Grafites embelezam a Capital
A onda de revitalizações de espaços públicos da Capital abriu espaço para o florescimento da arte urbana e do grafite – Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
Uma parceria deve colorir mais áreas de convivência em Goiânia. A onda de revitalizações de espaços públicos da Capital abriu espaço para o florescimento da arte urbana e do grafite por meio da parceria entre a Associação de Grafiteiros de Goiás, a Casa de Cultura da Juventude e a Prefeitura de Goiânia. Dois espaços revitalizados já ganharam cores dos sprays de tinta. As casas cenográficas do Parque Mutirama e os becos adjacentes da Rua do Lazer. O Secretário de Planejamento, Henrique Alves, afirma que a parceria deve colorir outros cantos da cidade.
Para além disso, um dos frutos desse esforço coletivo deve ser a reforma do Beco da Codorna, famoso reduto de Arte Urbana da Capital, que deve ser feita em breve. “Estamos formulando um projeto para viabilizar essa intervenção. A ideia é que o planejamento esteja pronto em um mês e meio. A gente acha importante porque é um ponto de encontro e de turismo da população. Foi um pedido da AGG e da Casa de Cultura da Juventude”, afirma o titular. De acordo com o secretário, a reforma deve seguir o padrão da revitalização da Rua do Lazer.
O presidente da Associação de Grafiteiros de Goiás, Eduardo Aiog, relata que a parceria surgiu com as frentes de trabalho da prefeitura. “A Prefeitura tem a Rua do Lazer como um local tradicional que merecia uma reforma. Os dois becos adjacentes à rua eram bem deteriorados, assim como todos os becos do Centro. Eles revitalizaram a estrutura física e pediu para que a gente grafitasse. Nós solicitamos que eles também dessem atenção para o Beco da Codorna que consideramos um espaço cultural muito importante”, afirma Eduardo.
O presidente ainda afirma que o espaço a ser reformado é a primeira galeria de arte urbana a céu aberto da Capital. Segundo ele, os becos da Rua do Lazer seriam a segunda. Na avaliação do secretário de Planejamento Urbano do município, a parceria foi exitosa e poderá se expandir para outros espaços. “Deu muito certo. A Secretaria tem interesse de que isso seja feito novamente. A ideia é pensar em estender a iniciativa não só para obras em andamento, mas para locais que já estão consolidados, como parques, viadutos e praças”, afirma o secretário.
Segundo Eduardo, o acordo foi que os grafiteiros participassem da ação na Rua do Lazer e a prefeitura se comprometeu em fazer a reforma física no Beco da Codorna. O município conseguiu alimentação, tinta e transporte para cerca 140 artistas de várias cidades próximas à Capital. Entre os artistas, 20 foram mulheres. Os trabalhos ainda estavam sendo feitos nesta terça-feira (22). “A ideia é que lá se torne lá um espaço de convivência das pessoas com a arte urbana”, afirma o presidente.
A Associação de Grafiteiros de Goiás (AGG) tem sede no Beco da Codorna. De acordo com o presidente da Casa de Cultura da Juventude, Cleubismar de Jesus, conhecido como Mano CDJ, foi no Beco da Codorna que floresceu o embrião da arte urbana na Capital. “Foi ali que tudo começou, até hoje temos ocupações artísticas no local, mas a área está depredada e necessita de uma reforma que a coloque em seu lugar de merecimento”.
Após três dias da inauguração, Rua do Lazer é pichada
O mobiliário urbano como lixeiras, bancos e a calçada da Rua 8 amanheceram pichada na manhã desta terça-feira (22). O grafite tem um senso estético distinto da pichação e normalmente, pichadores respeitam muros grafitados e não picham sobre as obras de arte. Duas lixeiras, um banco e a calçada foram alvo de pichações na Rua do Lazer. Jhony dos Santos, conhecido como Bolacha, veio de Santo Antônio de Goiás para colorir os muros nos becos da Rua do Lazer e acredita que assim como existem artistas grafiteiros, também há manifestação da arte através da pichação.
