Siamesas unidas pela cabeça são separadas no DF
As gêmeas, Lis e Mel, passaram por procedimento cirúrgico inédito no Hospital da Criança e estão se recuperando bem
Da Redação
O procedimento de separação das
gêmeas começou a ser planejado quando elas ainda tinham dois meses de
vida e o médico Benício Oton de Lima confirmou, por meio de exames, que a
operação seria viável pois elas compartilhavam apenas uma pequena parte do
cérebro, que poderia ser retirada sem danos. “O dia em que ele disse que
poderíamos separá-las foi de muita felicidade para mim”, lembra a mãe das
meninas, Camilla Vieira Neves, 25 anos.
Equipe médica considera que a ligação das meninas, no lóbulo
frontal direito dos crânios, facilitou o trabalho de
separação, visto que permitiu às crianças se desenvolverem
normalmente.
“Não são pacientes acamadas. São pacientes saudáveis, que
tiveram o crescimento e o desenvolvimento motor perfeitamente normal”, destaca
a anestesiologista Liliana Teixeira. O mais comum entre os siameses craniopágos
– ligados pela cabeça – é que a junção seja no topo dos crânios, o que os
obriga a viverem na horizontal, prejudicando as condições de saúde.
Mel e Lis já falam palavras simples, como “mama” e “papa”.
Ficam de pé e conseguem dar pulinhos. Antes da cirurgia, a mãe explicou a elas
que os médicos as colocariam para dormir, mas que, quando acordassem, os pais
estariam do lado de fora esperando-as. O momento em que a mãe viu as meninas
separadas – Mel foi a primeira sair do centro cirúrgico,
foi de grande emoção. “Olhei minha filha e ela estava perfeita. Igual a uma
boneca”, afirma Camilla. Lis foi a primeira a despertar depois da anestesia. No
fim da tarde desta segunda (29), ela já não estava mais entubada.
Nas fotos da cirurgia, há uma equipe com toucas rosas e outra
com toucas amarelas. A equipe rosa era responsável por Lis e a amarela, por
Mel. Os instrumentos cirúrgicos usados em cada uma delas também estavam
identificados com fitas adesivas das duas cores. O objetivo era garantir que
não houvesse nenhum tipo de confusão durante os procedimentos realizados nas
crianças. Enquanto uma equipe operava Mel, a outra operava Lis. O método de
separação por cores foi descoberto pela médica Liliana Teixeira, ao revisar a
literatura científica sobre separação de siameses.
Durante todo o mês de abril, os médicos envolvidos no procedimento
fizeram ensaios práticos diariamente com bonecos impressos em 3D que tinham as
mesmas medidas das meninas. Os ensaios eram feitos à noite, pós-horário de
trabalho, para que o procedimento de separação pudesse ser previsto nos mínimos
detalhes. Como estavam ligadas, a posição dos corpos durante a realização das
cirurgias era muito importante.
O final da cirurgia, às 2h30 de domingo, depois de cerca de
20 horas de trabalho, foi seguido por uma catarse coletiva que envolveu a
equipe cirúrgica, os pais e os familiares das crianças. Ao deixar o centro
cirúrgico, muitos se abraçaram e choraram.
“Realmente foi emocionante”, afirmou o anestesiologista
Luciano Alves Fares. O chefe da equipe, o neurocirurgião Benício Oton de Lima
contou que foi necessário pedir que os profissionais fossem embora, de tão
envolvidos que estavam com o que tinha acontecido. “É um time muito unido, que
participou de um grande momento junto.”