Bolsistas protestam em Paris: cortes na educação “são ideológicos, não econômicos”
Protesto aconteceu em frente à Cité Universitaire, centro de residências universitárias para estudantes estrangeiros que vêm realizar pesquisas em instituições francesas
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Da Redação
O governo anunciou a redução de 30% dos recursos previstos para investimentos e custeio corrente das universidades, até setembro. As novas bolsas de pesquisa da Capes (Coordenação de Pessoal de Nível Superior) também foram suspensas. Nesta quarta-feira, o ministro da Educação deve comparecer à uma convocação da Câmara dos Deputados para dar os detalhes sobre os cortes.
Em Paris, o protesto aconteceu em frente à Cité Universitaire, centro de residências universitárias para estudantes estrangeiros que vêm realizar pesquisas em instituições francesas. Por enquanto, os manifestantes não são diretamente afetados pelas medidas, mas demonstraram preocupação com o futuro das bolsas de pesquisa no exterior.
Denúncia de uma educação para a elite
“A educação precisa continuar para salvar o Brasil. O presidente quer cortar a educação dos pobres e fazer uma educação só para a elite”, alegou Lívia da Silva Ferreira, 33 anos, que está no quarto ano de doutorado em Direito Público na Universidade de Paris 10 (Nanterre). “Eu não sou da elite, sou da Baixada Fluminense e de família humilde, e hoje estou morando em Paris porque estudei e me esforcei, mas também porque tive oportunidades.”
A pesquisadora Amanda Paula Fernandes, chegou a se emocionar ao lembrar da sua trajetória em escolas e universidades públicas. “Eu choro porque tudo que está acontecendo é para que todos que não conseguem chegar à universidade continuarem à margem da sociedade. Minha mãe é empregada doméstica e o meu pai trabalha no transporte público”, contou. “Fui a primeira da minha família a conseguir chegar à universidade”, indicou Amanda, que concluiu um doutorado em epidemiologia.
Cortes em todos os níveis educacionais
Fernanda Coelho, 32 anos, avalia que os cortes promovidos pelo governo “são ideológicos, não econômicos”. No total, R$ 7,4 bilhões do orçamento do MEC foram bloqueados. “É uma questão social mais ampla porque todos nós voltaremos para o Brasil um dia, e os cortes estão atingindo todos os níveis da educação, da básica à superior. A longo prazo, isso pode causar um dano social muito grande para todo o país”, afirmou a pesquisadora em educação, que realiza estágio doutoral na conceituada Écoles des Hautes Études em Sciences Sociales (EHESS), em Paris.