Morte de criança em corredor expõe problema crônico da Saúde
HMI volta a sofrer com superlotação. Governador anunciou que pretende mudar unidade de local
Isabela Martins*
O problema de superlotação no Hospital Materno Infantil (HMI) continua. Na quinta-feira (28), Diogo Soares do Carmo, de 5 anos, morreu após esperar mais de 15 horas por atendimento no local. A unidade está superlotada e interna pacientes em cadeiras da sala de espera. Em entrevista para uma rádio da Capital o Governador Ronaldo Caiado reafirmou a intenção de transferir a unidade do HMI para outro local.
Segundo ele a estrutura atual não é adequada, e estuda transferir a demanda de atendimentos para outros hospitais. “Nós já fizemos uma visita a Santa Casa, ao Hugol, nem que seja um processo temporário. Nós já estamos tentando avançar nesse assunto”, afirmou. Por conta da falta de leitos, cirurgias que não são de emergência e estavam programadas para sexta-feira foram canceladas.
Segundo o governador, já existe uma discussão com o ministro da saúde e com o secretário da saúde do Estado, Ismael Alexandrino, pela busca de espaço para poder ampliar o tratamento do HMI. “Não dá mais para fazer recuperação. Ali é umidade demais, mofo, tudo aquilo que não podemos ter hoje como local próprio. Tem que deixar aquele local, não adianta fazer reforma. É ficar usando um ambiente que não é propicio”.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) informou que para desafogar o atendimento na unidade está tomando medidas como realizar cirurgias cardíaco-pediátricas e ampliação de partos em outros hospitais da rede e o contrato de novos leitos neonatais. Segundo a nota, ainda há o projeto de construção de um novo hospital no mesmo perfil do HMI, com uma maior capacidade de atendimento.
Atualmente são 28 leitos de internação pediátrica, mas a medida atende ao perfil de atendimento com pacientes de média e alta complexidade, o tempo de internação aumenta, reduzindo o giro de leitos, fazendo com que o hospital fique superlotado na sala vermelha, na observação e demais áreas do pronto socorro pediátrico.
Investigação
Após a morte do menino, conselheiros tutelares visitaram o hospital na manhã da sexta-feira, e constataram a unidade superlotada. “Estamos requisitando do Cais Campinas e do HMI o prontuário para saber o que aconteceu. Se houve negligência médica, vamos fazer representação junto ao Ministério Público e a Polícia Civil”, afirmou o conselheiro, Diego Peres.
O menino passou mal na segunda-feira (25), quando os pais procuraram o Centro de Atendimento Integral a Saúde da Família (Cais) em Campinas. “Estava com suspeita de dengue, passaram medicação, retornou para casa”, informou Vinicius Alexandre, tio do menino. Como não houve melhora no quadro, os pais levaram ao HMI, onde deu entrada com prioridade amarela. O que significa que o paciente precisa de atendimento médico, mas sem risco imediato.
A SES informou que apesar da superlotação, e mesmo diante da realidade, a criança foi atendida e permaneceu nas cadeiras com a mãe recebendo atendimento prescrito e aguardando vaga no leito. A diretora regional do Instituto de Gestão Humanizada, a Organização Social responsável pela gestão da unidade, informou que superlotação é constante no hospital, mas que apesar disso o menino recebeu atendimento. “Eu acho que é muito dolorido afirmar isso, porque isso não foi o fato que determinou o óbito dessa criança. Ele recebeu todo cuidado, medicação, suporte adequado”.
Superlotação
Em 2017 o HMI suspendeu as internações devido às superlotações que se encontrava a unidade. Na época, a medida foi tomada para garantir a segurança dos pacientes que estavam internados no local. Os que se enquadravam no quadro de alto risco da unidade tinham atendimento priorizado. A decisão foi tomada pouco tempo depois de o hospital isolar duas áreas após a morte de dois bebês por uma superbactéria.
No começo do ano famílias que buscavam atendimento enfrentavam dificuldades para conseguir leitos para os bebês. Eram cerca de nove mães que se encontravam alocadas em cadeiras de uma sala de espera.
Segundo a SES, a unidade não está sofrendo com a falta de insumos e medicamentos, e os repasses referentes a 2019 estão em dia, mas o Estado ainda possui uma dívida de R$ 32 milhões com a OS que administra a unidade. (Isabela Martins é estagiária do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)