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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Cidades

Curso técnico vem sendo o caminho mais rápido para o emprego

Dados do SENAI Goiás de 2018 apresentam uma procura de 9 mil pessoas interessadas em cursos técnicos de nível médio

Postado em 8 de março de 2019 por Sheyla Sousa
Curso técnico vem sendo o caminho mais rápido para o emprego
Dados do SENAI Goiás de 2018 apresentam uma procura de 9 mil pessoas interessadas em cursos técnicos de nível médio

Thiago Costa 

Cursos técnicos têm chamado a atenção dos goianos em todo o Estado de Goiás, aponta estatísticas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que registrou em 2018 uma procura de 9 mil pessoas a fim da modalidade de ensino técnico. Em alguns casos, o curso técnico pode oferecer ao formado faixa salarial maior do que o ensino superior, com média de R$ 4,5 mil para iniciantes do nível técnico. Em Goiás, o SENAI já oferece 22 cursos técnicos.

Dentre os cursos mais procurados pelos goianos estão Eletrotécnica, Eletromecânica, Mecânica, Química e Mineração. A média de alunos que conseguem entrar no mercado de trabalho após passar pelo curso técnico é de 80%. Nos últimos anos, por conta da economia que passa o país, o gerente de Educação Profissional da instituição, Weysller Matuzinhos, explica que o número de formados inseridos no mercado de trabalho diminuiu para uma média de 72%, mas todo o histórico da instituição registra um bom número de pessoas que saem dos cursos e já conseguem uma vaga no mercado de trabalho, para atuarem nas áreas pelas quais foram qualificadas . 

Paulo Henrique Morais é estudante de Engenharia Elétrica em nível superior e também cursa o ensino técnico pelo SENAI, em Goiânia. Paulo Henrique acredita que, embora já tenha terminado o ensino médio e iniciado o curso superior, o curso técnico é uma porta certa para o mercado de trabalho. 

Ele explica que todo o aprendizado que tem adquirido para trabalhar na área foi no curso técnico e vê a junção entre os cursos como uma oportunidade a mais para a carreira e que apenas o ensino superior não o daria tanto conhecimento como ele tem em fazer os dois cursos de uma vez. 

O jovem tem o foco de entrar no mercado de trabalho, mas não como empregado, e sim como empresário. Ele afirma que as desistências no curso técnico acontecem porque, apesar de parecer mais fácil que o ensino superior, não é fácil como as pessoas pensam e que todo estudo necessita de uma dedicação para o que é ensinado. 

“Se você for um bom aluno e um bom profissional você vai conseguir um emprego. Considero mais a capacidade e o esforço do aluno. Não é culpa do SENAIS quando um aluno desiste, mas da própria pessoa que desistiu. Nenhum curso é fácil”, justifica Paulo. 

O aluno está no terceiro módulo em Eletrotécnica pelo SENAI e tem formatura prevista para setembro deste ano. Há três anos no curso, Paulo despertou o desejo pelo empreendedorismo e quer aplicar todos os ensinamentos adquiridos para ganhar muito dinheiro quando seus projetos começarem a fazer o bem para toda a sociedade que poderá se beneficiar das suas idéias. 

“Eu não foco muito na intenção de ser um empregado, mas sim no empreendedorismo. Nessa área, se você souber manusear, você se torna um empreendedor. Tenho um projeto já bem desenvolvido na área de telecomunicação que distribui links de internet para bairros mais afastados que via suprir a necessidade desses clientes em relação ao que as atuais operadoras são falhas e não conseguem suprir as necessidades desses clientes”, afirma. 

Ele explica que observou nas atuais empresas de telecomunicação que elas não investem muito em novos clientes, mas que se preocupam apenas com os atuais clientes. Ele pretende chegar com a internet em bairros que as empresas atualmente não conseguem. 

Desistências 

Mirian Sandy é professora do curso técnico em Mecatrônica e em Eletrotécnica no SENAI. Ela afirma que quando uma turma nova chega ao curso é a maturidade para a escolha que fizeram, de fazer a inscrição. A professora conta que muitos alunos, após um período parado, vêem até ela para reclamar por ter parado de estudar. 

Mirian explica que muitas vezes alguns alunos chegam com uma expectativa em relação ao curso e se frustram. Como conta, um dos principais motivos para essa frustração é que os alunos fazem pesquisas errôneas sobre a profissão e quando vêem as dificuldades no curso, esses alunos se evadem das salas de aula. 

A professora explica que em um curso técnico de três anos, o primeiro ano é primordial para saber os que permanecerão e os que vão desistir. Um dos motivos que a professora explica para a desistência da maioria é a dificuldade em conciliar os estudos com o trabalho, já que uma boa parte dos que estão em um curso técnico já tem idade para trabalhar e assim o fazem. 

Ela garante que é necessário levar a sério os estudos, porque o mercado de trabalho os cobrará isso quando formados.  A professora licencia disciplinas para o aluno Paulo e afirma que o aluno quer trabalhar mais com a mente do que com as próprias mãos e por isso ele escolheu também o ensino técnico e não se conteve apenas com o superior, pois no técnico ele tem a oportunidade de ter uma vivencia que no ensino superior não seria possível. 

