DJs embalam pistas de Goiânia
Associado a uma vida de festas e viagens, profissão de DJ atrai cada vez mais goianos
Higor Santana*
A carreira de DJ está crescendo e é cada vez mais valorizada, tanto em Goiás quanto no mundo. Principalmente no segmento de produção de música eletrônica, que engloba uma área gigantesca onde se pode criar músicas para diversas áreas e fins como jogos, softwares, aplicativos e muito mais. Em Goiânia, já é comum encontrar facilmente locais que disponibilizam o curso.
Um DJ é um artista profissional que seleciona e reproduz as mais diferentes composições. Previamente gravadas ou produzidas na hora para um determinado público alvo, o DJ trabalha seu conteúdo e diversifica seu trabalho em rádios, pistas de dança, bailes, clubes, boates e danceterias. Com a abertura de diversas casas de festas e boates, além da crescente expansão do setor de entretenimento em Goiânia, a figura do DJ tem se destacado. A boa fase tem motivado muitas pessoas a seguirem a carreira.
Como é o caso do DJ e professor de Educação Física, Alonso Araújo. Sempre atuando na área que trabalha com o corpo, o jovem de 26 anos, descobriu na música eletrônica sua paixão. “Eu sempre vive da Educação Física que foi onde eu despertei a paixão pela música eletrônica. Desde o princípio sempre gostei muito de música, sempre pesquisava muitas música para minhas aulas. Sempre frequentei baladas eletrônicas, fiz amizades com alguns DJs da região o que me despertou a curiosidade de fazer “sets”. Busquei algumas plataformas e comecei a pesquisar sobre o curso. No início de 2016 comecei o treinamento, e assim que terminei, fiz a minha estreia como DJ”, explica o rapaz.
Segundo profissionais da música eletrônica, o objetivo do curso de DJ é desvendar o universo da música eletrônica, como a história do DJ e da musica eletrônica. Além da pesquisa e domínio de repertório, técnica de mixagem, performance, acesso as tecnologias profissionais, discotecagem digital, produção de eventos, marketing pessoal, introdução à produção musical, entre outros assuntos. “O curso é muito além do que se imagina, não é fácil, requer atenção e dedicação. Tem momentos que é só teoria para que você possa entender determinada função e muita prática”, explica.
Nos últimos anos a figura do DJ vem ganhando cada vez mais espaço, tanto nas casas noturnas quanto na mídia em geral. O DJ deixou de ser um simples amante da música e colecionador de discos e passou a ser o lançador de tendências, músicas e de moda. Muitas empresas aliam o seu nome ao de um DJ ou evento de música eletrônica com o intuito de agregar valor à marca. O mercado para esses profissionais não para de crescer. Por isso, o DJ brasileiro é cada vez mais respeitado no exterior por conta da herança musical e multicultural, o que possibilita o desenvolvimento de trabalhos diferenciados, criativos e originais.
Ainda segundo Alonso, as aulas práticas passam por diversos formatos e plataformas, de maneira que o aluno entenda a diferença entre elas e desenvolva sua própria opinião e preferência sobre as tecnologias disponíveis para DJs. “Se você decidiu se tornar um DJ ou produtor de música eletrônica não fique achando que vai conseguir alcançar o sucesso rapidamente, pois o começo é quase sempre difícil e a jornada ao sucesso é longa, mas possível com dedicação e tempo”, afirma.
Lucro
Regulamentada há pouco tempo, a profissão pode oferecer um bom salário aos iniciantes. De acordo com Alonso, um novato pode receber cerca de R$ 400 por noite. “Às vezes o DJ faz seu valor inicial (300/400) mais a casa [noturna], dependendo do porte, não consegue pagar, aí vem as negociações. O cachê em Goiânia hoje varia de R$ 300 a R$ 700. Isso vai tempo de carreira, se é residente. São vários fatores”, explica.
Aliando teoria e prática, os cursos de DJs utilizam métodos personalizados que possibilitam o aprendizado da arte da discotecagem tanto como hobby quanto para a profissão. Durante o curso o aluno também é avaliado de forma teórica e prática para que seja diagnosticado onde estão suas maiores dificuldades. Os valores do curso podem variar de R$ 600 a R$ 1.500.
Comandar as carrapetas (equipamentos de som), atrair todos os olhares e entreter a pista de dança parece pura diversão, mas não é bem assim. Para se tornar um bom DJ e chegar a tal ponto, é preciso ter paciência, curiosidade e investir em qualificação e equipamentos.
Um DJ pode contar com várias formas de mercado como clubes, festivais, festas e eventos sociais (casamentos, aniversários, eventos de moda etc.), eventos corporativos, rádios, sites relacionados à música eletrônica, bandas, etc. Além de poder contar com patrocínios de empresas e eventos musicais.
Bruna Barreto é aluna e participa do curso há um mês. Apesar de não querer seguir a carreira, está curtindo o aprendizado. “É muito bom. Música já é bom, mas trabalhar com ela produzindo mixagens, animando a galera, é melhor ainda. Ainda não trabalho como DJ por estar fazendo o curso e aprendendo. Mas assim que formar e perceber que sou capaz de me destacar, irei investir ainda mais em mim. Quem sabe não viro uma grande DJ que viaja o mundo inteiro”, explica a jovem.
