Prefeitos se mobilizam em Brasília contra extinção de municípios
Em Goiás, mais de 90 municípios podem ser incorporados por vizinhos se a medida do Governo for aprovada. Foto: Arquivo / Agência Brasil
Jorge Borges*
A praticamente duas semanas do recesso parlamentar, mil prefeitos movimentam Brasília nesta terça-feira (2). Com as malas cheias de pedidos para deputados e senadores, eles estão reunidos no auditório Petrônio Portela, no Senado.
Desta vez, o ponto principal da mobilização tem a ver com a chamada Proposta de Emenda à Constituição(PEC 188/129) do Pacto Federativo. A PEC, enviada pelo governo ao Congresso, propõe a extinção de municípios que não atingirem, em 2023, o limite de 10% dos impostos sobre as receitas totais e que tenham população de até cinco mil habitantes.
Desde que chegou ao Senado, o texto e os critérios propostos para a medida, têm sido criticados pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM). A entidade realizou um estudo para avaliar os impactos da proposta.
De acordo com o levantamento, os municípios com até 50 mil habitantes correspondem a 87,9% do território, sendo responsáveis por grande parte da produção brasileira. Os que têm população de até cinco mil habitantes são 1.252, ou seja, 22,5% das cidades. Desses, 1.217 (97%) não atingiriam o limite de 10% dos impostos sobre suas receitas totais.
Senadores ouvidos pela Agência Brasil, no entanto, avaliaram como nulas as chances de a proposta avançar na Casa ainda este ano ou em 2020, de eleições municipais.
Outras demandas
A lista de demandas de prefeitos no Congresso é extensa. Só no Senado, ela incluiu ainda a votação da proposta que trata da execução direta de emendas individuais parlamentares e a Nova Lei de Licitações.
No caso das emendas individuais, a expectativa é que a medida reduza a burocracia e as taxas, que, segundo a CNM, chegam a 12% da gestão dos convênios de repasse das emendas parlamentares individuais impositivas. Sem necessidade de convênio ou instrumento semelhante, o recurso poderá ser transferido diretamente para os municípios e os estados.
Os prefeitos defendem que a distribuição dos valores fundo a fundo garante maior transparência, efetividade e qualidade nos gastos. Eles argumentam ainda que as emendas levam, em média, 36 meses para serem executadas. Se aprovadas, os gestores esperam que, com as mudanças, o dinheiro chegue aos municípios mais rapidamente.
Já a Nova Lei de Licitações (Projeto 1.292/95 e apensados) – aprovada na Câmara – é outra matéria que os municipalistas querem apoio e celeridade no Senado. O texto cria modalidades de contratação, exige seguro-garantia para grandes obras, tipifica crimes relacionados ao assunto e disciplina vários aspectos do tema para as três esferas de governo (União, estados e municípios).
Pela proposta, o administrador poderá contar com modalidades de licitação diferentes das atuais, e a inversão de fases passa a ser a regra: primeiro são julgadas as propostas e depois são cobrados os documentos de habilitação do vencedor.
Câmara
Na lista de cobranças à Câmara está a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 133/2019 – a chamada PEC paralela da Previdência. Entre outros pontos, a medida inclui estados e municípios na Reforma da Previdência. Pelo texto aprovado no Senado, estados, Distrito Federal e municípios podem adotar integralmente as mesmas regras aplicáveis ao regime próprio de Previdência Social da União por meio de lei ordinária.
Há ainda o acréscimo de 1% do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) nos Impostos de Renda (IR) e Sobre Produtos Industrializados (IPI) de setembro. A proposta foi aprovada em comissão especial da Câmara em junho e, na mobilização de setembro dos prefeitos, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se comprometeu a pautar a PEC.
Como não sofreu modificações, o texto precisa apenas ser aprovado no plenário da Casa e, se não houver mudanças, vai direto para promulgação. Se ocorrer ainda neste ano, passa a valer em 2020 de forma escalonada: 0,25% no primeiro e no segundo ano; 0,5% no terceiro; e 1% a partir do quarto.
Estimativas apontam que o Fundo de Participação dos Municípios pode crescer até R$ 5,6 bilhões a partir de 2023. (*Informações da Agência Brasil)
Situação no Estado
Em Goiás, mais de 90 municípios podem ser incorporados por vizinhos se a medida do Governo for aprovada. O pacto federativo, entregue pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao Congresso Nacional, prevê que cidades com menos de 5 mil habitantes e que arrecadem menos de 10% da receita total sejam fundidas a municípios vizinhos.