De acordo com o gerente de Educação Profissional do SENAI, Weysller Matuzinhos, a importância por escolher um curso técnico se dá por uma melhor colocação no mercado de trabalho. “O profissional que tem um curso técnico tem uma colocação no mercado e uma remuneração melhor. É um setor que, com toda a crise e situação econômica que passamos, não foi tão impactado como outros setores do mercado”, afirma. 

Weysller explica que a habilitação técnica profissional proporciona a esses técnicos se habilitarem em conselhos regionais de categoria profissional. De acordo com o diretor existem os conselhos regionais da área industrial, que acaba valorizando o profissional que cursa uma habilitação técnica.

Para Weysller o que mais chama a atenção em uma formação deste nível é o respaldo e remuneração diferente.  Ele ressalta que uma formação de nível técnico médio, o formado tem um ganho inicial com média R$ 2.200 A R$ 2.500, mas existem cursos técnicos que pagam inicialmente até R$ 4.500, que é o caso dos formados em eletrotécnica. 

“Os cursos técnicos têm também a possibilidade do profissional atuar como o responsável técnico. Um profissional da área de química pode fazer laudos de análises sobre, por exemplo, a quantidade de poluentes que as empresas emitem e a carga horária para um curso técnico em química gira em torno de R$ 1.200”, explica Weysller Matuzinhos.  

Carreiras técnicas garantem salários atrativos 

Profissões de nível técnico podem ser uma excelente opção para quem deseja ingressar no mercado de trabalho com boa remuneração. Os mais recentes dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/2016) mostram que o salário de técnicos supera, muitas vezes, o de profissionais de nível superior. Nas áreas de eletromecânica, química e energia, técnicos com mais de um ano de casa ganham em média R$ 7,2 mil, enquanto aqueles com mais de dez anos de experiência têm rendimento superior a R$ 10 mil. 

Por outro lado, a remuneração de assistentes sociais, biólogos, jornalistas e economistas domésticos gira em torno de R$ 5 mil. Para nutricionistas, psicólogos e psicanalistas a discrepância é ainda maior. Nesses casos, o rendimento médio mensal é de R$ 3,5 mil. Esses profissionais precisam de dez ou mais anos de experiência para conquistar um salário de R$ 5,7 mil.

As profissões técnicas que ganham relevância com a Indústria 4.0 serão destacadas na Olimpíada do Conhecimento, que ocorre de 5 a 8 de julho, em Brasília. O evento, promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e pelo Serviço Social da Indústria (SESI), mostrará inovações que prometem melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos e revolucionar a educação, além de mostrar quais serão os profissionais do futuro.

Érica de Santos Melo conta que sua vida profissional decolou após um curso de Costura Industrial no SENAI. Com a qualificação, a pernambucana foi contratada pela Lear, líder mundial no segmento de assentos automotivos. “Hoje eu tenho uma qualidade de vida muito melhor e segurança para educar minha filha”, afirma a encarregada de produção.

O mato-grossense Junior Gonçalves de Souza também diz que a educação profissional foi determinante para sua carreira. Meses depois de iniciar o curso técnico de Eletroeletrônica no SENAI, o estudante conquistou uma vaga de estágio no Grupo Petrópolis, segunda maior cervejaria do Brasil. Ao final da capacitação, foi efetivado como eletricista e, no início de 2018, assumiu o cargo de Técnico em Automação Industrial, área na qual pretende seguir carreira. 

Além da remuneração atrativa, o mercado de trabalho brasileiro enfrenta dificuldades para recrutar profissionais de nível técnico. Mesmo com a redução do número de empregos nos últimos anos, 43% das empresas brasileiras relatam problemas no preenchimento de vagas. Segundo a pesquisa Escassez de Talentos 2016/2017, feita pela empresa multinacional de seleção e recrutamento ManpowerGroup, a demanda mais difícil de ser suprida é a de técnicos de produção, operação e manutenção. Cargos administrativos, de operadores de produção e na área de construção civil também são carentes de profissionais capacitados.

Na análise do diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi, a oferta limitada de profissionais de nível técnico está relacionada ao sistema educacional brasileiro, orientado para o ensino superior. “Temos um problema na matriz educacional brasileira, construída como se todos os estudantes chegassem à universidade, quando apenas 17% seguem para o ensino superior. Além disso, somente 11% dos estudantes fazem o ensino médio articulado à educação profissional”, afirma.

Dados do Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (Cedefop) mostram que, nos países desenvolvidos, a média de jovens que se dedicam a cursos técnicos é de 50%. Na Finlândia, esse percentual chega a 70%, e na Áustria o índice é de 75%.

Investir nessa modalidade de educação, para Lucchesi, é crucial para o Brasil. “Jovens bem preparados e com formação sólida são fundamentais para a competitividade da indústria e para o crescimento econômico, por serem uma força de trabalho criativa, com grande capacidade de trabalho, de absorção de conhecimentos e de novas tecnologias”, afirma. (CNI) 

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