Porém, alerta para uma diferença. “Dá para perceber que houve dois tipos de pichações na Rua do Lazer. Uma, que está na calçada, foi alguém que achou um jet de tinta quase vazio e escreveu qualquer coisa na calçada. Os outros, como o da lixeira, por exemplo, foram feitos por pichadores profissionais que tem um trabalho autoral. Porque a Rua 8 se transformou em uma galeria de arte urbana. Onde tiver um, os outros vão querer estar para manifestar seu trabalho. A pichação também é arte”.
Além disso, Johny afirma que muitos grafiteiros profissionais vieram da pichação e por isso o pichador respeita o espaço do grafite. Ele afirma que são linguagens de arte diferentes, mas que dialogam entre si. “O grafiteiro não sai atropelando o pichador e vice e versa. Tem uma onda de respeito mútuo entre as duas linguagens da arte urbana”.
Ele ainda afirma que as pichações podem ser a manifestação da “cidade falando” e pode ter uma relação com identidade. “Na verdade, a pichação pode dar voz à rua. Pode ser o jovem da periferia que quer deixar sua marca no Centro e se tornar também parte dele”. Bolacha opina que não há mais como frear esse tipo de manifestação depois que os becos da Rua 8 ganharam a alcunha de galeria de arte urbana.
Diversidade de Arte Urbana marcam becos da Rua 8
O papel da Associação de Grafiteiros de Goiás (AGG) foi fundamental para que a ação se concretizasse de forma organizada e com a diversidade de artistas que o lugar público merece. Johny trabalha no meio cultural há 25 anos e é associado à AGG. “O papel da Associação foi importante porque a Prefeitura não teria força para fazer com que de 140 artistas se voluntariassem para fazer esse trabalho de forma organizada”.
A Associação de Grafiteiros de Goiás foi procurada pela Secretaria Municipal de Planejamento Urbano para realizar o trabalho de grafite no projeto de revitalização da Rua do Lazer. A Associação fez toda organização para reunir os participantes do projeto. “Nós que somos associados, vimos a necessidade de nos juntarmos para fortalecer a classe artística e valorizar mais a arte em nossa sociedade”, afirma Bolacha.
Voluntários
“O que estamos fazendo aqui é uma ação social. Estamos doando nosso trabalho para que esse espaço público esteja mais conectado à questão artística”. Os 144 grafiteiros que participaram da execução dos trabalhos não receberam cachê. No entanto, o trabalho minucioso ainda se estende por essa semana, mesmo que recursos dos próprios artistas tenham que ser usados para finalizar as pinturas. “A prefeitura forneceu 12 latas para cada artista, mas aqui tem muito material que a gente traz do nosso bolso e compartilha com a galera porque queremos que nosso trabalho tem que sair do jeito que a gente quer”.
Bolacha afirma que é muito difícil que a classe artística seja associada a uma classe trabalhadora. “Em Goiás, trocaram a enxada por outro meio de trabalho há pouco tempo. Estamos muito ligados às tradições familiares e tradicionais. Muitos pais de artistas querem vê-los como advogados ou médicos. Mas quando alguns deles ganham mais visibilidade, o trabalho começa a ser mais valorizado dentro e fora do núcleo familiar”.
Na opinião de Jhony, a parceria entre o poder municipal e a Associação, representa um marco na história de mais de 25 anos de resistência da arte urbana na Capital. Ele explica que cada um dos dois becos da Rua do Lazer tem uma temática diferente e o trabalho dos artistas acompanhou as temáticas. “Um deles, é do esporte e o outro seria o Beco da Cultura, que teria apresentações artísticas, culturais e teatrais. Por causa da segmentação de cada espaço, estamos executando grafites que dialogam com cada uma dessas representatividades”.
Ele explica que os espaços a serem grafitados dos becos adjacentes à Rua do Lazer foram separados pensando em dar visibilidade para todos os estilos de grafites dos artistas participantes. “A organização, inclusive dos espaços, foi feita pela AGG, para que todos os estilos pudessem ser contemplados. Cada grafiteiro segue uma linguagem diferente. Alguns gostam de fazer apenas letras estilizadas, outros fazem só personagens, alguns têm um trabalho de arte mais realista. Tudo foi organizado para que todos esses estilos fossem vistos”.