Economia flerta perigosamente com nova recaída recessiva em cenário de incerteza
Lauro Veiga
Consultores
e economistas correm de volta a seus modelos macrométricos e a suas
calculadoras financeiras para refazer os cálculos em relação ao comportamento
da atividade econômica no restante do ano, agregando fatores mais pessimistas
do que aqueles incorporados às projeções anteriores, que chegavam a supor, até
recentemente, um crescimento mais próximo de 2,0% para o Produto Interno Bruto
(PIB) neste ano. Como anotado neste espaço, as apostas do mercado financeiro
têm sido revisadas para baixo em velocidade maior do que aquela observada em
2018, com um ou dois detalhes expressivos: não persistem, neste ano, os
estragos causados pela greve dos caminhoneiros, assim como as incertezas
relacionadas ao processo eleitoral igualmente ficaram para trás (bem, neste
caso, apenas como hipótese, diante do grau elevado de inconstância e desgoverno
observados no Planalto).
Os
dados mais recentes sugerem que a economia estaria flertando perigosamente com
uma recaída recessiva, considerando-se a falta de dinamismo de seus principais
motores. Em meio à nova leva de dados mais negativos do que positivos, ainda há
aqueles que creem que uma retomada mais firme dependaunica e exclusivamente da
aprovação do projeto de reforma da Previdência apresentado ao Congresso pela
equipe econômica.
Ontem,
a reforçar um cenário em si quase nada promissor, o Banco Central divulgou o
seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), tido como uma espécie de indicador
antecedente do PIB. Se o dado reflete mesmo o ritmo atual da atividade, o
resultado veio abaixo do que esperavam, na média, os mercados, mostrando baixa
de 0,73% em fevereiro, na comparação com janeiro (quando já havia recuado 0,31%
na primeira medição, agora revisada para uma queda de 0,41% em relação a
dezembro). Na expectativa mais mencionada pelos mercados, esperava-se uma redução
de 0,31%.
Novo ano
medíocre
Os
dois maiores bancos – Bradesco e Itaú Unibanco – trabalham com a expectativa de
ligeira retração de 0,1% para o PIB no primeiro trimestre, lembrando que a
previsão anterior do Itaú sugeria um avanço modesto de 0,3%. Na visão do Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), “o quadro de janeiro de
2019 se prolongou para o mês de fevereiro em praticamente todos os grandes
setores da economia. Quem conseguiu crescer, como a indústria, cresceu pouco e
mal conseguiu fazer frente aos danos da virada do ano. Embora estejamos somente
no início do ano, esta perda de ímpeto já foi o suficiente para sucessivos
cortes nas projeções do PIB de 2019. Corremos o risco de ter mais um ano de
crescimento medíocre”. Ou, em outra versão, mas também do Iedi, “não há nenhum
motivo para comemoração”.
Balanço
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De
volta ao indicador do BC, a retração registrada em fevereiro ficou atrás
somente do tombo de 3,11% apontado em maio do ano passado pelo IBC-Br. A grande
diferença entre os dois períodos está, evidentemente, na ausência de uma
paralisação dos caminhoneiros neste ano.
·
Sem
ajustes sazonais, quer dizer, sem considerar, por exemplo, que fevereiro do ano
passado teve menos dias úteis em função do carnaval, o ICB-Br apontou elevação
de 2,49% em fevereiro deste ano, comparado a igual mês de 2018.
·
No
acumulado em 12 meses, o indicador observou variação de apenas 1,21% (abaixo da
taxa mediana de 1,95% prevista pelos mercados, na versão do relatório Focus
divulgada ontem pelo BC).
·
Na
relação apontada pelo Iedi, relembrando indicadores mais recentes, o setor de
serviços vem de dois meses de redução, com baixa de 0,4% na passagem de janeiro
para fevereiro, enquanto as vendas do varejo não saíram do lugar na mesma
comparação (com redução de 0,8% quando incluídos os segmentos de automóveis,
autopeças e material de construção).
·
A
produção industrial chegou a avançar 0,7%, mas apenas conseguiu, até então,
compensar a redução de 0,7% registrada em janeiro. Assim, o ano que mal começou
“praticamente não adicionou dinamismo algum à recuperação econômica”.
Ainda na leitura do Iedi, a comparação com o
nível de atividade entre dezembro de 2018 e fevereiro deste ano, descontados
efeitos sazonais, mostram “um retrato da situação atual: a produção industrial
ficou estagnada (0%), as vendas reais do comércio varejista ampliado variaram
apenas +0,2% e o faturamento do setor de serviços regrediu -0,9%”.