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domingo, 24 de novembro de 2024
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Educação

Ministro reacende debate sobre estudo em casa

Em Goiás são pelo menos 99 famílias que decidiram educar seus filhos em casa, o chamado ‘homeschooling’. Tema possui controvérsia após decisão contrária STF

Postado em 18 de julho de 2019 por Sheyla Sousa
Ministro reacende debate sobre estudo em casa
Em Goiás são pelo menos 99 famílias que decidiram educar seus filhos em casa

Raphael Bezerra

Uma das prioridades do Governo de Jair Bolsonaro (PSL) para a educação é a regulamentação do ensino em casa, cujo termo em inglês é homeschooling. A permissão para pais substituir a escola regular pelo ensino em casa dos filhos foi adotada pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos por influência da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned). Além disso, em abril o presidente assinou decreto que regulamenta o tema. No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em setembro do ano passado que, de acordo com a atual legislação, os pais não têm o direito de tirar filhos da escola para ensiná-los exclusivamente em casa. Para a maioria dos ministros, educação domiciliar exige a aprovação de uma lei que assegure avaliação de aprendizado e socialização.

Mas a luta no Brasil por educar os filhos em casa movimenta grupos para a prática seja um direito legal. Em Goiás, o Instituto Liberdade e Justiça (ILJ) é um dos defensores do movimento. O presidente do ILJ, GiuliannoMiotto, acredita que a permissão para que os pais eduquem os filhos em casa é um direito legítimo e que o Estado não poderia intervir na escolha. 

O grupo inclusive lidera o projeto “Turminha da liberdade”, uma série de livros com temas e autores liberais e conservadores como a escritora Russa, AynRand. “Os livros seguem eixos como a importância do empreendedorismo, das liberdades individuais, do livre mercado, da responsabilidade individual, da ética e da educação com valores”, afirma Miotto.

O grupo conta ainda com outro livro que traça a importância do contato dos pais na educação dos filhos além de uma repulsa ao modelo estatal de ensino. O Educar e Libertar conta com a participação de diversos especialistas em educação que complementam o debate e sublinha as perspectivas positivas e negativas do assunto.

Homescholing em Goiás

Segundo dados da Associação Nacional de Ensino a Distância (Aned) de 2016, há em Goiás pelo menos 99 famílias que optaram, mesmo diante da desregulamentas ação, educar seus filhos em casa. O número, no entanto, pode ser ainda maior. Segundo a Aned, diversas famílias têm medo de assumir que educam os filhos em casa por receio de sofrerem sansões ou punições. 

No Brasil, segundo o mesmo levantamento da associação, já são mais de 7.5 mil famílias praticando a educação em casa. Os estudantes têm entre 4 e 17 anos e estão presentes em todas os entes federativos. A taxa de crescimento anual de famílias que educam em casa é de 55% aa.

Panorama geral

São Paulo (583), Santa Catarina (336) e Minas Gerais (308) são os estados com os maiores números de famílias que optaram por não mais enviar seus filhos à escola e estão formando-os em casa. Goiás e Distrito Federal não ficam atrás, juntos, somam 198 famílias.

A Constituição Federal de 1988 é explícita “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família”, diz o Art. 205. Seguindo o que diz a constituição, pais buscam formas alternativas de promover a formação acadêmicas em casa, a prática é conhecida como homeschooling. Apesar de ser um direito garantido às famílias pela constituição, as mesmas esbarram diante do Estatuto da Criança e do Adolescente que obriga que os filhos sejam matriculados em rede regular de ensino.

Na irregularidade

Apesar da grande adesão por parte dos pais, o tema é ainda bastante polêmico e é pauta para discussões legais, tendo em vista que a legislação brasileira não é clara em relação à educação domiciliar. A prática não é proibida, mas segundo o Artigo 55 do Estatuto da criança e do Adolescente “Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.”, isso faz com que a retirar os filhos da escola para formá-los em casa, possa ser considerado negligência por parte dos pais podendo ainda ser punido pelo art. 246 do Código Penal como crime de abandono.

O advogado e coordenador da Aned (Associação Nacional da Educação Domiciliar), Alexandre Magno, desmistifica um dos principais argumentos de quem é contra a educação domiciliar. “Trata-se da socialização. Normalmente, quem utiliza-se deste argumento para defender a falta de liberdade das famílias em educar seus filhos em casa, não apresentam nenhum argumento fundamentado em empírico que possa mostrar que a socialização no perímetro escolar é de fato a melhor. Do outro lado da moeda, temos diversas pesquisas empíricas que mostram que não somente nas salas de aulas que as crianças irão desenvolver-se socialmente”, argumenta.

Uma das pesquisas na qual Alexandre se refere é a feita em 2003 pela Associação para a Defesa da Educação Domiciliar, conhecida como “Homeschooling GrowsUp” e levava em conta como as pessoas que foram educadas em casa estavam se saindo como adultas. Ponto positivo para a educação domiciliar, foi descoberto que em todas as áreas da vida, desde a obtenção de emprego, a estar satisfeito com sua educação em casa, a participar das atividades da comunidade, a votar, os adultos que haviam sido educados em casa eram mais ativos e envolvidos que seus colegas que haviam estudado nas escolas públicas.

 Pedagoga relata os benefícios de educar em casa

Há três a pedagoga Viviane Canello decidiu por alfabetizar seu filho de 6 anos que chegou a estudar em uma escola durante um ano. “Optei, pois meu filho precisava da minha presença com ele, como acho que toda criança pequena precisa. Pela minha experiência profissional, a criança necessita desta segurança, principalmente na educação infantil, a importância da família, a referência de pai e mãe presentes na vida dos filhos, é fundamental”, explica Viviane.

Viviane destaca que a ideia de educar os filhos em casa não é apenas fugir dos parâmetros curriculares da educação nacional, segundo ela, os filhos devem receber a mesma formação, porém, no conforto dos lares. “O fantástico disso tudo às famílias homeschoolers, é ver a progressão e poder promover, ter os resultados do seu filho. É sim, maravilhoso e de uma satisfação sem igual”, assegura.

“Estou estudando gramática para ensiná-lo da melhor forma, quero seguir o método de estudo clássico. Ensiná-lo a ler e interpretar os diferentes textos. Conhecer um poema, uma matéria de jornal, um livro de história, mitologia, estudamos o catecismo da Igreja Católica, estudos bíblicos. Somos católicos, rezamos o terço todos os dias, sim, isso faz parte da nossa rotina de aprendizado. Ele reza, pensando no que está falando, meditando os mistérios do Santo Terço, não é repetição. Tem as aulas normais do currículo escolar, tem as aulas de matemática, ciências, inglês também, que é o que ele mais gosta”, explica.

O filho de Viviane Canello, de apenas 8 anos, adora estudar inglês. Segundo a mãe, ele sabe que há uma diferença entre ele e outras crianças que frequentam a escola, para compensar o tempo em casa, ele participa de encontro semanais para desenvolver atividades físicas e ficar com brincar com outras crianças. “Ele entende que é diferente de ser educado na escola, hoje ele não quer mais ver falar de escola. Em casa ele aprende muito mais e em muito menos tempo. Aqui na nossa cidade há muitas famílias optando por ficarem mais tempo com as crianças e outras já fazendo o Homeschooling. Então, sempre têm crianças para ele brincar e um encontro ou outro, com outras crianças para a socialização”, explica. 

  

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