Para Alonso, a vida de DJ contribui com o seu destaque profissional no campo da Educação Física. “Ajudou muito, tanto na carreira dentro das academias quanto na carreira noturna, ainda mais quando se tem uma boa base, tem alguém que possa te apoiar nas primeiras apresentações”, conclui.
Mulheres também se destacam na música eletrônica
A cena eletrônica, das chamadas festas rave, tem princípios como paz, amor, união e respeito, segundo seus frequentadores. As mulheres, porém, acabam não se sentindo contempladas por esses ideais quando o assunto é a busca de espaço profissional. A falta de oportunidades para elas como DJs (ou DJanes, como também são conhecidas) é uma realidade.
As mulheres sempre tiveram um papel muito importante na cultura rave, representando figuras como a mãe natureza, as deusas e o poder feminino. Muitas pessoas pensam que ser DJ é estar sempre no palco e bonito no flyer (Banners de divulgação de eventos), mas existe uma série de coisas necessárias a se fazer antes para conseguir uma carreira de sucesso na música eletrônica. Estudo e preparo de músicas demandam tempo.
“O fato de existirem bem menos mulheres DJs do que homens, para mim, se deve ao fato de que, para uma mulher se tornar DJ ela antes precisa encarar várias barreiras sociais que o homem não enfrenta”, comenta Angela Rodrigues, mais conhecida como Anginha, DJ de psy trance, ou trance psicodélico, um dos estilos mais populares de música eletrônica.
Pensando nisso, em março foi realizada na Ilha Porchat, em São Paulo, a Psychodelic Malfa, com um line-up (lista de quem vai tocar no festival), 100% feminino de DJs, além de contar com mulheres na produção. O objetivo da festa foi reunir mulheres de diferentes lugares do Brasil, pra que elas possam expressar sua arte. Em um universo dominado por homens, os organizadores escolheram o Dia Internacional da Mulher para essa celebração, buscando relembrar as conquistas das mulheres, independentemente de divisões étnicas, sociais ou culturais.
Eventos assim ainda são exceção. Em festas eletrônicas com dezenas de DJs, o mais comum é que não haja mais que duas mulheres no line-up, ou mesmo nenhuma. “É uma profissão tida como hobby, sem certeza de muitos ganhos e estabilidade financeira, infelizmente. Mas seguimos firmes”, desabafa a DJ Paula Rodrigues, a Rosa Ventura/Venus.
O organizador da Psychodelic Malfa Hyago Fontes dos Santos, destaca a participação das mulheres no evento. “Queremos incentivar e realizar com frequência essa movimentação em favor do crescimento participativo das mulheres em todas as áreas dos eventos de contracultura no Brasil e mundo afora”, comenta.
Cultura
Para o DJ Alonso Araújo, muitas vezes as pessoas acabam não ajudando o mercado de artes nacional e por isso essa é uma área que ainda tem muito a crescer e a se valorizar. “Depende muito da sua percepção de mercado e da qualidade das suas produções. Outra questão é que no Brasil ainda temos uma cultura fraca em relação à arte, por isso até recomendo prestar mais atenção nas artes que temos, pois às vezes, valorizamos apenas o exterior e esquecemos a nossa”, desabafa.
Ainda segundo ele, a profissão às vezes é vista de forma negativa. “Não diria discriminada, diria desrespeitada. Assim como o médico, também tiramos horas de estudos, investimentos altos (fones, musicas, mídia). Já escutei muito “ser DJ é moleza, trabalhar festando” mas vai muito além de estar ali e dar o play na música, e sentir a energia da pista, é você ser responsável pela diversão de centenas de pessoas e não a sua. É saber como tocar cada um na sua pista com o seu trabalho, fazer com que seu público sinta a entrega do DJ atrás da música”, conclui Alonso.
De acordo com a DJ do subgênero darkpsy, Paula Simioni, é muito improvável que a sua primeira música seja um sucesso, pois é preciso aprimorar a técnica aos poucos. “Por exemplo, se você pegar uma folha de papel e começar a desenhar, com certeza o seu décimo desenho será muito melhor que o primeiro, pois nele você já não comete os mesmo erros que cometeu no primeiro e assim também funciona com a produção de música eletrônica”, explica a DJ que há 16 anos atua como profissional da música eletrônica.
“Espero que cada vez mais as mulheres tenham vontade de se aventurar nesse universo, e consigam quebrar os padrões internos e externos que muitas vezes carregamos. Somos muito emotivas e intuitivas. Isso dá uma beleza mais que especial às nossas apresentações. Espero que a gente bata o pé e tome o lugar que é nosso por direito. A gente tem tanto direito de ser feliz e de nos sentirmos seguras nas festas quanto os homens, e para isso vamos conquistar nosso espaço. Não é fácil, mas é necessário, e temos melhorado muito nisso”, afirma Mariana Molina, conhecida como DJ Mariela. (Higor Santana é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de cidades Rhudy Crysthian)