Obra de viaduto segue parada
Moradores relatam que após o início das obras do viaduto na Avenida São Paulo, em Aparecida de Goiânia, os problemas de trânsito continuam os mesmos
Thiago Costa
A obra do viaduto da Avenida São Paulo, em Aparecida de Goiânia, começou em maio do ano passado e deveria ter sido concretizada no período de seis meses. Orçada em R$ 13,1 milhões, o viaduto registra atrasos significativos que atrapalham diretamente a vida dos aparecidenses. Construída para facilitar o cruzamento entre as avenidas Rudá e Tapajós, a obra está parada e com previsão para ter os trabalhos retomados somente após o período chuvoso deste ano. De acordo com cronograma divulgado pela Prefeitura à época do lançamento dos trabalhos, a obra deveria ter sido entregue em outubro de 2018.
Elza Carvalho mora em um apartamento em frente à obra e explica que desde quando começaram os trabalhos frente a sua residência para a construção do viaduto ela nunca acreditou que a obra seria concluída sem interrupções. De acordo com Elza, seus vizinhos estavam sempre confiantes e afirmavam que as obras seguiriam o curso normalmente, mas quando ela viu as máquinas sendo retiradas logo ressaltou que não confiava na conclusão rápida do empreendimento público.
Ela, que é moradora da região há seis anos, conta que antes das máquinas chegarem, a avenida era ótima. “Tinha sombra. Tinha no meio do canteiro árvores até lá em baixo. O tanto que nós sofremos agora, deste lado que eu moro, com o sol que bate na minha casa” reclama.
Moacir Damazio diz que a obra do viaduto, que deveria ter duração de seis meses, é acompanhada pelos moradores e usuários da via há aproximadamente um ano. Ele explica que as obras estavam em uma velocidade acelerada em comparação ao que normalmente é visto em obras públicas, mas que de uma hora para outra foi parada. “Não vê ninguém ai. Não vê máquina. Não vê nada”, afirma Moacir.
Ele conta que a obra atrapalhou muito o comércio na região. Uma das reclamações do morador é que os usuários que precisam atravessar a avenida agora percorrem uma distância muito maior do que antes. Ele acredita que a obra que deveria ter sido entregue há meses só poderá ser usufruída pela sociedade por volta do mês de julho deste ano.
Um usuário do transporte coletivo que não quis se identificar, mas que passa pela via todos os dias para ir e voltar do trabalho informou à reportagem que nem os períodos chuvosos atrapalhavam os trabalhadores a continuarem as atividades na obra do viaduto da Avenida São Paulo, em Aparecida de Goiânia, quando queriam agilizar o andamento da entrega. Ele conta que por algumas vezes passou no local em período de chuva e viu homens trabalhando, mas que agora já faz um bom tempo que não vê andamento da obra.
“Não entendo por que eles estão falando agora que pararam por conta do período chuvoso. Há um tempo eu via gente trabalhando aqui mesmo debaixo de chuva. Agora justificam a paralisação dos trabalhos por conta das chuvas, mas hoje nem está chovendo, está um belo dia de sol e não tem ninguém aqui e eles até fecharam tudo”, disse o usuário da via.
Preocupação
Valdir Antônio é comerciante do ramo ciclístico e tem um ponto na Avenida São Paulo, que está em obras para a construção do viaduto há 20 anos. Ele afirma que o movimento no comércio continua o mesmo desde quando o viaduto começou a ser construído. Valdir acredita que o movimento vai diminuir quando a obra for entregue. “Eu ouvi falar que em todo lugar que faz esse tipo de obra o comércio tem uma caída nas vendas”, lamenta.
O comerciante lamenta que se as vendas caírem e ele não conseguir manter o comércio viável no ponto que sempre deu certo, vai precisar tomar a difícil decisão de ir para outro lugar. Valdir conta que quando viu os comércios a sua volta fecharem as portas ficou muito preocupado, mas que conseguiu perseverar.
“O medo mesmo é para quando os clientes pararem de passar aqui na porta da loja e poderem passar por baixo do viaduto. Pode ser que os meus clientes que tenham carro tenham dificuldades para vir aqui na loja. Às vezes a pessoa aproveita o túnel e vai embora”, ressalta Valdir.
Um comerciante local que não quis se identificar reclama que a obra foi totalmente desnecessária. Para ele, o cruzamento entre as avenidas São Paulo e Rudá não vai solucionar os problemas do tráfego e que o poder público deveria ter estudado mais o trânsito da região. O comerciante explica que a necessidade real de melhoria, até mesmo o viaduto, seria uma rotatória logo a frente de onde o viaduto está em construção.
