Economia andou de lado em 2018 e corre o risco de crescer pouco também em 2019
Lauro Veiga
Entre
42 países selecionados pela consultoria Austin Rating, o Brasil conseguiu a
proeza de apresentar a 40ª taxa mais baixa de crescimento em 2018, numa
variação de 1,1% – exatamente a mesma variação observada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017. Na relação montada pela
consultoria, que não inclui a Argentina (cuja inclusão colocaria o Brasil em honroso
39º lugar), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro supera
apenas aquele apresentado pelo Japão (0,7%), às voltas com baixíssimas taxas de
crescimento há décadas, e pela Itália (0,8%), que enfrente nova crise neste
momento.
O
desempenho apresentado pela economia brasileira no ano passado gera
preocupações não apenas porque a taxa foi novamente muito baixa para um País
que veio de quedas expressivas do PIB em 2015 e 2016 (-3,5% e -3,3%
respectivamente). Mas especialmente porque a atividade econômica veio perdendo
dinamismo nos últimos trimestres de 2018 e não demonstrou capacidade de reação
mesmo depois de cessados os impactos negativos da greve dos caminheiros,
ocorrida em maio. Na verdade, para repetir um jargão recorrente no mercado, a
economia literalmente andou de lado em 2018 e, no final do período, retornou
aos níveis observados no trimestre final de 2017. Em síntese, um avanço muito
lento e quase nulo.
Os
indicadores mais recentes na série do IBGE sugerem dificuldades ainda ao longo
deste ano, especialmente se for considerado que o mercado de trabalho não tem
reagido e a oferta de crédito para as famílias, que chegou a crescer até meados
do ano passado, assumiu tendência de desaceleração desde lá. Na medição do
Banco Central (BC), houve desaquecimento também na renda, o que não prenuncia
ventos mais favoráveis para este ano.
Menor renda
extra
A
massa salarial ampliada disponível – conceito que considera a soma de todos os
rendimentos recebidos pelos trabalhadores, aposentadorias e pensões, além de
benefícios de programas sociais, e desconta o recolhimento de contribuições à
Previdência e ao Imposto de Renda – havia crescido 7,2% em 2017 e passou a
avançar 4,1% em 2018 (o crescimento, em termos reais, descontada a inflação,
saiu de algo próximo a 3,7% para apenas 0,3%). Em valores correntes (quer
dizer, não atualizados), o crescimento da massa de rendimentos havia injetado
R$ 208,0 bilhões na economia em 2017. No ano passado, a variação observada
significou um fluxo de caixa adicional de R$ 127,0 bilhões para as famílias, ou
seja, 61% do valor acrescido ao orçamento familiar no ano anterior. Os
primeiros indicadores do IBGE para este ano sugerem um padrão de crescimento
ainda modesto para o emprego e para a renda, por insuficiência de demanda.
Balanço
·
Se
o crédito e a renda não parecem abrigar elementos suficientes para animar a
economia, a contribuição do setor externo tende a ser negativa. No ano passado,
com crescimento de 4,1% nas exportações de bens e serviços e salto de 8,5% nas
importações, o setor externo reduziu o avanço do PB em meio ponto de
porcentagem.
·
Nos
anos de recessão, a contribuição havia sido positiva (mais 2,7 e mais 1,6
pontos em 2015 e 2016, enquanto a demanda doméstica “roubou” 6,2 e 4,9 pontos
do PIB em cada um daqueles anos).
·
Os
dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) antecipam baixa crescimento para
as exportações globais neste ano. No caso das economias emergentes, as vendas
externas anuais chegaram a crescer 7,1% em novembro do ano passado e apresentaram
variação de 2,1% em dezembro, demonstrando forte desaquecimento.
·
No
caso dos investimentos, que encolheram 12,1% e 2,5% em 2016 e 2017,
registrou-se incremento de 4,1% no ano passado. A mudança de sinais foi
influenciada por uma mudança metodológica adotada pelo IBGE, que passou a
classificar a importação de plataformas de petróleo na conta de investimentos.
Isso fez o investimento em máquinas e equipamentos saltar 15,4% em 2018.
· O setor da construção, que responde por 47% na
formação do investimento, caiu mais 3,4% (depois de perdas de 10,8% e 7,4% em
2016 e 2017). O PIB do setor encolheu 30% entre o começo de 2014 e o final de
2018, correspondendo ao fechamento de 1,0 milhão de empregos – em parte pelo
enfraquecimento da atividade econômica e outra fatia por conta dos efeitos da
Operação Lava-Jato sobre as grandes construtoras.