Indústria de Reciclagem carece de esforços, em Goiás
De acordo com a FIEG, a união entre o setor público, sociedade civil organizada e a iniciativa privada é fundamental para uma melhor gestão dos resíduos sólidos – Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
O fomento da indústria de reciclagem é fundamental para cumprir a Política Estadual de Resíduos Sólidos. De acordo com o Conselho Temático de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG), apesar da existência desse setor no Estado, ainda falta sinergia entre os elos da cadeia produtiva para estimular a economia sustentável de forma efetiva. Uma das carências do setor é a indústria que trata o vidro para ser reutilizado. Não há indústrias desse tipo em Goiás.
O reaproveitamento de resíduos sólidos na indústria é chamado de logística reversa. A ação consiste em um mecanismo de desenvolvimento econômico e social que visa, por meio de uma série de ações, viabilizar a coleta e devolução desses resíduos sólidos ao setor fabril e reaproveitá-los em novos ciclos produtivos. A FIEG vem buscando, junto Sindicatos das Indústrias, Sema, AMMA, MP Goiás, associações de reciclagem e outros atores, a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos para fortalecer a economia circular e incentivar o tratamento do lixo, fomentando uma atividade que já gera emprego e renda para milhares de famílias.
Nesse sentido, a Federação afirma que a união entre o setor público, sociedade civil organizada e a iniciativa privada é fundamental para uma melhor gestão dos resíduos sólidos. A FIEG tem buscado boas práticas já implantadas com sucesso em outros Estados para planejar ações em Goiás, inicialmente em Goiânia e Região Metropolitana. Em Abril deste ano A Fieg recebeu um técnico ambiental da Federação de Indústrias de São Paulo (Fiesp) para apresentar o Sistema Alternativo de Logística Reversa de Embalagens em Geral a fim de implantá-lo em Goiás.
As indústrias de logística reversa tratam sucatas de metal, plástico, borracha e outros tipos de resíduos provenientes de complexos industriais e do consumo comum da população. Depois de tratados, eles são devolvidos para a cadeia produtiva e se transformam em matéria prima para fabricação de novos produtos. A reciclagem desse material demonstra que, o que muitas vezes parece ser descartável e sem valor, pode gerar lucro, movimentar o mercado e contribuir para a sustentabilidade.
Capital estagnado
De acordo com o Presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente da FIEG, Bruno Beraldi, o papel ecológico e econômico da logística reversa em Goiás é fundamental. “Quando se coloca em pauta o fim dos lixões e aterros, percebemos que o maior percentual de volume de lixo é reciclável. Os chamados resíduos secos, compostos por papel, vidro, papelão e vários tipos de metais ocupam um espaço desnecessário e são um recurso financeiro que poderia estar circulando em grandes indústrias, mas está estagnado”, esclarece.
Bruno diz que apesar do assunto estar em alta, falta sinergia entre todos os pontos que compõem a cadeia produtiva da logística reversa. “De maneira geral, já temos uma preocupação das indústrias, do poder público e da sociedade em relação ao tema. No entanto, não temos muitas ações efetivas para ligar todos os elos da cadeia e fazer tudo funcionar de forma adequada”. A Política Nacional de Resíduos sólidos estabelece que a colaboração dos consumidores, comércio, governo e as empresas devem assumir o retorno de seus produtos descartados, tratando, reutilizando ou dando o destino correto a eles.
O presidente do Conselho Temático do Meio Ambiente da FIEG reitera que cada um dos atores sociais deve contribuir para a devolução desses resíduos à cadeia produtiva. “A indústria precisa colocar produtos que sejam recicláveis no mercado. O comércio tem a responsabilidade de criar pontos de entrega voluntária de resíduos. O Poder Público deve estimular, inclusive com incentivos, essa cadeia e viabilizar a coleta de forma adequada. Além disso, deve ajudar a educar e incentivar a população a respeito do tema porque ainda existe muita desinformação”.
Catadores carregam logística reversa
A “ponta” da logística reversa é composta pelos catadores de materiais recicláveis. De acordo com a Presidente da Central de Trabalhadores dos Catadores de Materiais Recicláveis (Uniforte) Dulce do Vale, estima-se que existam pelo menos 6 mil desses profissionais atuando em Goiânia. Esses trabalhadores, literalmente carregam as indústrias de reciclagem nas costas. São eles que fornecem a maior parte da matéria prima a ser processada nessas empresas.
Jamil Bernardes é gerente de compras da única empresa no Estado de Goiás que processa sucata ferrosa e trata os resíduos coletados em pequenos depósitos e indústrias. O material é levado por caminhões caçamba da própria empresa. O transporte carrega de 4 a 5 toneladas de sucata ferrosa por viagem. Segundo Jamil, cerca de 6 mil toneladas de resíduos sólidos são processados mensalmente pela companhia. Pelo menos 70% desse valor é oriundo de depósitos onde catadores depositam sucatas.
O gerente explica que o preço da sucata ferrosa é flutuante porque obedece a lei da oferta e da procura. O produto final processado pela companhia é usado como matéria prima do ferro e entra novamente no ciclo industrial das siderurgias que por sua vez é incluído na produção de bens de consumo que usam o ferro em sua composição, como carros e eletrodomésticos, por exemplo. Esse ciclo é conhecido como economia circular.
“A crise econômica que estamos enfrentando fez com que o preço da sucata ferrosa caísse. O motivo é a retração do mercado que diminui o consumo dos produtos compostos por ferro. Isso faz com que menos resíduos sejam gerados e as siderurgias acabam encolhendo o valor que pagam pela matéria prima do ferro para conseguirem manter a mesma margem de lucro”. A redução de preço torna o produto menos atraente para o catador que vai procurar outro material.
Na opinião de Jamil, deveria haver subsídios e incentivos para manter o produto atraente para os catadores e para a indústria de reciclagem, pois essa queda nos preços tem impactos ambientais. “Se o catador preferir outro material como a sucata, ela acaba ficando por mais tempo no meio ambiente”. De acordo com a projeção do Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Sindinesfa), o Brasil recicla apenas 1,5% de carcaças de carros e peças inutilizadas em depósitos. É o percentual mais baixo do mundo entre as economias desenvolvidas.
Ao chegar à sede matriz da indústria, na Vila industrial Pedro em Goiânia, os resíduos passam por uma triagem para serem caracterizados e definir por qual dos três métodos utilizados na fábrica eles serão processados. Jamil explica que o tipo de material vai definir se ele será triturado mecanicamente ou cortado por meio de maçarico industrial para que posteriormente possa ser prensado no produto que deve ser desenvolvido à indústria.
Antes de passar por esses processos, o material é limpado de impurezas indesejadas. Jamil ressalta o compromisso ecológico da empresa em adquirir produtos livres de materiais com potencial para poluir o meio ambiente. “Sou gerente de compras, mas tenho que estar familiarizado com todo processo da indústria. Se recebermos resíduos embebidos em óleo, por exemplo, tenho que dar um feedback para o fornecedor alertando que não recebemos esse tipo de material devido à poluição que ele pode causar”. O gerente afirma ainda que a empresa possui licenciamento ambiental e cumpre todos os requisitos do Ministério do Meio Ambiente e da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) para funcionar.