Participação de manufaturados na exportação cai para menos de 4,8%
No ano passado, a indústria do setor reduziu as vendas ao exterior em 21,3% saindo de US$ 427,09 milhões para US$ 335,96 milhões, segundo dados do Governo Federal.
As
décadas em sequência de generosos incentivos fiscais não parecem ter sido
suficientes para promover uma atualização e diversificação do parque industrial
no Estado com inclusão de produtos mais sofisticados e intensivos em
tecnologia, refletindo-se na baixa participação de bens manufaturados na pauta
de exportações (e em sua redução mais recente). No ano passado, a indústria do
setor reduziu suas vendas ao exterior em 21,3%, segundo dados da Secretaria de
Comércio Exterior do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
(Secex/Mdic), saindo de US$ 427,09 milhões no ano imediatamente anterior para
US$ 335,96 milhões. A fatia das manufaturas nas exportações totais recuou de
5,68% para 4,77% entre aqueles dois períodos, registrando seu nível mais baixo
desde 2014, quando havia se limitado a 4,27% (e somado US$ 297,84 milhões).
Em
2011, quando a economia ainda apresentava bom desempenho, as manufaturas
chegaram a responder por 8,72% do total exportado, ainda uma participação muito
reduzida, muito embora tenha sido a mais elevada da década finalizada em 2019.
Para comparação, os manufaturados tiveram participação de 34,57% nas
exportações totais realizadas pelo Brasil no ano passado, uma relação
considerada reduzida para um país com uma indústria das dimensões da
brasileira. Atingidas em cheio pela crise na Argentina, as vendas externas de
bens manufaturados atingiram, em 2019, a menor participação da série iniciada
em 2000, quando o setor alcançou participação recorde, levemente superior a 59%
de toda a exportação brasileira.
Mais
preocupante, as exportações goianas de manufaturas murcharam praticamente 31,1%
desde 2011, desabando de US$ 487,37 milhões para aqueles modestíssimos US$
335,96 milhões. No período, as vendas externas totais realizadas a partir do
Estado acumularam um avanço de 25,96%, passando de US$ 5,592 bilhões para US$
7,044 bilhões, em valores arredondados. Foram impulsionadas em grande medida
pelo agronegócio, que elevou sua participação nas exportações estaduais de
73,26% para 76,01% também entre 2011 e o ano passado. O setor aumentou suas
exportações em 30,68% na mesma comparação, saltando de US$ 4,097 bilhões para
US$ 5,354 bilhões.
São os grãos…
Num
outro indicador, ainda mais incisivo, da baixa especialização e sofisticação da
pauta exportadora do Estado, milho e soja em grão, pela ordem, foram os
produtos que registraram a maior contribuição para o crescimento das
exportações desde 2011 (base escolhida por ter sido naquele ano que as
manufaturas alcançaram sua maior participação nas vendas totais, conforme já
mencionado). Recordes no ano passado, as exportações de milho somaram US$
808,180 milhões, diante de US$ 276,542 milhões em 2011, num salto de 192,2% (o
que correspondeu a um acréscimo de US$ 531,638 milhões, ou seja, 36,62% de toda
a exportação adicional registrada pelo Estado entre um ano e outro). As vendas
de soja em grão aumentaram 36,8%, avançando de US$ 1,192 bilhão para US$ 1,631
bilhão (ganho de US$ 438,775 milhões, ou 30,23% do aumento geral observado para
as exportações do Estado). Na soma dos dois produtos, registrou-se uma
contribuição de US$ 970,413 milhões – ou 66,85% – para o avanço das vendas
externas totais, que apresentaram um ganho de US$ 1,452 bilhão.
Balanço
·
Ainda
em comparação com 2011, o déficit na balança comercial de bens manufaturados em
Goiás desabou 41,1%, encolhendo de US$ 4,883 bilhões (recorde histórico até o
momento) para US$ 2,874 bilhões. A melhoria aparente esconde, além da retração
nas exportações do setor, um tombo de 40,2% nas compras de manufaturas no
exterior (de US$ 5,370 bilhões para US$ 3,210 bilhões).
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A
participação dos manufaturados na pauta de importações manteve-se relevante,
mas encolheu de 93,6% para 89,7%, a mais baixa na década. Uma parte
significativa dessa retração veio da indústria de veículos, que teve sua
produção fortemente reduzida ao longo dos anos de recessão e só agora ensaia
alguma reação. As importações de veículos, tratores, peças e acessórios
despencou de US$ 2,671 bilhões para US$ 439,04 milhões (baixa de 83,56%).
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O
setor de caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos
mecânicos importou 41,3% a menos, com as compras baixando de US$ 662,44 milhões
para US$ 388,78 milhões entre 2011 e 2019.
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Resumidamente,
não só a indústria cortou suas exportações de forma vigorosa desde os primeiros
anos da década passada, como impôs cortes severos nas importações,
provavelmente em função do engavetamento de planos de atualização e de
expansão, mas também por conta da demanda reduzida internamente.
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No
caso do setor automotivo, a política de atração de investimentos demonstrou ser
ineficiente para consolidar no Estado um parque de fornecedores sistemistas,
com capacidade para suprir as necessidades de peças, acessórios e até mesmo de
placas estampadas para a montagem de carrocerias. Dos motores às lanternas, as
montadoras de veículos instaladas no Estado importam quase tudo das fábricas
instaladas em seus países de origem e de fornecedores das regiões Sul e
Sudeste.
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No
ano passado, com exportações de apenas US$ 335,96 milhões e importações de US$
3,210 bilhões, o setor de manufaturas entregou um déficit de US$ 2,874 bilhões,
ligeiramente (1,8%) acima do rombo de US$ 2,823 bilhões registrado em 2018 (diferença
entre exportações de US$ 427,09 milhões e importações de US$ 3,250
bilhões).Como se percebe, as compras do setor, assim como as exportações,
continuaram em baixa (desta vez, num recuo de 1,2%).
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A
maior contribuição para a queda veio da retração de 9,9% nas importações de
produtos farmacêuticos para uso humano e veterinário, que caíram de US$ 1,231
bilhão para US$ 1,109 bilhão. A participação do setor nas importações de
manufaturados recuou de 37,88% para 34,55%).
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A
redução foi parcialmente compensada pelos aumentos de 13,65% e de 16,15%
registrado, respectivamente, pelas importações de veículos, tratores, peças e
acessórios (de US$ 386,31 milhões para US$ 439,04 milhões) e de adubos (de US$
568,43 milhões para US$ 660,24 milhões).