Reformas em três centros de saúde afetam 20 mil usuários por mês
De acordo com a prefeitura, eles estão passando por reformas para serem transformados em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)
https://youtu.be/cEE0gqBNaIA
Igor Caldas
Três Centros de Saúde Integrada (Cais) de Goiânia estão fechados e não estão prestando atendimento à saúde pública. De acordo com a prefeitura, eles estão passando por reformas para serem transformados em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). O Cais do Jardim América está fechado desde 2017. As últimas unidades fechadas foram no Jardim Guanabara, no último dia 27, e o da Chácara do Governador, desde o início do mês. Ao todo, 20 mil usuários estão sem atendimento médico nessas regiões e precisam se deslocar para outros pontos de atendimento.
Érica Vieira, 38 anos, mora no Setor Chácara do Governador há mais de 10 anos. Ela é portadora de diabetes e está sofrendo com a falta de atendimento à saúde em seu bairro. “Como tenho crises constantes por causa da diabetes, eu vinha muito aqui no Cais. Tomava soro, pegava remédios. Os profissionais de saúde daqui já me conheciam”. Érica afirma que ela teve uma de suas crises e precisou ir para a Unidade de Pronto Atendimento mais próxima, que fica no Setor Parque Flamboyant. No entanto, o atendimento não foi satisfatório.
“A UPA estava lotada, eu tive que esperar muito para ser atendida e quando finalmente cheguei ao profissional, fui tratada muito mal. Mesmo alertando a médica que eu não reagia bem com a insulina, ela me disse que ‘não tinha nada a ver com isso’”. Érica saiu de lá sem tomar o remédio porque da última vez que ingeriu a medicação, passou mal.
A dona de casa afirma que seu organismo não reage bem com a insulina, medicamento usado no controle da glicemia por diabéticos. Por isso, já faz o uso de outro tipo de remédio com efeito semelhante, a metformina. Ela conseguia esse medicamento no Cais da Chácara do Governador.
“Eu não consegui pegar mais meu remédio na UPA do Parque Flamboyant. A cartela de comprimidos está acabando e eu não sei mais o que fazer. Vou ter que pedir dinheiro na rua”, lamenta. Érica diz que a sua situação de saúde anda muito comprometida. “Estou com um dente quase caindo por causa da diabetes e sofro muitas dores porque quebrei a bacia em um acidente”.
Há 40 anos, Cecília de Jesus Barbosa mora no bairro Chácara do Governador e afirma que o atendimento à saúde no local sempre foi precário. Ela tem uma lanchonete ao lado do Cais. “Eu buscava atendimento nesse Cais desde que era apenas um postinho de saúde. Depois de virar Cais o atendimento continuou ruim”. Ela teme que a reforma da unidade de saúde dure mais do que o esperado. “Lá no Jardim América tem um Cais fechado com essa promessa há anos. A gente fica com medo de acontecer o mesmo por aqui”.
A reforma no Cais do Jardim América começou em 2017 e estava prevista para durar 180 dias. Quem necessita procurar atendimento à saúde nestes bairros tem que se deslocar para outras regiões e sobrecarregar outras unidades. Goiânia conta com três Unidades de Pronto Atendimento, no Setor Noroeste, Itaipu, e Novo Mundo.
Servidores apontam falta de planejamento em reformas
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores (as) do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde), Flaviana Alves, afirma que os profissionais não são contra reformas nas unidades de Saúde. Elas trazem benefícios à população. No entanto, alerta que as alterações têm que ser feitas com planejamento para não sobrecarregar outras unidades. “Da forma que está sendo feita, sem nenhum planejamento, não está certo. Estamos com quatro unidades de Cais sem funcionamento”. Ela afirma que o Cais do Setor Cândida de Morais também não está funcionando por que as reformas estão impossibilitando o trabalho dos servidores.
Ela destaca a dificuldade do cidadão de se deslocar e conseguir atendimento à saúde em outras regiões. “Quem atende no Cais da Chácara do Governador, ou vai para Aparecida que já tem dificuldade de atender a própria região ou tem que se deslocar para a UPA Amendoeiras”. Ela ainda diz que quando um Cais para de funcionar em uma região ele acaba sobrecarregando as outras, que geralmente não conseguem atender a própria região.
A presidente do Sindsaúde demonstra preocupação com tantas unidades de saúde fechadas para reforma ao mesmo tempo. “O cidadão vai para onde? Não planejam nada. Querem fazer tudo de uma vez. É um prefeito que quer a imagem da cidade como um canteiro de obras, mas não se importa se isso vai prejudicar a população”. Ela teme que a história de atrasos na conclusão das UPAs se repita nos Cais fechados. “O Cais do Setor Jardim América está fechado há anos. A construção da UPA do Setor Urias Magalhães demorou cinco anos para ficar pronta”.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), outras duas UPAs deverão ser entregues até junho deste ano. Elas substituirão os Cais dos bairros Chácara do Governador e Jardim Guanabara. O Cais no bairro Cândida de Morais também está em reformas, mas de acordo com o Superintendente da SMS, Sílvia Queiroz, a parte ambulatorial ainda está oferecendo atendimento. O serviço também deve ser concluído até o mês de junho.
A pasta orienta que os pacientes procurarem as Unidades de Pronto Atendimento nos Setores Novo Mundo ou Amendoeiras. No entanto, admite que elas estão mais distantes do que a do Parque Flamboyant. “Sei que eles são mais distantes e muitas vezes as pessoas não tem condições de pagar uma passagem de ônibus para serem atendidas nas UPAs de Goiânia”.
O superintendente da SMS completa que para adquirir remédios de forma gratuita, os moradores da Chácara do Governador podem se dirigir até o Centro de Saúde no Parque Atheneu, que é o mais próximo da região.
No Cais Cândida de Morais, a Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) está fazendo adequações de banheiros com acessibilidade, ampliação da sala de urgência, ampliação da Sala de Reanimação e ampliação do número de leitos.
O superintendente da SMS afirma que o planejamento atual da Secretaria não é transformar todos os CAIS de Goiânia em Unidades de Pronto de Atendimento, mas que isso terá que ser feito no futuro. “Esse não é o plano da Secretaria. Mas, cedo ou tarde, as unidades terão que ser ampliadas”.
Recursos federais
Ele explica que as unidades de saúde foram construídas na década de 1980 e precisam ser atualizadas para atender as normas da vigilância e trazer mais conforto aos pacientes. O superintendente ainda esclarece que nenhum Cais de Goiânia recebe aportes federais do Ministério da Saúde. Por outro lado, as UPAs, se habilitadas, podem receber recursos para investimento interno que podem variar de R$ 150 mil a R$ 400 mil, a depender do porte da unidade de saúde.
Em relação à obra parada do Cais no Setor Jardim América, Sílvio afirma que a empresa responsável pelo serviço decretou falência em maio do ano passado. A Secretaria tentou chamar a segunda colocada no processo licitatório, mas o parecer da Procuradoria Geral do Município foi desfavorável. O Cais está fechado desde 2017. O superintendente ainda afirma que a licitação encontra-se em estado avançado e que no próximo dia 14 os envelopes serão abertos. “A previsão de retomada das obras fica para o mês de março”, promete. (Especial para O Hoje)