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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
'Operação Cash Delivery'

Marconi Perillo deverá ser julgado pela Justiça Eleitoral

Decisão do Supremo gerou revolta no procuradores da Lava-Jato. Casos deverão ser analisados separadamente para análise de competência

Sheyla Sousapor Sheyla Sousa em 16 de março de 2019
Marconi Perillo deverá ser julgado pela Justiça Eleitoral
Decisão do Supremo gerou revolta no procuradores da Lava-Jato. Casos deverão ser analisados separadamente para análise de competência

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Raphael Bezerra*

Processado por Caixa 2 e lavagem de dinheiro pela Operação Cash Delivery, o ex-governador, Marconi Perillo (PSDB), deverá ser julgado pela Justiça Eleitoral e não mais pela comum. Isto porque, após o acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre envio dos processos de certos crimespara a Justiça Eleitoral,a decisão deve interferir no andamento dos processos contra políticos processados por caixa 2. Advogado do ex-governador tucano, Antônio Carlos de Almeida, o Kakay, acredita que o próprio juiz e o Ministério Público de Goiás (MP-GO) devem pedir a remessa à Justiça Eleitoral.

Segundo Kakay, caso o MP-GO não remita o caso para à Justiça Eleitoral, como ficou decidido pelo plenário do Supremo, a defesa deverá enviar uma petição solicitando o envio do processo ao órgão competente. “A decisão do Supremo nada mais fez do que cumprir o que está na constituição e assim deveria ter sido feito desde o início. O argumento do Ministério Público Federal, especialmente a força tarefa de Curitiba, de que a Justiça Eleitoral não tem condições estruturais para fazer a instrução dos processos não é um argumento jurídico”, afirma.

Ele diz que a força tarefa nos últimos anos cometeu uma série de abusos infringindo normas gerais e constitucionais. “É como se houvesse uma Constituição do Paraná. Eu fico extremamente estarrecido ao ver alguns ministros endossarem esse argumento de que a Justiça Eleitoral não tem condições de instruir esses casos”, completa. 

O advogado Pedro Paulo de Medeiros explicou que a maioria dos casos investigados na Lava-Jato tem como objeto de investigação o envio de dinheiro para partidos políticos fora da contabilidade da campanha, o que consiste em Caixa 2. “A pergunta que fica é, o juiz vai enviar os casos diretamente? Vai haver algum recorte ou uma modulação no sentido de: a acórdão só passa a valer a partir de agora”, explica.

Segundo ele, será preciso esperar a decisão do julgamento realizado na quinta-feira (14). “A decisão deve demorar para ser publica, mas só após esse documento é que saberemos todos os detalhes dos procedimentos a serem tomados. As defesas devem pedir pela anulação dos processos já julgados por Caixa 2 devido a competência exclusiva”, ressalta.

Os dois advogados concordam que os casos deverão ser repassados automaticamente para a Justiça Eleitoral em casos que envolverem repasses ilegais para campanhas eleitorais. Além disso, para os dois advogados, haverá um processo de análise caso-a-caso quanto aos processos que já foram julgados. Kakay, diz defender vários casos que envolvem Caixa 2 e que já pediu um levantamento para avaliar quais processos poderão ser aplicados com a decisão do Supremo. “Quando o Supremo define uma questão, resta cumprir. Simples assim. No caso específico do Marconi, não tenho a menor dúvida que há uma delação que imputa Caixa 2 contra ele, o que a defesa nega, mas a investigação tem que se dar na justiça eleitoral”, completa.

Os reflexos da decisão do Supremo ainda não formam um consenso, e não devem ter efeito imediato, já que os processos terão de ser analisados caso a caso. O que deve ocorrer é a formulação de diversas reclamações de investigados que respondiam a processos na Justiça federal. Eles podem argumentar que os atos praticados não são legítimos, porque o juiz deveria ser eleitoral. (* Especial para O Hoje) 

Decisão do STF pode anular sentenças já proferidas, diz Marco Aurélio 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio disse na quinta-feira (14) que as sentenças que foram proferidas antes da decisão da Corte sobre a competência da Justiça Eleitoral podem ser anuladas. Na avaliação do ministro, as condenações podem ser afastadas diante da decisão do Tribunal. 

O ministro ressaltou, no entanto, que, nestes casos, o andamento do processo não é anulado e pode ser aproveitado por um outro magistrado que vir a analisar a investigação. “Porque nós temos já os elementos coligidos no processo. Então esses elementos que servem à instrução criminal são aproveitados”, disse o ministro, que votou pela competência da Justiça Eleitoral processar os delitos eleitorais e conexos, como corrupção e lavagem de dinheiro.

Na sessão de quinta-feira, o Supremo decidiu que a Justiça Eleitoral deve julgar casos de corrupção quando envolverem simultaneamente caixa 2 de campanha e outros crimes comuns, como lavagem de dinheiro, que são investigados na Operação Lava Jato. 

Segundo o ministro, que proferiu um dos votos a favor da medida, os atos processuais, como buscas e apreensões, realizadas pela Justiça Federal, poderão ser aproveitadas pela Justiça Eleitoral, no entanto, os demais atos decisórios devem ser anulados.

“A instrução processual é aproveitada pela jurisdição eleitoral. Agora, decisões proferidas por órgão incompetente sob ângulo material, se tem a incompetência absoluta e esses atos decisórios não subsistem”, disse. 

O procurador DeltanDallagnol, responsável pela força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, lamentou a decisão do STF de transferir crimes comuns envolvendo campanhas à Justiça Eleitoral. Em entrevista ao Jornal da Manhã desta sexta (15), ele afirmou que o Ministério Público não pode “fazer mais nada” em relação ao julgamento.

“Não podemos fazer mais nada a respeito disso”, afirmou Dallagnol. “Nosso dever foi informar a sociedade sobre o que estava acontecendo. Agora, talvez, só uma mudança legislativa.”

O promotor afirmou ainda que punições no âmbito da Lava Jato podem ser revistas após o entendimento do Supremo. “Vários casos podem ser anulados aos poucos, em diferentes tribunais. Réus passarão a pedir habbeas corpus alegando que repassaram dinheiro a campanhas. E a própria natureza dos casos que estamos investigando mostra que esses valores iam para o bolso dos corruptos e para caixas eleitorais”.

Com o fim do julgamento, os processos contra políticos investigados na Lava Jato e outras apurações que envolvam simultaneamente esses tipos de crimes deverão ser enviados da Justiça Federal, onde tramitam atualmente, para a Justiça Eleitoral, que tem estrutura menor para supervisionar a investigação, o que pode resultar em condenações mais leves. 

Após o julgamento, o procurador DeltanDallagnol, chefe da força-tarefa de investigadores da Lava Jato, disse, em mensagem publicada no Twitter, que a decisão do STF vai ter impacto nos processos que estão em tramitação. “Hoje, começou a se fechar a janela de combate à corrupção política que se abriu há 5 anos, no início da Lava Jato”, afirmou.

Processos anulados

Na quarta-feira (13), o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse que, caso o STF decidisse pela competência exclusiva da Justiça Eleitoral para julgar casos em que crimes comuns estiverem atrelados a crimes eleitorais, todos os condenados até aqui na Lava Jato – foram 159 – poderiam ter seus processos anulados, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Lula não foi condenado por crime eleitoral na Lava Jato. A condenação do ex-presidente nos casos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia foram por corrupção e lavagem de dinheiro, competência da Justiça Federal.

 

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