Confira abaixo a lista completa de cidades com menos de 5 mil habitantes em Goiás:
- Adelândia – 2516 habitantes
- Água Limpa – 1850 habitantes
- Aloândia – 1995 habitantes
- Amaralina – 3812 habitantes
- Amorinópolis – 3126 habitantes
- Anhanguera – 1149 habitantes
- Aparecida do Rio Doce – 2474 habitantes
- Aporé – 4198 habitantes
- Araçu – 3522 habitantes
- Arenópolis – 2612 habitantes
- Aurilândia – 3120 habitantes
- Avelinópolis – 2417 habitantes
- Bonópolis – 4405 habitantes
- Brazabrantes– 3703 habitantes
- Buriti de Goiás– 2488 habitantes
- Buritinópolis– 3292 habitantes
- Cachoeira de Goiás – 1351 habitantes
- Caldazinha – 3804 habitantes
- Campestre de Goiás – 3630 habitantes
- Campinaçu – 3640 habitantes
- Campos Verdes – 2141 habitantes
- Castelândia – 3435 habitantes
- Colinas do Sul – 3382 habitantes
- Córrego do Ouro – 2327 habitantes
- Cristianópolis– 2966 habitantes
- Cromínia– 3486 habitantes
- Cumari– 2854 habitantes
- Damianópolis– 3311 habitantes
- Damolândia– 2938 habitantes
- Davinópolis– 2094 habitantes
- Diorama– 2484 habitantes
- Divinópolis de Goiás – 4804 habitantes
- Edealina– 3699 habitantes
- Estrela do Norte- 3275 habitantes
- Formoso– 4248 habitantes
- Gameleira de Goiás- 3818 habitantes
- Guaraíta– 1996 habitantes
- Guarani de Goiás– 3893 habitantes
- Guarinos– 1794 habitantes
- Heitoraí– 3724 habitantes
- Hidrolina– 3564 habitantes
- Ipiranga de Goiás– 2893 habitantes
- Israelândia– 2800 habitantes
- Itaguari – 4676 habitantes
- Itajá– 4539 habitantes
- Itapirapuã– 4997 habitantes
- Ivolândia– 2370 habitantes
- Jaupaci– 2879 habitantes
- Jesúpolis– 2490 habitantes
- Lagoa Santa- 1588 habitantes
- Mairipotaba – 2368 habitantes
- Marzagão- 2236 habitantes
- Matrinchã– 4351 habitantes
- Mimoso de Goiás– 2597 habitantes
- Moiporá -1529 habitantes
- Montividiu do Norte – 4479 habitantes
- Morro Agudo de Goiás– 2248 habitantes
- Mossâmedes– 4290 habitantes
- Mundo Novo – 4887 habitantes
- Mutunópolis – 3778 habitantes
- Nova América– 2352 habitantes
- Nova Aurora– 2210 habitantes
- Nova Iguaçu de Goiás– 2929 habitantes
- Nova Roma– 3264 habitantes
- Novo Brasil– 2913 habitantes
- Ouro Verde de Goiás– 3759 habitantes
- Palestina de Goiás- 3464 habitantes
- Palmelo– 2381 habitantes
- Palminópolis– 3585 habitantes
- Panamá– 2615 habitantes
- Perolândia– 3129 habitantes
- Pilar de Goiás- 2253 habitantes
- Porteirão– 3881 habitantes
- Portelândia– 4011 habitantes
- Professor Jamil- 3223 habitantes
- Rianápolis– 4801 habitantes
- Rio Quente- 4493 habitantes
- Santa Cruz de Goiás– 2855 habitantes
- Santa Isabel– 3809 habitantes
- Santa Rita do Novo Destino– 3343 habitantes
- Santa Rosa de Goiás– 2319 habitantes
- Santa Tereza de Goiás– 3355 habitantes
- Santo Antônio da Barra– 4821 habitantes
- São João da Paraúna- 1381 habitantes
- São Miguel do Passa Quatro– 4057 habitantes
- São Patrício– 2036 habitantes
- Sítio d’Abadia– 2989 habitantes
- Taquaral de Goiás– 3529 habitantes
- Teresina de Goiás– 3458 habitantes
- Três Ranchos– 2833 habitantes
- Trombas– 3500 habitantes
- Turvânia– 4598 habitantes
- Uirapuru– 2854 habitantes
- Urutaí– 3072 habitantes
- Varjão– 3827 habitantes
O pacto federativo é o conjunto de regras constitucionais que determina a arrecadação de recursos e os campos de atuação de União, estados e municípios e suas obrigações para com os contribuintes. A proposta do Governo pretende liberar até R$ 400 bilhões a estados e municípios nos próximos 15 anos.
Segundo o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), 93 cidades podem ser obrigadas a se fundir a outros municípios. Já a Federação Goiana dos Municípios consideram que serão 92. A diferença está na cidade de Pilar de Goiás, que tem 2,5 mil habitantes.
“A Federação Goiana dos Municípios é contra, eu tenho certeza que o Congresso Nacional não aprovará em hipótese nenhuma, porque ela não traz benefícios e traz prejuízos enormes para todos os municípios que estão nessa lista”, disse Haroldo Naves, presidente da FGM.
Entenda a proposta e o que pode mudar
Por se tratar de PEC, a proposta precisa ser aprovada em dois turnos de votação no Senado e outros dois turnos na Câmara, antes de ser promulgada e entrar em vigor. A proposta é considerada pela área econômica como o principal eixo do pretendido processo de transformação da economia brasileira nos próximos anos.
O que prevê a PEC do pacto federativo