Pop rock em fatos reais
FX lança o álbum ‘Duo’, que tem como inspiração os relacionamentos
Da redação
A história do baterista Fafel Borba e do cantor Felipe Xaxá poderia ser igual à de qualquer dupla de craques de futebol, se não fosse uma mudança de rumo, anos depois de jogarem juntos na escolinha do Botafogo, até se reencontarem novamente no colégio – ambos adolescentes cursando o ensino médio; e a paixão em comum era a bola. Ao se redescobrirem grandes amigos, descobriram também uma outra afinidade: a música. O pop rock uniu, mais ainda, esses dois cariocas que, além de tocarem na mesma banda, passaram a compor juntos.
O tempo passou, muita coisa aconteceu, e a parceria saiu dos palcos para o papel. De lá para cá, eles não se apresentaram mais juntos, mas criaram diversas canções. É tanta música que, de uma hora para outra, bateu uma sensação de que já havia um legado, que no futuro acabaria esquecido. Depois de 25 anos de amizade, Fafel e Xaxá resolveram, então, não perder mais tempo separados: eles entraram no estúdio, registraram seis delas e agora, como FX, a dupla lançou recentemente o álbum Duo. “Quando nos reencontramos, voltamos a jogar futebol. Eu já tocava bateria, e fui convidado para integrar o Rota in Certa. Levei Xaxá para um ensaio quando o grupo precisou de vocalista. Começamos a escrever música, quando o principal compositor desistiu da banda, duas semanas antes de um festival de música autoral”, lembra Fafel.
O Rota in Certa não ganhou o festival, mas, com a desistência da banda favorita, a segunda colocada gravou um CD e se mudou para o Maranhão para aproveitar as entradas de um dos integrantes. Na volta, quando começou a ficar conhecido no meio carioca o grupo se desintegrou. Todos voltaram para seus cursos universitários, e Fafel e Xaxá seguiram compondo à distância.
Fafel Borba se formou em Direito, mergulhou no mercado de trabalho e saiu do Rio. Felipe Xaxá cursou Artes Visuais, mas nunca deixou a música de lado: fez voz e violão, em bares, e assumiu o vocal na banda de axé Creme de Papaya, que tocou no Carnaval de Salvador e acompanhou Margareth Menezes. Xaxá chegou a fazer 80 shows por ano, mas a vontade de voltar ao pop rock falou mais alto. O mesmo músico que fez ele e Fafel começarem a compor acabou dando um empurrãozinho à reunião dos parceiros, que, juntos de novo, trocaram o futebol pelo futevôlei nas areias da Praia do Flamengo. “O músico que deixou o Rota in Certa me chamou para voltar para o estúdio. Liguei para o Fafel, mas ele disse que, então, teria que ser pra valer. O outro acabou nem ficando e Fafel comprou o equipamento de gravação e começou a se arriscar na produção das nossas músicas. Quando estávamos com boas ideias, convidamos um produtor velho conhecido para assumir o comando das gravações”, conta Xaxá.
Dono do estúdio Porta-Música, Clower Curtis conhecia a dupla desde os tempos do Rota in Certa, cujo álbum foi ele quem produziu. Naquela época, produzia também outras bandas do circuito, como Eletro, Som da Rua e Polar. Em seu currículo, constam trabalhos com Elza Soares e Naná Vasconcelos, com os atores-cantores Emilio Dantas e Daniel delSarto, além de Consertos em Geral, de Manoel Magalhães, eleito um dos melhores 50 discos de 2018 pela revista Rolling Stone.
Clower se juntou a Fafel, na produção das faixas da FX, e transformou o sonho em realidade. Ou melhor, transformou a realidade em sonho, afinal, todas as letras são baseadas em histórias vividas pela dupla, e ter o disco pronto é uma realização que eles não imaginavam quando se encontraram, ainda crianças, no futebol. “Eles chegaram com muita vontade e uma energia ótima. Fafel é baterista, tem olhar de produtor e me ajudou a balizar os arranjos que construí para as músicas. Xaxá tem muita experiência de palco e abre vozes com facilidade, qualificando muito o trabalho. Gravei os instrumentos e chamei, para dividir os violões comigo, o Emerson Ribber, especialista em violão de aço”, comenta Clower.
Me Dá um Sinal é um groove que fala de uma história vivida por Fafel. “Não sei se eu falo ou se eu fujo, mas a tentação me aproxima, e eu me confundo todo, sem por que, mas se um beijo é um sinal para me envolver”, diz parte da letra. O pop Do Nosso Jeito foi uma experiência marcante do Xaxá: “Quero acreditar de novo no sentimento, sentir na pele a força deste momento e te dizer que todo mal já passou e ficou você aqui dentro”. Vem ver o Sol – cujo refrão diz “Olha, meu bem, vem ver o sol / Diga pra mim que tudo parou / Olha, meu bem / Não é o final quem sabe ainda nem começou – é uma mistura de vivências dos dois na mesma balada.
Ambas pop rock, Volta pra Recomeçar surgiu de um refrão que Xaxá já tinha (“Se é pra voltar, volta pra recomeçar / Não vou mudar só por causa de um sinal / Vou encarar de um jeito natural, se tá legal, deixa o que ficou pra trás”) e Um Pouco Mais de Você veio para Fafel depois de uma situação vivenciada por ele (“O teu silêncio deixou marcas em mim / Até tentei entender / E se eu disser que ainda penso em você / Você sabe porque”). A ‘balada charme’ Hoje eu te Liguei é uma espécie de autorretrato de um dos episódios da vida de Fafel.
Com forte aspiração a hit e melodias envolventes, as mensagens são simples e diretas e os arranjos bem-planejados de Clower Curtis tratam de vesti-las a rigor. Todas as composições levam assinatura da FX: apesar de saberem qual história é de quem, os dois não lembram mais quem fez o quê em cada uma das músicas. A única certeza que tanto Fafel quanto Xaxá têm é a de que a maior inspiração da FX são os relacionamentos e que tudo o que a dupla canta é baseado em fatos reais.