Apps de carona como uma das soluções para a mobilidade urbana
Popularização de aplicativos de geolocalização passa a ser um meio de pedir e oferecer carona por um pequeno custo – Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
O número de veículos que circulam
na Região Metropolitana de Goiânia ultrapassa 1,8 milhões. Isso significa que
existem 10 veículos para cada 7,2 habitantes nos 21 municípios da Grande
Goiânia. Os dados são do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás. O número indica uma realidade egoísta no
trânsito: a maior parte dos motoristas usa seus carros como transporte
individual. No entanto essa realidade pode ser mudada com a popularização
de aplicativos de geolocalização que passam a ser um meio de pedir e oferecer
carona por um pequeno custo.
O Waze lançou o sistema de caronas
no Brasil em 2018 que tem conquistado cada vez mais adeptos. O designer gráfico Guilherme Narciso usa a
tecnologia para tentar escapar desta estatística individualista desde julho do
ano passado. Por meio do aplicativo de celular onde o motorista pode
compartilhar seu trajeto e horário do ponto de chegada, oferece vagas no carro
para que outras pessoas paguem uma pequena quantia em dinheiro em troca de
percorrer algum trecho do caminho.
O designer afirma que teve dificuldades em encontrar caroneiros quando
iniciou a prática no aplicativo, mas a demanda por vagas no carro foi
aumentando e facilitou para que seu veículo andasse cheio em suas rotas
diárias. “Eu percebi que sempre andava sozinho dentro do meu carro, com quatro
bancos vazios, mas depois que comecei a usar o celular para compartilhar a rota, percebi que dava para
cobrir os custos de gasolina e manutenção do veículo e ainda contribuir
para melhoria da mobilidade na cidade”.
No entanto, o aplicativo só
funciona de forma eficiente para trechos percorridos em horários de pico.
Guilherme teve que mudar sua rotina de horários e não percorre rotas nos
horários em que a maioria das pessoas está no trânsito. Ele afirma que a
alteração fez com que o volume de caronas diminuísse 90%. “Hoje eu acabo usando
o aplicativo para dar caronas em viagens e alguns trechos que eu faço
ocasionalmente em horários de pico”, explica.
Ele ainda afirma que os preços pagos
pelos trechos que percorre variam de R$ 4 a R$ 7. O valor máximo de uma carona
é de R$ 25. A ferramenta que pode ser usada para negociar caronas para outras
cidades pode ser uma mão na roda para quem trabalha em Goiânia, mas mora em
outros municípios da Região Metropolitana. Quanto maior for a rota percorrida,
mais as chances de encontrar caroneiros que necessitem ir pelo mesmo caminho.
Inclusive, pode ser um jeito de conhecer pessoas novas e garantir uma carona
fixa.
Foi assim que Guilherme manteve
seu carro praticamente cheio com as mesmas pessoas, nos trajetos que fazia
entre o setor São Judas Tadeu até a Praça do Sol, no Setor Oeste. “Eu saía de
casa às 7h30, apanhava uma pessoa na esquina da minha casa e outras duas no
Setor Negrão de Lima diariamente. Ao final do dia, quando tinha que ir para
UFG, carregava mais uma amiga para lá por meio do aplicativo”. A única pessoa
que Guilherme já conhecia antes de começar a usar a ferramenta era sua vizinha.
Especialista
defende transporte coletivo para melhorar o trânsito
A proporção de veículo por
habitante na Grande Goiânia já encosta nos dados da maior metrópole brasileira.
Em 2018 a proporção de veículo por habitante da cidade de São Paulo ficou em
7,4 para cada 10 habitantes. Quem depende do carro para se locomover, sabe que
dirigir na Capital em horários de picos significa esperar nos engarrafamentos.
O trânsito caótico é uma realidade constante no dia a dia do goianiense e
motoristas ficam parados até mesmo nas vias rápidas da cidade, como na Marginal
Botafogo.
A realidade de apenas uma pessoa
dentro de cada carro permeia as vias engarrafadas. De acordo com a arquiteta e
urbanista doutora em transportes, Erika Cristine Kneib a tecnologia é muito
importante, principalmente no planejamento dos sistemas, para auxiliar a
integração entre modos e para informar o usuário. “No entanto, as necessidades
de transporte e mobilidade só serão atendidas a partir de uma série de medidas.
Uma delas é a valorização do transporte coletivo, pois este é o único modo
motorizado de transporte capaz de promover uma mobilidade mais sustentável”,
explica.
Outras premissas elencadas pela
especialista são a de garantir o deslocamento adequado dos pedestres e
ciclistas na cidade, principalmente para curtas distâncias; Desincentivar o uso
do carro e da moto. Eles podem participar da rede de transporte, mas não podem
dominar esta rede, como acontece hoje e planejar as atividades urbanas e sua
localização (moradia, trabalho, indústria, etc), de modo a ajudar o transporte
coletivo. “Não existe uma solução única para a mobilidade. Ela só será
melhorada com ações conjuntas e paralelas, a exemplo dos quatro pontos citados
anteriormente”, esclarece.
A especialista em transporte ainda
afirma que a melhoria da qualidade do transporte coletivo está relacionada com
a maneira como a cidade é ocupada. “Ela é determinante para a qualidade do
transporte coletivo. Cidades espalhadas, denominado espraiamento urbano, é um
fato muito nocivo para a mobilidade”. Erika explica que esse modelo incentiva o
uso do carro, encarece e prejudica a qualidade do transporte coletivo.
“Enquanto a ocupação da cidade não for pensada para beneficiar a mobilidade e o
transporte coletivo, dificilmente serão efetivadas soluções de mobilidade”.
Ela ainda explica que as soluções
para o transporte coletivo e para a mobilidade urbana passam por um modelo
denominado Desenvolvimento Orientado ao Transporte Coletivo, com oito
princípios: Cidades compactas, com atividades próximas ou o denominado mix de
usos urbanos; Densidades adequadas e equilibradas; Incentivo ao caminhar;
Incentivo à utilização de bicicleta; Cidades bem conectadas (para isso a
integração entre os modos é fundamental); Incentivo ao uso do transporte
público coletivo.
Erika defende que a peça chave
para mudança da situação atual de mobilidade urbana passa por tirar o
protagonismo do transporte individual do trânsito, inclusive por meio de obras
de engenharia viária. “Por fim, o modelo ideal destaca o último princípio, que
é o “mudar o modelo atual”, no qual o veículo motorizado individual, o carro e
a moto é incentivado e domina os deslocamentos dos trajetos”, conclui.