O comerciante afirma que a obra teve início para fins políticos, a pedido de um ex-prefeito do município. Ele acredita que a obra, que recebeu recurso Federal, deveria ter sido barrada antes mesmo de iniciar. “Essa obra daqui da São Paulo, quando eles conseguirem liberar o trânsito vai ficar congestionado de baixo do viaduto, do túnel, porque lá na frente não tem fluxo de veículo” afirma.
Ele acredita que se o dinheiro utilizado nessa construção fosse transferido para corrigir problemas de buracos no município, a cidade teria uma qualidade de vida melhor. Ele ainda ressalta que os problemas de Aparecida de Goiânia não se limitam em apenas o trânsito, mas que vão muito além e atrapalham a vida de vários moradores da cidade.
O comerciante que preferiu não se identificar por medo de represálias conta ainda que a obra é mal construída e que, por os pilares laterais serem muito baixos, ele já presenciou cinco cachorros pegar carreira na avenida e pular esses pilares e caírem dentro do túnel. O empresário teme que esses animais continuem pulando, após terminadas as obras, atingindo assim os veículos que passam por baixo, causando acidentes graves.
Em nota a Secretaria de Infraestrutura de Aparecida de Goiânia informou que já concluiu 90% da obra e implantação de galerias pluviais. Ainda de acordo com a nota, a parte de compactação e pavimentação asfáltica está prevista para depois do período chuvoso. A pasta ainda ressalta que a entrega completa da obra depende da estiagem. De acordo com a Secretaria, a obra foi orçada no valor de R$ 13,1 milhões e o viaduto dará maior fluidez no cruzamento das avenidas São Paulo, Tapajós e Rudá, na Vila Brasília.
Comércio da Avenida São Paulo foi diretamente atingido pela obra
A obra, que deveria ser entregue há meses ainda não está em fase de conclusão e máquinas e operários não são vistos por quem passa diariamente na Avenida. Um dos problemas que a obra ocasionou para a região foi o fechamento de importantes pontos comerciais antigos da Avenida.
Elza Carvalho, que mora na região há seis anos era acostumada a frequentar uma casa lotérica que da porta de sua casa dava para acompanhar o tamanho da fila. Agora, a moradora precisa percorrer uma distância maior para fazer os mesmos serviços que antes eram feitos com maior facilidade. Ela explica que quando as obras começaram em frente a sua casa, muitos pontos comerciais, como uma unidade escolar tiveram que mudar de endereço.
Elza conta que 90% do movimento da avenida acabou e andar na própria porta de casa ficou perigoso por conta do menor fluxo de pessoas que antes era comum na região. “Não ficou perigoso só para mim, mas para todos os que moram por aqui. Se eu pudesse decidir entre começar essa obra ou não, eu falaria para que não fizessem”, finalizou a dona de casa.
O mototaxista Jesus Arcanjo acompanhou várias empresas fecharem na avenida. Ele afirma que a obra foi um prejuízo total para os comerciantes locais. De lotérica a casa de tintas fecharam na localidade, segundo Jesus. “Tinha imobiliária e assim que as obra começaram o pessoal foi fechando as empresas. Os carros não conseguiam parar aqui mais” ressalta Jesus.
Jesus acredita que as empresas que já fecharam nem voltam para onde estavam. O mototaxista reclama que desde quando o viaduto começou a ser construído os estacionamentos foram retirados e o tráfego para os clientes piorou. Jesus afirma que para ele, que trabalha com viagens de passageiros de moto, todos sofreram com essas obras.
Jesus não vê melhorias para sua área de atuação com a construção do viaduto, mesmo ele necessitando diretamente de uma boa avenida para transitar. De acordo com o mototaxista, é preferível ter a clientela passando de um lado para o outro na antiga avenida do que não ter ninguém atravessando e um viaduto para as pessoas passarem em seus veículos somente por baixo. “Antes tinha mais chances de trafegar de um lado para o outro. Agora essas pessoas não passam mais por aqui. Atrapalhou os motoboys, porque tem um ponto do outro lado”, reclama Jesus.
Em março de 2018 o secretário de Infraestrutura de Aparecida de Goiânia, Mário Vilela, falou com a imprensa local sobre o trânsito na localidade. “Temos ali um ponto de grande conflito de trânsito. A trincheira vai desafogar o tráfego em toda a região, tanto em Goiânia quanto Aparecida. É um ponto essencial”
“A Secretaria de Trânsito fez um estudo com critério e bem detalhado de desvios na região. Claro que vai ter impacto, mas cada detalhe está sendo visto para que tenhamos o menor impacto possível para os transeuntes” afirmou o secretário.