Quatro entre dez mulheres agredidas são evangélicas
Cidades
Isabela Martins*
Estudo aponta que 40% das mulheres que se declaram vítimas de agressões físicas e verbais de seus parceiros são evangélicas. Os dados foram obtidos através de depoimentos coletados das vítimas por Organizações não governamentais (ONGs), que dão apoio a mulheres que foram agredidas e divulgados pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo.
No quadro das mulheres evangélicas, o estudo apontou que muitas se sentem coagidas por seus líderes religiosos e por isso não denunciam a violência sofrida, como apontado em trechos do documento. “Não esperávamos encontrar no nosso campo de pesquisa, quase 40% das atendidas declarando-se evangélicas”, ressalta o documento. “A violência do agressor é combatida pelo ‘poder’ da oração. As ‘fraquezas’ de seus maridos são entendidas como ‘investidas do demônio’, então a denúncia de seus companheiros, agressores as leva a sentir culpa por, no seu modo de entender, estarem traindo seu pastor, sua igreja e o seu próprio Deus”, ressalta a pesquisa.
Peso da religião
Segundo os responsáveis pelo estudo, as instituições religiosas deveriam incentivar as denúncias de violência contra mulher, e não culpá-las, acusando-as de fracas ou sem fé. “Para os pastores, se torna mais fácil mandar essas vítimas de volta para casa com a promessa de que somente a oração lhes salvaria, do que ajudá-las a enfrentar o agressor”, diz o relatório.
O advogado Antônio Cintra Schmidt, que analisou os dados da pesquisa, defende a idéia de que a igreja deveria desempenhar o papel de orientar essas mulheres conscientizado-as sobre seus direitos. Ele ressalta que muitas vezes é difícil para as vítimas exporem sua intimidade, mesmo que no ambiente religioso e que ainda a responsabilidade recai sobre elas. Ainda segundo ele, é necessário que qualquer pessoa que presencie qualquer tipo de violência contra a mulher, denuncie o caso às autoridades. Uma vez feita à denúncia, o processo contra o agressor tem andamento.
O pastor Renato Vieira Matildes que também analisou o documento, disse que os números são preocupantes. E que a omissão pastoral chama a atenção, já que é uma das causas do índice elevado. Ele lamentou que muitas vezes a opção dos líderes é dizer ‘olha, vá embora que nós vamos orar e Deus vai fazer a obra’, e que ao invés dos pastores orientarem de forma prática os casais, as vezes acabam colocando barreiras.
Maria da Penha
Com pouco mais de 10 anos de funcionamento, a Lei Maria da Penha visa garantir a segurança feminina e punir agressores. É considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU), uma das três leis que dão maior proteção as mulheres em todo mundo. Ela fala sobre vários tipos de violência: física, psicológica, sexual e patrimonial. Ainda assim precisa ser efetivamente aplicada pelos órgãos públicos na maioria das cidades. (Isabela Martins é estagiaria do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)