha com isso tudo não sou eu nem você, são eles, os políticos corruptos, que nos privam de cultura e fazem de tudo para ganhar ainda mais dinheiro”, esclarece ele. “Um espetáculo faz a pessoa pensar, refletir e ter suas próprias conclusões. A música toca a alma e emociona, diminuindo a agressividade. Tudo o que os ratos de gravata não querem e, por isso, vamos sempre resistir”, completa Alejandro.
Nascido em Goiânia e filho de pais uruguaios e bisneto de franceses e espanhóis, Ajeandro Claveaux é formado em Engenharia de Alimentos, e chegou a trabalhar no ramo por cerca de três anos. Decidiu ser ator, após ter feito um curso de Artes Cênicas na faculdade, que o fez trocar sua cidade natal para morar no Rio de Janeiro. “Estou realmente muito feliz. Estou há tempos tentando trazer o espetáculo para a minha terra. É uma peça necessária neste momento. Quero muito que meu povo possa ouvir esse texto e essas músicas, interpretados por mim e Laila, com muita entrega e muito amor. Espero vocês!”, finaliza ele.
*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da
editora Flávia Popov
SERVIÇO
‘Gota D’Água [a seco]’
Quando: sexta-feira (22) às 21h, sábado (23) às 21h e domingo (24) às 20h
Onde: Teatro Sesi (Avenida João Leite, nº 1.013, Setor Santa Genoveva – Goiânia)
Entrada: tudus.com.br