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sábado, 23 de novembro de 2024
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Quadrinhos

Nas telas do bom senso

Após o ocorrido na Bienal do Rio de Janeiro, profissionais opinam sobre a importância da liberdade de expressão positiva

Postado em 12 de setembro de 2019 por Guilherme Araújo
Nas telas do bom senso
Após o ocorrido na Bienal do Rio de Janeiro

Guilherme Melo 

Recentemente o Brasil se deparou com o a situação envolvendo
a Bienal do Rio de Janeiro. Em resumo, atual prefeito da cidade, Marcelo
Crivella, pediu que fosse recolhido a graphic novels ‘Vingadores – A Cruzada
das Crianças’, com a justificativa de analisar o material possui ‘conteúdo
impróprio para menores’. Como consequência, o Supremo Tribunal Federal (STF)
derrubou a decisão de não recolher a história em quadrinho.

O assunto dividiu opiniões entre as pessoas, de um lado as
que apoiam a decisão do prefeito, afirmando ser uma ação que prevenia incômodos
futuros, e de outro, as pessoas que diziam que a decisão é uma censura. Mas
independente de lados, uma questão voltou a ecoar na sociedade, o que pode ser
considerado liberdade de expressão e o que pode ser considerado censura?

Para o apaixonado em quadrinhos e professor de história Murillo
Medeiros, a função da ‘arte’ é representar uma realidade de um público
específico. “Desde a pré-história, a arte é uma forma de estender o cotidiano,
ou seja, as pessoas tendem a escrever, desenhar, cantar e se manifestar com
inspiração naquilo que vivem. Ela é uma atividade humana ligada a manifestações
de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias,
com o objetivo de estimular esse interesse de consciência em um ou mais
espectadores, e cada obra de arte possui um significado único e diferente”,
ressalta Murillo, em entrevista ao Essência.

Segundo o professor, é necessário que exista a liberdade de
expressão, pois é um direito civil. “Ela é um direito assegurado a todos os
indivíduos de manifestar opiniões, pensamentos e ideias sem ter medo de sofrer represaria
por qualquer outro membro da sociedade. Todos têm direito à liberdade de
opinião e expressão. Como nação, passamos por períodos de repressão e de
maiores liberdades, acho que por isso ansiamos tanto pela nossa ‘liberdade’”,
afirma o profissional.

Assim como Murillo, a psicóloga Geórgia Bueno concorda com a
importância da liberdade de expressão e da representatividade, mas que tudo
deve ser acompanhado com o bom senso. “Precisamos andar acompanhados com o bom
senso, independente de ideologias ou lados políticos, acho que a arte consegue
ser mais leve assim. O correto é que haja uma representação, de todos os
grupos, de maneira positiva sem denegrir a imagem de alguém”, afirma a
profissional.

Geórgia ainda comenta que para entender melhor o ‘bom
senso’, é necessário entender alguns termos aplicados a cada situação. Como no
caso da Bienal, é importante saber a diferença entre a identidade de gênero e a
orientação sexual. “Segundo Freud, as pessoas nascem com o gênero e vão
estabelecendo, com influências também do ambiente, a sua orientação. Todos
passam pelo processo de ‘castração’, que tem relação com a identidade de gênero
e depois pelo complexo de ‘édipo’, que tem relação com a orientação. Com isso é
importante respeitar as fases de cada criança”, comenta.

Relação pais e filhos

Com isso, a profissional orienta que os pais busquem se
informar sobre os assuntos e que seria necessária uma classificação para todas
as artes. “As pessoas devem ter a mente aberta para se informar sobre os
assuntos e assim filtrar se aquilo é bom ou não para os seus filhos, sempre
respeitando a todos. Além disso, acho que seria mais fácil para os pais se
houvesse uma indicação ou classificação para orientar. Essa seria uma maneira
de manter o respeito entre todos os grupos, ideologia e crenças”, opina
Geórgia.

Para a mãe Letícia Oliveira, 21 anos, é fundamental que os
pais orientem os filhos sobre determinados temas considerados tabus. “Tenho
dois filhos, ambos com menos de três anos, e não me importo de levar eles na
casa de amigos gays, não proíbo de assistirem um filme ou ver um livro que
tenha alguma dessas cenas. Mas acho importante eu estar por perto, caso precise
explicar alguma situação. Acho que assim é uma boa maneira de criar indivíduos
mais abertos e sem julgamentos”, explica.

A psicóloga comenta que a motivação de Letícia é conhecida na
psicologia como ‘O resgate do filho na boca do jacaré’. “Jacques Lacan comenta
que é necessário o cuidado da mãe, que certo ponto deve romper esse ‘cordão
umbilical’ para não gerar uma consequência grande, como o uso de drogas. Cada
indivíduo tenta criar os seus filhos conforme as suas ideologias e crenças,
caminhando lado a lado no até o início da adolescência, mas é fundamental que
os pais deixem que os filhos continuem isso sozinho, ajudando a desenvolver a
confiança e o respeito”, orienta.

Quadrinho da representatividade

Publicado originalmente em 2010, a obra é o 66º volume da
Coleção Oficial da Marvel, lançada em 2016 no Brasil pela Editora Salvat em
parceria com a Panini Comics. A ideia é republicar gibis em formato de luxo,
com capa dura. Com nove edições, a saga mostra dezenas de super-heróis da
Marvel, incluindo duas versões jovens dos Vingadores, Wiccano e Hulking, que
são namorados. Em um dos trechos da obra, eles aparecem se beijando, em edição
escrita pelo norte-americano Allan Heinberg e ilustrada pelo britânico Jim
Cheung.

Muito além dos personagens LGBTQI+, o quadrinho é elogiado
pela sua representatividade dos grupos minoritários. Para Murillo, ele
apresenta uma nova geração. “Estamos vivenciando uma época com muita
oportunidade de respeito, grupos que antes não tinha lugar de fala, estão
assumindo posições de destaques. Então é importante ‘militar’ de formar
respeitosa, como nesse quadrinho da Marvel”, finaliza. 

Negro e latino: O personagem criado em Ultimate Fallout n° 4, 2011, com roteiro assinado por Brian Michael Bendis (Jessica Jones) e arte de Sara Pichelli (Guardiões da Galáxia: Vingadores Cósmicos). Com um novo Homem-Aranha, a série ‘Ultimate Comics’ foi produzido com o objetivo de modernizar a identidade do super-herói da Marvel, tornando-o ainda mais próximo de identificação com as próximas gerações de leitores.

Muçulmana: A história de Kamala é publicada desde 2014 pela Marvel e considerada um dos maiores avanços quando se trata de representatividade nos quadrinhos. Criada por Sana Amanat (paquistanesa) e Stephen Wacker, a personagem tem histórias da roteirista G. Willow Wilson e arte de Adrian Alphona. Esse grupo diverso se juntou para acertar nos detalhes de Khan, menina adolescente, de origem paquistanesa, que mora com os pais em Nova Jersey (EUA). 

Mulher: America Chávez, também conhecida por seu apelido America, é uma super-heróina criada por Joe Casey e Nick Dragotta. Chávez apareceu pela primeira vez em Vengeance # 1 (setembro de 2011) antes de estrelar sua própria série em andamento, America, em março de 2017 pela escritora Gabby Rivera. No início ela era chamada de Miss América, com um cargo de assistente do Capitão América. Hoje a personagem ganhou um maior destaque, levantando o escudo do Capitão.  

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